Em 2022, a Petrobras (PETR3;PETR4) fez a alegria dos investidores ao distribuir dividendos gordos ao longo do ano. No entanto, em novembro, após a estatal anunciar proventos no valor de R$ 3,3489, o presidente recém eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionou o valor dos dividendos e buscou travar o pagamento antecipado desses ativos, afirmando que a petroleira deveria ter um papel social.
“Não concordamos com essa política que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece acionistas. A Petrobras tem de servir ao povo brasileiro”, disse, na época, Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT e aliada de Lula.
Segundo analistas consultados pelo BP Money, o governo Lula, pelos próximos quatro anos, deverá optar por estratégias governamentais que irão diminuir inevitavelmente o valor dos dividendos da Petrobras.
Dividendos da Petrobras poderão cair no governo Lula
Durante a campanha presidencial, Lula prometeu aos seus apoiadores que, caso eleito pela terceira vez, iria retomar os investimentos em refino e de contratações junto à indústria naval brasileira. Na visão de Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, se o petista cumprir suas promessas de campanha, ele interferirá negativamente na política de dividendos da Petrobras.
“Os dividendos da Petrobras poderão ser reduzidos, pois o foco do novo governo será em usar a companhia para atender as necessidades da população. Eles também pretendem aumentar os investimentos na ampliação da capacidade de refino de petróleo, em projetos de fontes renováveis e encomendas à indústria naval nacional, o que deve diminuir o payout da Petrobras e o seu dividend yield consequentemente”, explicou.
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, afirma que os dividendos da Petrobras serão bem menores já em 2023, primeiro ano do governo petista. Entretanto, o especialista crê que essa diminuição do valor dos proventos será ocasionada pelo valor do petróleo Brent, não por futuras ações do presidente Lula.
“Um dos fatores que levou a Petrobras a ser a maior pagadora de dividendos da B3 em 2022 foram os preços elevados do petróleo e a política de paridade dos combustíveis. O fundamento deve se manter para 2023, mas em menor intensidade porque os preços do petróleo devem continuar altos, porém abaixo do preço médio de 2022. Assim, os lucros devem cair na mesma proporção”, disse.
Conde também relatou que um aumento do endividamento da estatal, algo que atrapalharia a distribuição de dividendos, é improvável em 2023, mas uma incógnita em 2024, visto que o governo petista deve apresentar um plano de investimentos que engloba novas refinarias.
“O endividamento deve continuar baixo porque a geração de caixa está bem acima dos investimentos programados. A dúvida é mais para 2024 onde um plano de investimentos maior englobando novas refinarias e energias renováveis deve entrar em vigor pela administração do terceiro governo do Lula. A Petrobras deve reduzir o payout de cerca de 90%, em 2022, para 25%, em 2023”, completou.
Ainda vale a pena investir na Petrobras (PTR4)?
Com possíveis mudanças à vista, que vão de investimentos em refino a contratações junto à indústria naval brasileira, sem falar da possibilidade do fim do PPI (Preço de Paridade de Importação), os analistas consultados pelo BP Money não acreditam que a Petrobras continuará sendo um bom papel para se investir.
Conde afirma que, como os dividendos da estatal serão menores neste ano do que potenciais quedas no preço dos papéis, não vale a pena ter a ação em 2023. Além disso, o especialista ressalta que a possibilidade de Jean-Paul Prates, ex-senador petista, assumir a presidência da estatal é algo negativo para a companhia.
“Não vale a pena ter a ação em 2023 porque os dividendos serão bem menores do que potenciais quedas de preços das ações. Além disso, com conselheiros e diretores da Petrobras alinhados a políticos, o risco de investimentos com retorno negativo e aumento do endividamento é alto. Fora que, Jean Paul Prates é político e ficaria sub judice”, relatou.
Na visão de Sidney Lima, analista da Top Gain, se o investidor estiver focado em comprar papéis de empresas que distribuem dividendos gordos, a Petrobras não é mais uma boa opção.
“Se o seu objetivo como investidor está relacionado diretamente e exclusivamente à distribuição de dividendos, a Petrobras não é uma boa opção neste cenário, pois o governo Lula vai mudar tanto a frequência quanto a proporção de distribuição dos dividendos”, explicou.
“Uma mudança da diretoria, com a colocação de Jean-Paul Prates e possível troca de parte do conselho, tende a alterar esse nível de distribuição consideravelmente”, completou.
Por outro lado, Lima reitera que, caso o investidor busque uma valorização de longo prazo, o papel da estatal pode ser um ótimo investimento.
“Se estivermos falando de um investimento de longo prazo, com parâmetros de valorização, podemos cogitar a Petrobras como uma boa opção. Se nós olharmos para os parâmetros fundamentalistas, como questão de lucratividade, a Petrobras está com um dos P/L, que é a relação do preço da ação pelo lucro, mais baixos de todos os papéis dentro do índice Bovespa. Então é uma excelente oportunidade para quem pensa numa valorização de longo prazo”, afirmou.