As consequências da redução da produção de petróleo mundial pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) afetará o Brasil em três frentes: preço da gasolina, inflação e possível aumento da taxa Selic (taxa básica de juros), segundo especialistas ouvidos pelo BP Money.
O anúncio do corte foi feito na noite de domingo (2) pela organização, que confirmou a diminuição da oferta do óleo em até 1,66 milhões de barris por dia até o final de 2023. O corte corresponde a 3% da produção mundial.
“Essa redução pode voltar a pressionar, não só no Brasil, mas no mundo, o preço dos combustíveis, assim como a inflação, e pode trazer mais problema para os Bancos Centrais, que vão precisar manter os juros elevados no patamar atual por mais tempo”. explicou o sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, Idean Alves.
Para o Brasil, especificamente, o aumento do preço do petróleo pode trazer uma reação em cadeia, não só dos combustíveis, mas em especial da logística. Isso porque, segundo Alves, boa parte do fornecimento brasileiro é feito via rodovias, ou seja, diversos produtos, como vestuário e alimentos, dependem do transporte. Esse transporte, movido à combustíveis, pode encarecer o frete e, consequentemente, trazer de volta preços maiores às prateleiras.
O que é a OPEP?
A OPEP+ é um grupo composto por 23 países produtores e exportadores de petróleo. Já a OPEP (sem o +), é o centro desse grupo, onde estão 13 membros principais de países do Oriente Médio e da África, entre eles: Argélia, Angola, Guiné Equatorial, Gabão, Irão, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, República do Congo, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Venezuela (exceção por ser da América do Sul).
A OPEP foi formada em 1960 como um cartel e tem como função se reunir regularmente para decidir quanto petróleo bruto vender no mercado mundial, com o objetivo de controlar a oferta mundial do óleo e seu preço. Já a OPEP+ surgiu em 2016, quando os preços do petróleo estavam baixos e a OPEP agregou outros dez produtores do óleo, incluindo a Rússia, que produz mais de 10 milhões de barris por dia.
Atualmente, as nações da OPEP produzem cerca de 30% do petróleo bruto do mundo, sendo que a Arábia Saudita é o maior produtor individual de petróleo da organização, produzindo mais de 10 milhões de barris por dia. Juntas, as nações da OPEP+ produzem cerca de 40% de todo o petróleo bruto do mundo.
Os preços dos combustíveis vão aumentar?
Como explica Alves, a mudança de preço não será imediata, porque muitos fornecedores e países têm estoques a preços antigos, os quais mais baratos. Mas à medida que esse estoque for esgotando, o novo preço chegará ao bolso dos consumidores.
Aqui no Brasil, o preço de formação do petróleo na Petrobras (PETR3; PETR4) é regido, entre outras coisas (cotação do dólar e impostos) pelo PPI (Preços de Paridade de Importação). Isso significa que o preço do barril é um dos fatores que a companhia leva em conta ao reajustar os preços da gasolina, diesel, gás natural e gás de cozinha (GLP).
“Esse movimento faz o petróleo e seus derivados subirem no mundo inteiro, isso porque o preço de formação é realizado internacionalmente. Essa redução da produção tende a aumentar o preço internacional do barril e, consequentemente, estimular o país a produzir mais petróleo. Em relação à inflação, teremos um efeito direto nas bombas de combustíveis, pois o preço que a Petrobras segue o internacional”, comentou o especialista em commodities na WIT Invest, Ricardo Carneiro.
“Por conta da paridade internacional, eles acabam tendo que dançar um pouco de acordo com as regras do jogo. Alguns, como a Petrobras, tem reservas para não repassar 100% o preço, mas como qualquer empresa privada, não tem como represar o preço por muito tempo, e em algum momento vai ter que repassar na íntegra também”, completou Alves.
Com a decisão da OPEP, os contratos futuros de petróleo registraram alta significativa na manhã de segunda-feira (3), chegando a subir mais de 8%. Por volta das 9h (de Brasília), o petróleo Brent – referência mundial – para junho subia 6,51% a US$ 85,10 e o petróleo WTI – referência americana – tinha alta de 6,62% a US$ 80,68.
Por que a OPEP cortou a produção de petróleo?
Os especialistas do mercado financeiro explicam que o motivo da OPEP ter realizado os cortes foi para pautar a estabilidade do mercado. Segundo Carneiro, o barril teve uma queda acentuada nos últimos meses e a organização foi obrigada a agir para tentar equilibrar o preço internacional do barril em um nível acima de US$ 70.
Alves também concorda com essa visão: “A OPEP tem literalmente a produção e o preço na mão, e para eles não é tão interessante deixar um preço muito baixo, principalmente em um momento de boa demanda hoje. Por isso, fechar um pouco a torneira, para eles, é interessante, a fim de preservar o preço próximo ao patamar atual”, disse, acrescentando que os árabes, vozes ativas na OPEP, foram grandes prejudicados pela crise bancária dos EUA e da Europa, fazendo o aumento ser necessário para compensar perdas financeiras.
Somado a isso, há uma preocupação com a diminuição da demanda, por conta da desaceleração da atividade mundial, em meio a alta de juros nos EUA e Europa. Com um enfraquecimento na demanda, os preços poderiam ceder e baixar. Sendo assim, o movimento da OPEP+ também tenta se precaver de possíveis recessões.