Com 20 anos, Capitânia enxerga novos espaços no mercado

A gestora tem 18 fundos em seu portfólio público, atuando em debêntures de infraestrutura, dívidas públicas, fundos imobiliários e até mesmo o agronegócio

Completando 20 anos de história no fim de 2022 e com mais de R$ 28 bilhões sob gestão, a Capitânia traz como seu objetivo principal aliar uma boa rentabilidade (ou distribuição de dividendos) mesmo em mercados mais “chatos” (ou menos “atraentes”) ao investidor comum. De acordo com Carlos Simonetti, sócio da Capitânia, em conversa exclusiva com o BP Money na última semana, o norte da empresa se define por “ter uma rentabilidade competitiva, mas conservador e resiliente”. 

A gestora tem 18 fundos em seu portfólio público (sendo eles, 4 listados no Ibovespa: CPTS11, CPFF11, CPTI11 e CPTR11).  As áreas que atuam são diversas, tem desde debêntures de infraestrutura, dívidas públicas, fundos imobiliários (incluindo, FoFs (fundos de fundos)) e até mesmo o agronegócio. 

O agro inclusive tem chamado a atenção da gestora, segundo o gestor: “o agro é super relevante na economia brasileira”. Hoje, um de seus fundos listados, o CPTR11, já é do setor de FIAgro, fundo imobiliário focado em agronegócio. A área de investimentos em agro movimenta 27,4% de todo o PIB do Brasil, de acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP. E mesmo assim, tem pouquíssimos representantes na Bolsa de Valores, principalmente no FIAgro (que teve o seu primeiro ativo no mercado lançado em setembro de 2021). “Hoje, no mercado, temos algo em torno de 25-30 FIAgros, sendo que o mercado inteiro de Fundos Imobiliários nós temos 430 fundos”, ressalta Simonetti.

A Capitânia já se prepara para lançar um outro FIAgro, focado em terras, no 1º semestre de 2023, inicialmente destinado para investidores qualificados.

Para entender o racional da tradicional gestora, confira a conversa exclusiva:

A Capitânia tem 18 fundos no seu portfólio de diferentes áreas. Qual o norte da empresa para gerir tudo isso?

Capitânia é uma gestora especialista em crédito imobiliário. Então, esses fundos que estão no site não são todos que nós temos. Hoje, temos 45 fundos na verdade, mas muitos são fundos exclusivos de gestor de patrimônio e fundação.

Todos eles são preenchidos com crédito privado, que são debêntures, FIDICs, CRI, CRA. Nós não somos muito fortes em dívida bancária. Do lado imobiliário, temos alguns fundos dedicados, mas, por exemplo, nossos fundos de previdência aberta que são renda fixa, pós-fixado, tem um perfil conservador na maioria de 10% para investir em cota de fundo imobiliário. 

Então todos eles têm uma graduação ali de crédito privado imobiliário e uma parcela de caixa dependendo da carência. Se é um fundo mais curto, D+1, eu trabalho com mais caixa, se é um fundo com carência mais longa de 90, eu trabalho com menos caixa, por exemplo.

Desses 18 fundos, qual é o carro chefe de vocês hoje?  

O segmento que mais temos gente é o de previdência aberta, os fundos PGBL e VGBL. A gente tem cinco Fundos disponíveis, o carro-chefe em volume é o capitânia Previ Advisory XP Seguros. Hoje é um fundo com R$ 6 bilhões de patrimônio e um número grande de cotistas. Esse é um fundo para investidor geral, perfil conservador moderado. O grosso dos ativos ali, na verdade, 100% em crédito privado é pós-fixado, então você pega o movimento de alta da Selic de 2% para 3,75%, esse fundo passou tranquilo.

A gente aloca 70-75% do patrimônio em crédito, incluindo um limite de 10% para fundo imobiliário.

E os outros 25-30% ficam em título pós-fixado. Esse fundo tem como objetivo entregar CDI + 0,75% a 1% para o investidor.

Queria falar agora sobre os fundos listados de vocês. O CPTS11 está com uma queda de 13,3% no ano. O que aconteceu com ele? 

No fundo imobiliário é aquela coisa: você tem a renda, a distribuição mensal e você tem a performance da cota no mercado secundário. As distribuições, a gente distribuiu eu algo até agora como 11, 12%. Acima do CDI médio. Então, nada mudou. As distribuições seguem competitivas. Agora, a cota no mercado secundário, ela deu uma afundada mesmo e é principalmente porque o juro real está de volta em 6,20%, 6,30%, o DI longo saiu de 8 para 13% então o custo de oportunidade penalizou muito os fundos imobiliários de forma geral. E o nosso fundo CTPS vinha até segurando um pouco mais e agora mais recente a cota dele no mercado secundário tá um pouco mais pressionada ao redor de R$ 85,00.
 
