Gestores da RPS garantem: "China é a grande convicção da casa"

Com um destaque para o fundo Long Bias, a gestora completa, em 2023, dez anos de existência

De reuniões na mesa de um restaurante de frango a R$ 2,2 bilhões sob gestão, a gestora RPS Capital foi fundada em 2013 e, após dez anos, se mantém firme na filosofia de gestão que olha a renda fixa e variável sob um prisma Top Down. Justamente, então, com base em indicadores macroeconômicos, os gestores dizem que a aposta para 2023 é a China.

“Temos uma leitura macro do que está acontecendo com os diversos ativos, quais são as grandes tendências e como isso se reflete em ação. China é a grande convicção da casa, tanto nos fundos Total Return, quanto nos fundos Long Only e Bias, é o que a gente vê mais claro e com mais espaço para andar”, afirmou o gestor do fundo Long Bias da RPS Capital André Komatsu.

Segundo ele, a RPS está “evitando empresas alavancadas”, e aposta em um perfil mais defensivo, optando por estar alocada fora do Brasil, quando possível. “Como foi um exemplo, de certo modo, a própria Americanas (AMER3). Com juros a 14%, nesse nível, não deixa muita gordura. O cara tem que operar no limite e aí quando opera no limite acaba aparecendo esse tipo de problema”, explicou Komatsu.

Com dois fundos multimercados, um Long Only, um Long Bias e dois de previdência (um de ações e um de multimercado), a RPS Capital segue um viés ultrafundamentalista. A união da variedade de produtos, atrelada à estratégias de renda fixa e variável, fez com que, em 2022, a casa apresentasse resultados positivos.

“É inegável que chama muita atenção como que, nos últimos 12 meses, a RPS foi muito bem”, disse o executivo de relação com investidores (R.I) e sócio da RPS Capital, Luiz Aires.

De acordo com o relatório da plataforma de análise do mercado financeiro, Quantum Axis, o fundo Long Bias da gestora foi destaque. Ele ficou, no ano passado, na frente de fundos como SPX Falcon, Occan Long Biased, Squadra Long Biased, Absolute Pace Long Biased e Genoa Capital Arpa, ocupando o terceiro lugar de melhor fundo com 22,3% de retorno, acima do índice de referência, IPCA + Yield IMA-B, que apresentou retorno de 12,4% em 2022.

Outro diferencial do fundo em sua trajetória foi uma maior proteção em momentos de estresse do mercado, como a pandemia de Covid e o primeiro semestre de 2022. Ainda segundo dados da Quantum Axis, entre janeiro de 2019 e julho de 2022, enquanto o Ibovespa apresentou volatilidade média de 23%, o RPS Long Bias registrou 16%. “Como filosofia da casa e especificamente do produto (Long Bias), a gente tem um viés de proteção muito forte. A relação risco retorno está sendo super favorável”, comentou Aires.

Confira a entrevista exclusiva do BP Money com a RPS Capital

Em 2023, faz dez anos desde que vocês nasceram. Conta um pouquinho sobre como foi a evolução de vocês.

Luiz Aires – A gente começou em uma salinha de 40 m² lá na Vila Olímpia. Era um banheiro para cinco pessoas e nem sala tinha, a gente fazia reunião na frangaria. Tivemos um orgulho muito grande, ao longo desses dez anos, de passar em todos os processos de diligência do mercado brasileiro.

Hoje, independente do produto em questão, todas as instituições financeiras têm acesso a algum produto da RPS, seja previdência ou Long Bias, Short ou Only. No Long Bias, temos muito orgulho também de ter nos configurado, nos últimos 24 meses, como top primeiro quartil da indústria em termos de performance, enquanto grande parte da indústria teve um resultado negativo.

O Luiz comentou que neste mês faz quatro anos do fundo Long Bias, que teve destaque no último ano. Como ele funciona?

André Komatsu – Long Bias é um produto que veio da demanda dos clientes e, depois, a gente viu que fazia sentido, dentro do mundo de equities, termos outros mandatos. Sempre fomos muito focados ali no Long Short, que é o fundo Total Rurn, o carro-chefe da casa. 

Mas tem clientes com perfis diferentes, que não estão focados no retorno absoluto, olhando especificamente para o CDI. A gente identificou bastante clientes que querem ter a gestão da RPS, mas só que com um produto com um pouco mais de volatilidade, um pouco mais atrelado à bolsa mesmo. E aí surgiu o Long Bias, que dividimos em quatro caixinhas:

1- Direcional: a gente gasta bastante tempo e risco oscilando a exposição direcional, ele tem um viés comprado, mas oscila bastante entre estar 30% comprado com um perfil defensivo, ou estar 80% comprado com um perfil de alto beta;
2 – Stock picking: que é outra caixa relevante, onde a gente escolhe papéis com uma visão de médio e longo prazo e que tem uma trigger específico da empresa;
3 – Macro: onde a gente implementa os hedges, se a gente está muito exposto a uma variável macroeconômico, como aos juros, a gente faz o próprio hedge via o próprio juros, ou eventualmente via o dólar, então tem uma visão macro;
4 – Trading: que temos mais liberdade, onde a gente pode operar com visão a curto prazo, uma visão bem oportunista. Tem algum papel onde a gente especificamente acha que pode ter um trigger de curto prazo, aí a gente vai lá e opera esse papel.

O Long Bias é um produto com bastante liberdade dentro da casa. Nesse perfil de comprado, a gente desenvolveu esse desenho que nós acreditamos ser o melhor. Mas não é porque a gente tem o viés de comprado que a gente só está interessado em bater bolsa. Se a bolsa estiver caindo 20%, a gente não vai estar feliz em estar caindo 5% ou 10%.

