Na última semana, investidores ficaram animados com as notícias acerca da Companhia Paranaense de Energia, a Copel (CPLE6). Desde a reeleição de Ratinho Jr. (PSD), para o governo do Estado, o mercado acompanha de perto a possibilidade da companhia elétrica passar por uma privatização, o que foi confirmado pelo estado do Paraná no último 21 de novembro. As ações, é claro, saltaram na ocasião. Mas, o que acontece com os ativos de uma estatal depois que ela é privatizada?
Especialistas consultados pelo BP Money apontaram que muitos fatores influenciam no preço de uma ação, mas que, ao longo do tempo, a tendência é que aconteça a valorização dos ativos.
“Uma empresa estatal não necessariamente visa lucros, crescimento e concorrência, porque independentemente do que ocorra com os resultados da companhia, o Estado vai estar ali para arcar com isso. Isso quer dizer que, se a empresa der prejuízo, o Estado banca”, explicou Leonardo Neves, especialista em renda variável da Blue3.
Nesse sentido, a menor eficiência de uma companhia, ainda estatal, reflete diretamente no preço de uma ação, que fica mais baixo. Com a privatização, espera-se que a empresa tenha uma mudança cultural e de gestão, que agradam mais o mercado. “Isso acaba impactando no valor intrínseco da empresa, o que afeta diretamente o valor da ação, que se valoriza”, apontou o analista.
Processo leva tempo
No entanto, esse é um processo que leva tempo, e não tão imediatista como podem esperar os investidores. Neste sentido, o analista entende que, para a valorização das ações pós-privatização, o tempo é o maior aliado.
No caso da Vale (VALE3), por exemplo, que foi privatizada em 6 de maio de 1997, os papéis tiveram um retorno bem distinto antes e depois da desestatização. Um ano antes, o retorno das ações foi de 11,77%. Nos 12 meses após a privatização, o retorno foi de -8,69%, segundo dados do Trademap. A título de comparação, o Ibovespa teve retorno de 98,29% e 9,26% nos mesmos períodos, respectivamente.
Na Embraer, que na época operava sob o ticker EMBR4, o mesmo movimento foi observado. A companhia aérea foi privatizada no dia 8 de dezembro de 1994. Nos 12 meses anteriores, os papéis da então estatal deram retorno de 1.206%, enquanto o Ibovespa retornou 1.537%. Um ano depois, os ativos retornaram -92,76% e o Ibovespa, -9,84%, ainda de acordo com levantamento do Trademap.
“Quando se tem a notícia da privatização, o mercado recebe isso de forma positiva, já que entende-se que a empresa vai se tornar mais eficiente com o setor privado. Porém, ele é um movimento de especulação, porque a empresa, depois que privatizada, não muda o fluxo de caixa, a geração de lucro e as políticas internas de um dia para o outro. Esse processo leva um tempo. Depois, vemos um crescimento exponencial da ação, de forma mais consolidada, que se refere de fato à privatização da empresa”, explicou Neves.
Mudança na gestão é um dos principais efeitos da privatização
Segundo Patrícia Agra, advogada do L.O. Baptista, a privatização é, de forma simples, quando uma empresa muda de dono. O governo, antigo dono, de acordo com ela, tem uma característica muito específica: a falta de especialização.
“Isso está longe de ser uma crítica, apenas quer dizer que o Estado tem que cuidar de tudo para todos, o que faz com que ele não seja especialista em nenhuma área, mas sim saiba superficialmente tratar de tudo. É por isso que a primeira característica da privatização é essa mudança de uma orientação generalista para uma orientação mais específica, que vem geralmente acompanhada de um expertise”, explicou.
Ainda segundo a advogada, o primeiro efeito nas companhias é cultural. “A empresa sai de uma orientação estatal, burocrática, para uma privada, com foco em meritocracia. Além de ganhar um nível maior de especialização e, geralmente, há enxugamento”, apontou. Para ela, muda-se o “jeito de fazer”.
E é um processo longo. Por isso, Maria Beatriz Grella Vieira, também advogada do L.O. Baptista, apontou que, com o tempo, se a empresa valoriza, há também valorização de ativos e ações.
“Há os momentos pré, durante e pós privatização. E todos eles passam por esse: o desenho da privatização, qual será o Papel do Governo, capacidade fiscalizatória, o quanto o Estado ainda estará presente ou não”, apontou Patrícia.
Mesmo assim, Maria Beatriz apontou que não apenas o processo de privatização afeta os valores de um ativo. Nesse sentido, o cenário macroeconômico também pesa. “Tudo vai ser avaliado pelo mercado e irá refletir no valor da empresa daqui para frente. O governo vendeu ou só perdeu o controle, mas continua ali? Permaneceu uma Golden Share, em que o Estado ainda vai ter direito de opinar nos assuntos relevantes? Tudo é levado em consideração para definição do valor dos ativos e ações”, finalizou.