Estratégias focadas em dividendos ganharam bastante popularidade em 2022. Fortemente defendidas e disseminadas pelo maior investidor brasileiro, Luiz Barsi, muitos brasileiros começaram a se entusiasmar pelos papéis dos setores que pagam as remunerações mais gordas.
Pensando nisso, neste final de ano, o BP Money conversou com especialistas para saber quais serão os setores que irão distribuir os maiores dividendos em 2023.
Quais são os setores que pagarão os maiores dividendos?
Historicamente, o setor elétrico e o bancário sempre foram reconhecidos como os melhores pagadores de dividendos. Em 2022, mantendo a reputação entre os investidores, empresas como Copel (CPLE6), Taesa (TAEE11) e Banco do Brasil (BBAS3) se destacaram mais uma vez por seus dividendos gordos.
Para 2023, Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, acredita que, além dos setores de energia e bancário, as empresas de rodovias, seguradoras e commodities também distribuirão proventos generosos aos seus acionistas.
“Acredito que, em 2023, os setores elétricos, de saneamento básico, concessões de rodovias, o setor bancário, de telefonia, seguradoras e as empresas de commodities devem ter um ano forte de pagamento de dividendos caso a economia global não desacelere”, afirmou.
Prevendo que a taxa Selic continuará elevada em 2023, o economista Diego Hernandez disse que os setores resilientes aos juros elevados podem ser as melhores opções para aqueles que buscam receber dividendos elevados.
“Os setores que performam bem com juros elevados irão se destacar em 2023 como maiores pagadores de dividendos, ou seja, basicamente setores que não tem uma sensibilidade tão grande a essa elevação de juros. O setor de energia elétrica é um setor que tende a pagar um dividendo interessante em um cenário de juros elevados, por exemplo”, explicou.
Na visão de Davi Ramos, CEO e sócio-fundador da Vante Invest, os setores com forte geração de caixa e, sobretudo, resilientes, irão despontar como os melhores pagadores de dividendos em 2023.
“Setores de forte geração de caixa, resiliência e boa previsibilidade de resultados irão se destacar em 2023. Eu vejo com bons olhos os setores elétrico, financeiro, papel e celulose, mineração e siderurgia”, explanou.
Quais empresas pagarão os maiores dividendos?
Dentre as empresas que podem despontar no próximo ano como as melhores pagadoras de proventos, Hernandez ressalta três companhias: Taesa, Itaú e Bradesco (BBDC4). Curiosamente, tais empresas fazem parte do ranking das companhias brasileiras que pagaram os maiores dividendos de 2022.
“Eu acredito que, na parte de energia elétrica, a Taesa continuará pagando um dividendo expressivo. Como é uma empresa que está na transmissão de energia, ela não está nem na ponta de geração, que é uma ponta que sofre com risco hídrico, e nem na ponta de distribuição, que sofre também com risco de crédito”, afirmou.
“No setor bancário, eu acredito muito no Itaú, tanto Itaúsa quanto o ITUB4. Eu creio na boa geração de dividendo dado que grande parte dos resultados da companhia foram reinvestidos tanto em tecnologia quanto em aquisição. Outro banco é o Banco Bradesco, mesmo sofrendo bastante no terceiro trimestre de 2023 com um aumento de inadimplência. Se o banco melhorar essa questão, ele também tende a performar melhor pro investidor”, completou.
Para 2023, Saulo Abouchedid, professor de Macroeconomia e Economia Monetária na FACAMP, destaca as ações da mineradora Vale, que apresentou um dividend yield (rendimento de dividendo) de quase 5% em 2022.
“A Vale paga historicamente dividendos elevados em comparação ao preço da ação e também empresas no setor de metalurgia. Acho que esse padrão não vai se alterar para 2023”, disse.
Já Alves acredita que companhias como Isa Cteep, Bradesco e Klabin irão distribuir bons proventos em 2023.
“Boa parte do setor elétrico deve pagar bons dividendos como Copel, Isa Cteep, e Engie. Além delas, Itaú e Bradesco do setor bancário, Tim, da área de telefonia, e Klabin, representando commodities, podem ser ótimas opções”, explanou.
Mudança na Lei das Estatais irá interferir nos proventos?
A Câmara dos Deputados aprovou em 13 de dezembro um projeto que muda a Lei das Estatais, reduzindo o período mínimo de desvinculação da estrutura decisória de partido político para que o indicado possa tomar posse em cargo de diretoria ou de conselho de administração de estatal. A decisão abriu caminho para que o ex-ministro Aloizio Mercadante pudesse assumir a presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
De acordo com os analistas consultados pelo BP Money, tal alteração poderá interferir negativamente na distribuição de proventos das estatais. Justamente em 2022, a Petrobras (PETR3;PETR4), por exemplo, chegou a conquistar o título de maior pagadora de dividendos do mundo, superando empresas como Nestlé, Rio Tinto, China Mobile, Ecopetrol e Microsoft.
“Com a mudança, governo deve privilegiar medidas sociais, controle da inflação via ajuste de preços, e crédito barato, tudo isso em detrimento da margem de lucro dessas empresas e, consequentemente, contra o maior pagamento dos dividendos, pois literalmente alguém tem que pagar a conta, e nesse caso provavelmente será o investidor minoritário”, explicou Alves.
Abouchedid acredita que a mudança recente na legislação deverá interferir na distribuição de proventos no médio prazo. Com Lula indicando aliados políticos, ele deverá promover algumas mudanças nas estratégias dessas companhias governamentais.
“Em relação às estatais, eu acho que, em 2023, no médio prazo, a tendência é que haja uma mudança de estratégia, que envolve a distribuição de dividendos. Então a Petrobras certamente vai diminuir a distribuição de dividendos nos próximos anos. Porém isso não significa que a petroleira vai deixar de ser uma empresa que distribui um volume de dividendos alto”, disse.
Na visão de Ramos, a Petrobras pode ser a estatal mais impactada com essa mudança. Com uma interferência política, há a possibilidade da companhia realizar operações pouco rentáveis, afetando a distribuição de dividendos.
“É possível que venha a impactar os dividendos, uma vez que indicações políticas e sem critério técnico podem comprometer a geração de caixa da empresa e com isso comprometer o pagamento de dividendos. Para a Petrobras, esse risco é mais relevante porque acordos políticos podem levar a empresa a fazer investimentos pouco rentáveis e talvez causar prejuízo”, explicou.
“Para o Banco do Brasil essa possibilidade também existe, mas o nível regulatório do setor bancário brasileiro e a composição da carteira de crédito do banco, majoritariamente composta por funcionários públicos e agronegócio, podem servir de sustentação para a rentabilidade do banco”, completou.