O varejo brasileiro acendeu o sinal de alerta no início de 2023, quando gigantes do setor como Americanas (AMER3) e Amaro recorreram ao pedido de recuperação judicial para reequilibrar suas contas. Também em crise, a Marisa (AMAR3) tenta reagir para não ir pelo mesmo caminho das concorrentes.
A situação das varejistas é o reflexo de um início de ano difícil para muitas companhias no Brasil. Segundo dados do Serasa, os pedidos de recuperações judiciais nos dois primeiros meses de 2023 foram os maiores dos últimos cinco anos para o período. Em janeiro e fevereiro deste ano, 195 empresas recorreram a ferramenta, o mesmo número registrado em 2018 para o período.
“É uma conjunção de fatores, mas em especial as consequências da crise da Covid-19, da qual as empresas que não quebraram, acabaram ficando bastante endividadas, o que foi agravado pela alta na taxa de juros, que saiu 2% ao ano, para os 13,75% atuais, o maior dos últimos 7 anos, o que aumentou o custo da dívida dessas empresas, tornando os débitos quase que impagáveis, obrigando muitas a pedirem recuperação judicial ou a abrirem falência”, explicou o sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, Idean Alves, para o BP Money.
Idean acredita que a instabilidade econômica que o Brasil vive afetou em especial as varejistas, que dependem da geração de emprego e renda e juros mais baixos para sobreviver.
“Com um cenário econômico mais adverso, taxa de juros alta, população altamente endividada, inflação elevada e aumento da concorrência com players globais como Amazon, Alibaba, Mercado Livre, entre outras, acabou pegando as empresas “desprevenidas” ou em muitos casos apenas escancarando problemas que já se arrastavam há anos, como no caso de Americanas. São nesses momentos de crise que o dinheiro troca de mão e os ajustes de mercado ocorrem”, analisou.
Vida após recuperação judicial
Quem pensa que a recuperação judicial é um caminho sem volta, comete um engano. As empresas que recorrem a esta medida buscam justamente salvar os seus negócios, mas para isso é preciso um planejamento sério e cuidadoso, que exige muito estudo.
“Dentro da RJ, o próximo passo é preparar um plano de recuperação. Após o pedido, a empresa tem a suspensão das execuções de dívida e os credores não podem mais executá-la nesse período. Porém, ela tem que fazer um novo business plan, dando algumas premissas de renegociação, para se reequilibrar”, inicia o managing director da Naxentia, Vincent Baron.
“Antigamente, alguns planos eram feitos de qualquer jeito. Mas hoje a empresa, para sobreviver, tem que fazer um plano sério, que contemple não só alongamento da dívida, melhoria da eficiência operacional, corte de custos, busca por insumos mais baratos, mudança no foco de atividade, se posicionar. Isso é mais do que renegociar e alongar dívidas, isso ajuda no curto prazo, mas não resolve o problema em si”, acrescenta.
Baron ainda explica que existem alguns pontos positivos atraentes que levam empresas endividadas a buscarem essa alternativa. “A vantagem principal é a proteção da lei contra execuções, a facilidade de renegociar com credores, pela proteção. Dependendo da classe dos credores, você não precisa que todos concordem, basta ter uma maioria concordando e isso é um ponto muito positivo, comparado com o modelo de negociação um a um”, disse.
Porém, o especialista alerta que é preciso analisar o melhor a ser feito em cada caso. “Entre os malefícios, é um processo complexo que exige advogados especializados, exige lidar com o judiciário, contratar uma consultoria especializada para conduzir o processo de recuperação judicial. Ou seja, é um processo penoso e custoso que demora anos. Às vezes, dependendo do nível de endividamento, pode ser mais interessante, ao invés da recuperação judicial, tentar uma negociação direta com credores, por meio de um mecanismo chamado recuperação extra-judicial”, finalizou.