Na última segunda-feira (15), a Justiça do Rio de Janeiro aceitou o pedido de recuperação judicial da Light S.A.(LIGT3), ajuizado em 12 de maio. Na decisão, o juiz Luiz Alberto Alves determinou que a companhia mantenha suas obrigações operacionais, cumprindo as metas de qualidade estabelecidas pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), sob pena de cassação da tutela concedida pela recuperação judicial. Atualmente, a empresa possui uma dívida de cerca de R$ 11 bilhões.
Na opinião de Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset, a Light precisará enfrentar muitos desafios durante seu processo de recuperação judicial, negociando com diversos credores e indo atrás de possíveis injeções de capital.
“A Light enfrentará diversos desafios durante seu processo de recuperação judicial, como a elaboração e evolução do plano de recuperação judicial, que deve ser aprovado pelos credores e homologado pelo juiz responsável. Além disso, a empresa precisará lidar com a negociação com detentores de dívidas e possíveis injeções de capital, que podem ser lideradas por um novo acionista”, disse Gonçalvez.
O CEO da Box Asset ainda lembra que a companhia de energia, além de uma dívida bilionária, possui graves problemas operacionais.
“Sua crise financeira não é o único problema, já que a Light também enfrenta várias questões operacionais. A empresa tem lidado com uma perda de receita devido a conexões clandestinas e fatores sociais como a origem de facções criminosas. Além disso, a companhia tem tido dificuldades em fornecer serviços em algumas áreas, fazendo com que ela não receba pagamento por 57,5% da energia que distribui”, pontuou.
De acordo com Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, o fim do processo de recuperação da Light irá depender das suas perdas não técnicas, além das negociações com seus credores e com o estado do Rio de Janeiro, onde a companhia de energia atua.
“O fim do processo de recuperação judicial da Light depende muito das perdas não técnicas, que é basicamente o furto de energia. Então, se os furtos de cabos de energia diminuirem e suas margens de lucro melhorarem, podemos ver um cenário mais otimista para a companhia”, argumentou Brasil.
“Esse processo de recuperação judicial será um pouco curioso. Eu não sei até onde a Light irá conseguir aumentar as tarifas para melhorar as margens, pois ela também depende do Estado. Do prejuízo bilionário da empresa, grande parcela é culpa de furtos, logo precisamos ver o que o Governo do Rio irá fazer para frear essa onda de roubos. É uma situação complicada para a Light”, acrescentou o fundador da Gava Investimentos.
E o processo de renovação da concessão da Light?
Na última segunda-feira (15), o diretor-presidente da Light S.A., Octavio Pereira Lopes, revelou que, após encontrar uma solução para as dívidas da empresa por meio da recuperação judicial, a companhia irá tentar a antecipação da renovação da concessão que detém no Rio de Janeiro, que vence em 2026. De acordo com Lopes, essa renovação marcará uma virada de chave nesse histórico de dívidas da Light e permitirá que a distribuidora se mostre saudável para o longo prazo.
Apesar do otimismo do executivo da Light, Gonçalvez acredita que o processo de recuperação judicial poderá dificultar a vida da companhia elétrica. O analista explica que a forma de como o processo judicial será apresentado ao órgão responsável pela concessão poderá influenciar na decisão sobre a autorização.
“A recuperação judicial da Light pode ter implicações significativas em suas atividades, especialmente em relação à renovação da concessão de fornecimento de energia elétrica, que expira em 2026. Os argumentos e soluções apresentados pela empresa durante o processo de recuperação judicial podem influenciar na decisão do órgão regulador responsável pela renovação da concessão”, relatou o CEO da Box Asset.
Segundo Daniel Nogueira, sócio do Grupo Crowe Macro, mesmo que a Light não consiga se recuperar e não renove a concessão que detém no Rio de Janeiro, outras empresas do ramo de energia elétrica poderão ocupar seu lugar, evitando um pânico generalizado.
“Mesmo que a Light não consiga se recuperar, não haveria qualquer colapso na prestação de serviços, pois suas atividades seriam distribuídas entre outras empresas. Não haveria pânico entre os clientes da Light”, explicou Nogueira.