Na última semana, a B3 (B3SA3) divulgou a segunda prévia de composição do principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, para 2023. O destaque, no entanto, não ficou para as ações que compõem a lista, mas sim para as que ficaram de fora, como no caso do IRB Brasil (IRBR3). Mas, o que acontece com os ativos que foram excluídos do índice? Analistas consultados pelo BP Money explicaram que a movimentação pode afetar o preço das ações e até fazer com que a empresa feche capital.
Ao menos a curto prazo, a exclusão de um ativo do Ibovespa pode afetar o preço do ativo e a sua liquidez. Segundo Lucas Dezordi, economista-chefe da TM3 Capital e professor da PUC-PR, boa parte dos grandes investidores institucionais, estrangeiros e fundos passivos, têm por regra investir em companhias que estejam dentro do índice. “Ao ser realizada uma exclusão, essa companhia perde grande parte desse fluxo, e naturalmente, sofre um impacto em sua liquidez”, apontou.
“Muitos fundos e gestores fazem carteiras que tentam seguir o índice Bovespa, e aí precisam comprar ativos que estão listados. Quando a B3 retira essa ação, o gestor precisa tirar esse ativo da carteira, o que gera um fluxo de venda maior do que o normal e pode fazer com que o preço dessa ação caia”, explicou Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester Investimentos.
Para Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, a exclusão de uma ação do Ibovespa pode até fazer com que uma empresa feche o capital. O que não quer dizer, necessariamente, que a empresa está “mal das pernas”.
Na visão do analista, o fechamento do capital pode ocorrer por três motivos: as ações estão cotadas em um valor menor do que valem; a empresa não precisa mais de capital de fora; ou a companhia tem um forte potencial de crescimento por já estar consolidada.
Dessa forma, a exclusão do índice não está relacionada à qualidade de uma empresa. Por isso, Daniel Abrahão, especialista em mercado financeiro e assessor na iHUB Investimentos, esclareceu que o movimento de “retirada” de uma ação do índice não deve ser tomado como referência para o investidor.
Noernberg concordou. Segundo ele, há uma diferença entre a questão fundamentalista das ações e a participação no índice. “Uma empresa pode ser super saudável, pagar bons dividendos, e mesmo assim não fazer parte do Ibovespa. E de fato isso acontece bastante”, ressaltou.
O caso do IRB Brasil
São muitos os critérios que podem excluir uma ação do Ibovespa. No caso do IRB, o preço dos ativos, que estão sendo negociados abaixo de R$ 1 desde o final de outubro, foi o ponto principal. Com isso, as ações correm o risco de serem classificadas como penny stocks, ações com preço médio abaixo de R$ 1 no trimestre. “Importante salientar que ações dessa empresa amargam queda superior a 96% em 3 anos”, apontou Abrahão.
A B3 possui uma restrição à negociação de ações na casas dos centavos, ou seja, as penny stocks. Desde 2015, a Bolsa entende que empresas não podem ter preço de fechamento de suas ações abaixo de R$ 1 por 30 pregões consecutivos. A regra estabeleceu prazos para que as empresas com ações classificadas como penny stocks revertam a situação, e o IRB se move para agrupar os ativos, no intuito de aumentar a cotação unitária dos papéis.
Segundo Marco Noernberg, a restrição às penny stocks acontece porque uma ação abaixo de R$ 1 pode apresentar variações irreais. A título de exemplo, uma ação que vale R$ 0,50 pode variar apenas R$ 0,01 e ter uma alta de 2%. “A B3 quer evitar que tenha algum tipo de manipulação em alguma ação dentro do índice e que a o papel tenha uma variação artifical”, disse.
As ações do IRB, cotadas abaixo de R$ 1, já chegaram a valer mais de R$ 40, em janeiro de 2020. Uma das estrelas da Bolsa, as ações da resseguradora passaram a cair fortemente em meio a polêmicas que rodeavam a companhia, como lucros improváveis, renúncia de diretores, investigações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e até fraude.
Na quarta-feira (21), os papéis da resseguradora fecharam pela primeira vez desde outubro acima de R$ 1, com notícias de que a companhia teve lucro líquido de R$ 6,4 milhões em outubro. No entanto, nos primeiros 10 meses de 2022, no entanto, o IRB acumula prejuízo líquido de R$ 585,2 milhões, ante um prejuízo líquido de R$ 396,6 milhões no mesmo período de 2021.