2022 foi um ano maluco, onde a bolsa chegou a subir 27%, em um dado momento. Em outro, chegou a cair 10% e fechou praticamente zerado. Mas a gente conseguiu fechar com 22% para frente, basicamente por causa disso. A gente conseguiu capturar quando a bolsa estava muito descontada, e tivemos a liberdade de estar fora do mercado, felizmente no momento certo. Teve meses que a bolsa caiu 11% e a gente caiu 1%, é algo que reflete bem nosso objetivo dentro deste produto.

Há um cenário não tão bom em 2023 para os EUA, com a taxa de juros, a inflação e o desemprego subindo. Como vocês estão visualizando os EUA para este ano?

André Komatsu – Da mesma forma que a gente visualizou em 2022. Os EUA ainda está em um período muito tático, de um processo de aperto monetário. Também há esse receio de recessão nos EUA que seria muito ruim para as ações. O que pode acontecer mais para o segundo semestre, eventualmente, é a inflação chegar ao pico e o mercado assumir que o aperto monetário acabou. Nesse caso, pode haver uma tendência positiva grande para as ações e a gente participaria desse momento. Então os EUA ainda seguem em uma tendência parecida com o que veio no final de 2022.

E o Brasil?
 
André Komatsu – Brasil e EUA, a gente vê mais com movimentos táticos, quando o mercado exagera no pessimismo, é uma oportunidade de comprar uns papéis que a gente gosta mais. Até na época da eleição, todo mundo achou que ia dar Lula após o primeiro turno, porque realmente os números mostravam isso, mas o mercado foi para o extremo e falou: “É certeza que vai dar Lula”. A gente aproveitou esse momento para comprar um pouco da possibilidade de Bolsonaro se reeleger. Ao longo do caminho, Bolsonaro assumiu 1%, que estava totalmente dentro da margem de erro, mas o mercado saiu desesperado comprando e a gente se beneficiou disso, colocou no bolso e foi para a próxima.

O grande acerto foi não acreditar em nenhuma grande narrativa do mercado. Em momentos em que a narrativa estava mais consolidada, era o momento que a gente saía fora, ou quando estava para o pessimismo, era a hora da gente fazer uma aposta ao contrário. E tudo isso usando bastante opção, que é uma característica do fundo. A gente usa muita estrutura de opção dentro do Long Bias e isso tem ajudado a gente a tomar riscos que não são óbvios.

Vamos falar sobre a China ser a grande convicção da casa. Como está a exposição de vocês lá e por que essa estratégia?

André Komatsu – O mercado inteiro assumiu que não tinha jeito mais, que eles iam ficar fechados, que não ia ter estímulo. Eles exageraram para um outro extremo e colocaram todas as commodities lá embaixo, e aí a gente aproveitou, já que estava tendo alguns sinais de reabertura, apostamos nisso.

China pode ser expressa de várias formas, desde ações locais ou ações relacionadas à China, como a Vale, até a commodity física, que está comprada em petróleo ou minério. E isso varia, em certos momentos a gente está mais comprado em ações chinesas, ou ações relacionadas e, às vezes, estamos em mais ações em commodities. 

Em 2022, houve um destaque positivo para a posição comprada na Arcos Dorados e posições vendidas em companhias de e-commerce e de vestuário. Também contribuíram para o fundo, a posição comprada em petróleo via 3R Petroleum (RRRP3) e Petrorecôncavo (RECV3). Pode explicar mais o porquê dessas exposições?

André Komatsu – A Arcos é uma empresa que se encaixa bem nesses casos que são poucos alavancados e que estão em um segmento bem resiliente, que é o de alimentação fora de casa. Ela surfou muito bem a pandemia, porque o delivery bombou, e foram linhas de negócio que continuaram. Então foi uma empresa que saiu melhor da pandemia do que entrou, porque antes a parte online era muito pequena, praticamente não existia, e virou uma área grande. E ela, sendo pouco alavancada, não é tão sensível assim a atividade econômica.

Sobre e-commerce, a gente estava negativo basicamente por causa de outlook para consumo, que a gente via negativamente, então a gente ainda acha que o consumo é para baixo no Brasil nos próximos trimestres. O que mudou consideravelmente a nossa visão é que, com as eventuais dificuldades que a Americanas (AMER3) está enfrentando, isso muda completamente o cenário competitivo do setor e passa a ser um setor que a gente gosta de ter exposição, porque vai ter uma consolidação. A consolidação mais óbvia é do Mercado Livre (MELI34), que a gente tem uma posição relevante já há vários meses. E, mais recentemente, a Magazine Luiza (MGLU3) também, porque ela pode participar dessa consolidação, então esse setor mudou um pouco o driver.

Em petróleo, dentro desse hall da China, que é o ponto da casa, a gente teve vários papéis, desde mineradora, siderúrgicas, empresas da China mesmo, empresas de tecnologia chinesa e etc. O ativo que a gente viu que ficou mais para trás foi o petróleo. Então conforme os outros ativos foram andando, a gente foi direcionando o nosso risco de China para o petróleo e agora acho que é nossa principal posição de commodities da China, porque, basicamente, havendo a reabertura chinesa, a mobilidade vai aumentar muito e, inevitavelmente, vai ter uma demanda maior de petróleo.

Do lado negativo, o principal destaque foi Sabesp (SBSP3), uma posição relevante para o fundo e que performou mal devido ano passado. Por que? Vocês pensam em continuar nela?

André Komatsu – Sabesp (SBSP3) é um case que a gestora vai continuar carregando, não foi muito bom nos últimos meses, mas ela tem um valuation muito barato e, agora que o Tarcísio fez declarações de que ele deve começar os estudos para privatização, a gente entende que, tendo um management razoavelmente ok, já tem bastante upside, se tiver privatização aí é muito mais.