Política

Selic: expectativa do mercado é sobre ata do Copom; entenda

Consenso considera improvável algo diferente de uma manutenção da Selic em 13,75% ao ano na reunião de quarta-feira (7)

A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) teve início na última terça-feira (6) e será fechada nesta quarta-feira (7). As expectativas do mercado são de manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75%. A ata do Copom, que deve sair na semana seguinte, portanto, é o fator que mais cria ansiedade no mercado, já que mostrará qual deve ser a postura do Banco Central para o ano de 2023. 

De acordo com Ana Paula Carvalho, planejadora financeira CFP e sócia da AVG Capital, o Copom deverá fazer um comunicado, após a reunião, demonstrando uma postura vigilante e alerta ao movimento do mercado, que tem se mostrado muito avesso à política fiscal expansionista proposta pelo governo eleito. 

“Com gastos maiores, haverá dificuldades em termos cortes de juros, com o risco de uma Selic inalterada no próximo ano e até mesmo um eventual ciclo de alta caso haja uma deterioração fiscal mais forte”, disse Carvalho.

Carvalho explicou que uma política fiscal expansionista poderia pressionar a inflação, que colocaria “de lado” uma rigidez maior nos gastos do governo e, consequentemente, pressionaria os níveis dos preços atuais.

Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, o comunicado do Copom, após a definição da Selic, deve reiterar tudo o que o BC vinha justificando nas últimas reuniões, com a adição de um fiscal mais comprometido e, consequentemente, aumento do risco Brasil, que deve ser “equilibrado” via taxa de juros.

“O tom do comunicado e da ata devem vir bem duros, ressaltando além das variáveis exógenas do mercado internacional como guerra entre Rússia e Ucrânia, que afeta petróleo brent e grãos, a política de covid zero, somada a estímulos ao setor imobiliário, e protestos na China, mais juros elevados nos EUA vão agregar as preocupações do Comitê sobre as próximas reuniões”, afirmou Alves.

O ciclo recente de alta da Selic começou em março de 2021 e só arrefeceu em agosto deste ano, após 12 altas consecutivas. Desde o início da alta, a Selic saiu do patamar de 2% ao ano para 13,75%. Este é o maior patamar da taxa desde 2016, quando começou o ano em 14%, e também o mais longo ciclo de alta desde 1999. 

O que esperar para a Selic? 

De acordo com Hudson Bessa, professor da Fipecafi nas disciplinas de Estratégias Financeiras e Finanças Corporativas, a previsão para quarta-feira é de que se mantenha a taxa Selic no patamar atual.

“É uma previsão bastante sólida. O ano termina em 13,75%, mas as pressões por conta do risco fiscal maior são de que a taxa para o final do ano que vem termine em um patamar maior do que os 11%, que fazia parte de um grande consenso do mercado. Agora a Selic para o ano que vem está indo para 11,75%, 12,25%. Alguns especialistas acreditam até em uma taxa de 12,50% no final de 2023. Há uma pressão para aumento no final do ano que vem”, disse Bessa. 

Neste ano, a Selic teve aumento em cinco das sete reuniões até o momento. Davi Ramos, CEO e sócio-fundador da Vante Invest, reitera que o mercado espera pela manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, nesta última reunião. 

“O que realmente vale a pena ficar de olho é no posicionamento do Copom no comunicado, que ele dá mais detalhes de como será o posicionamento nas próximas reuniões. Então ele pode dar detalhes de como vai ser a trajetória do juros, que é o que importa pra gente. O mercado esperava uma redução da Selic no ano que vem, mas em função da PEC de Transição vai depender como vai ser a trajetória do juros no ano que vem, então é muito importante o comunicado da próxima semana”, destacou Ramos. 

Para o superintendente da Assessoria Econômica da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, apesar das alterações no balanço de riscos desde a última reunião do Copom, a Taxa Selic deverá ser mantida. “Isso porque a atualização dos cenários de referência e do balanço de riscos não parece ser suficiente para requerer mudanças nas diretrizes da política monetária atual”, analisou Gonçalves.

Gonçalves ainda acredita que a mensagem passada ao fim da reunião do Copom será de ratificação à posição de cautela e manutenção da Selic em patamar contracionista por tempo relevante, a fim de aguardar os efeitos defasados do intenso ciclo de aperto monetário. “Dessa forma, reforça-se que tal posicionamento é coerente não só com o processo de desinflação, bem como com a ancoragem das expectativas em torno das metas”, concluiu o especialista.