Em 11 de janeiro, a Americanas (AMER3) anunciou ter encontrado “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões, fato que horrorizou o mercado financeiro brasileiro. Puxadas pela queda da varejista, suas concorrentes diretas, Magalu e Via, também viram os papéis caírem no fatídico dia. O Magazine Luiza (MGLU3), entretanto, tem demonstrado recuperação, e a Via (VIIA3) deve seguir o mesmo caminho, já que as operações dessas empresas ganharão mais espaço para crescer.
“Com o enfraquecimento das Americanas, sobra market share no mercado. Quando isso acontece, há a possibilidade de um aumento de preços, pois há um competidor a menos. Então existe a possibilidade da Via e da Magalu entenderem juntas que podem vender por preços maiores, gerando uma saúde financeira melhor e aumentando suas margens de lucro”, explicou o economista Rica Mello ao BP Money.
Sendo assim, o anúncio do rombo bilionário da Americanas configura uma “boa oportunidade” para as concorrentes da varejista expandirem seus negócios, com a estagnação da companhia que entrou com um pedido de Recuperação Judicial na última quinta-feira (19).
Além do rombo bilionário – que primeiramente era de R$ 20 bilhões – e agora é de R$ 43 bilhões, a companhia noticiou, na semana passada, que seu CEO, Sergio Rial, havia renunciado.
Desde o anúncio do rombo bilionário, a Americanas já perdeu mais de R$ 9 bilhões em valor de mercado. Além dos problemas contábeis e judiciais, a varejista também enfrenta problemas com seus fornecedores, que suspenderam as entregas por tempo indeterminado.
Ricardo Rodil, especialista no mercado de capitais do Grupo Crowe Macro, partilha da mesma visão de Mello e explica que caso a Americanas precise fechar lojas e demitir funcionários para se reorganizar financeiramente, as outras concorrentes irão se beneficiar dessa lacuna deixada pela varejista.
“Se parte da reorganização da Americanas se der via fechamento de pontos de venda, parece evidente que as concorrentes vão cobrir essa diminuição da oferta, beneficiando-se”, disse Rodil.
O analista, por outro lado, entende que as ações dessas companhias de varejo podem ser impactadas negativamente. Rodil acredita que o rombo bilionário da Americanas fez com que o público-geral ficasse mais cauteloso com as ações do setor varejista.
“Muitos investidores institucionais já tinham uma certa ojeriza ao investimento no varejo de um modo geral, dada a pequena margem de manobra representada por baixos índices de rentabilidade. Para o público em geral, o impacto das notícias da semana passada pode afugentá-lo desse tipo de investimentos e direcioná-lo para setores mais tradicionais”, afirmou o especialista do Grupo Crowe Macro.
A Recuperação Judicial da Americanas afetará seus concorrentes?
A Americanas (AMER3) entrou com pedido de recuperação judicial na última quinta-feira (19). No documento, a varejista revelou que suas dívidas somam R$ 43 bilhões e envolvem credores financeiros, trabalhistas e fornecedores. É o quarto maior caso já registrado no País, perdendo apenas para as recuperações judiciais da Odebrecht (R$ 80 bilhões), Oi (R$ 65 bilhões) e Samarco (R$ 65 bilhões).
Na visão de Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, a recuperação judicial da Americanas não irá afetar significativamente suas concorrentes, visto que o pedido já era esperado pelo mercado financeiro.
“A recuperação judicial da Americanas não irá afetar o setor de varejo, pois isso já era uma notícia prevista no mercado. Inclusive, se a Americanas pedir recuperação judicial, pode até ser bom para as varejistas”, disse.
José Augusto Gaspar Ruas, economista e coordenador do curso de Ciências Econômicas da FACAMP, explica que, ao pedir recuperação judicial, há uma grande chance da Americanas se desfazer dos seus ativos, criando oportunidades para que outras empresas de varejo cresçam e se solidifiquem financeiramente.
“Na medida em que a Americanas entra com um pedido de recuperação judicial, certamente uma das das possibilidades é se desfazer de ativos. Então, ao se desfazer de ativos, a Americanas abre a possibilidade de que seus concorrentes os adquiram”, disse Ruas.
“É importante lembrar que a manutenção do Bolsa Família em R$ 600 irá potencializar o consumo, algo positivo para essas empresas de varejo. Logo, isso abre espaço para que os grupos concorrentes da Americanas se aproveitem da incapacidade da Americanas de expandir seus negócios”, complementou o economista da FACAMP.