Falando um pouco sobre o outro fundo da casa, o CPFF11, que está subindo 0,7% no ano. O que vocês fizeram de diferente nele que no CPTS11 não deu certo?

Então é aquela velha história, o que a gente tem controle como gestor é no que eu faço na carteira do fundo e o que eu distribuo de dividendo. A cota no mercado secundário, o mercado ora tá com mais apetite para fundo de papel, ora para fundo de tijolo. O CPFF11, ele é um fundo de fundo.

Se você for comparar com os outros fundos de fundo, o nosso é um dos que tem o menor desconto em relação ao patrimonial. E dos que tem, se você pegar o nosso relatório mensal, a gente mostra lá a rentabilidade desde o início calculando tanto os dividendos quanto à performance no mercado secundário, a gente é um dos que tem a melhor performance mas os fundos de fundo também no geral apanharam com essa alta de juros, juro Real e juro nominal, com a incerteza. 

Então, é difícil falar o que a gente fez no CPTS11 e não fez no CPFF11 ou vice-versa, porque eles têm mandatos distintos. Em um fundo de fundo, eu sou pago para escolher e investir nos melhores fundos do mercado. No CPTS11. Ele é mais um fundo de papel que investe em CRI.

No CPFF11, vou falar de forma abreviada, a gente ofereceu uma possibilidade para o investidor, que foi aprovado em Assembleia por mais de 25% dos cotistas, de seguir no CPFF11 ou migrar para um fundo idêntico, que a gente chama de CPFF2, mas que vai ter prazo de duração de até um ano. Para que fizemos isso? Para que o investidor possa, migrando para o CPFF2, capturar o deságio de uns 10 a 12% que hoje o fundo tem no mercado secundário em relação ao patrimonial.

A partir de Janeiro, queremos ir vendendo as posições de quem migrar pelo CPFF2 e amortizando a cota e devolvendo o dinheiro de volta para o investidor. Então, é um ativismo que nós estamos cortando na própria carne aqui. 

Falando um pouco sobre CPTI11, que custa R$ 99,80. Como ele tem performado na visão de vocês?

Esse é um fundo de infraestrutura listado. O mandato dele, a legislação obriga que a gente depois de dois anos tenha pelo menos 85% do patrimônio do fundo investido em ativos em dívida de ativos de infraestrutura focados, principalmente em distribuição, geração de energia, transmissão, água, saneamento e concessão rodoviária. Então, o CPTI11 é um fundo de infraestrutura que tem uma característica similar dos fundos imobiliários, que é a distribuição de dividendos mensais. 

Ele tem um benefício em relação aos fundos imobiliários que ele não só é isento no provento distribuído, mas o cotista que compra cota R$ 99,80, eventualmente o mercado melhora e ele vende a 105 no fundo de infra, não existe a tributação no ganho de Capital que tem no fundo imobiliário, então ele tem mais essa vantagem do ponto de vista tributário.

Nós temos um histórico de distribuição de dividendo nesse fundo muito forte. Distribuímos desde fevereiro de 2022, R$ 1,30 ao mês. Teve mês que foi mais, outros que foram menos, mas a gente tem um histórico de distribuição muito forte nesse fundo.
 
Falando agora sobre o CPTR11, focado em agronegócio. O que motivou a decisão de vocês criarem um fundo agro neste momento de mercado?
 
O primeiro fiagro é de Setembro/21. Ou seja, tem um ano e dois meses. É um instrumento bastante jovem ainda. Hoje, se não me engano tem algo como 25-30 fiagros, sendo que o mercado de fundo imobiliário tem 430 fundos. Agro como participação no PIB do Brasil saiu de 21% a 22%, de 4, 5 anos atrás para 27%. É super relevante.

Mas o financiamento do agronegócio era muito concentrado no Banco do Brasil que tinha as linhas de repasse lá pra Safra. Só que o Agro vem crescendo e o Banco do Brasil, não dá vazão para tudo, então se criou um instrumento também isento para o investidor no dividendo que é o fiagro. Em que existem três modalidades.

O Fiagro terras para investir e explorar a terra, que é o que menos tem até agora. O Fiagro Fidic, que é para descontar recebíveis do agronegócio, também são poucos fundos. E o Fiagro CRA, que é o Fiagro de dívida que é a maior parte dos fundos que existem hoje e é o nosso CPTR11 também. Ele é um fiagro CRA, que só investe em CRA, a grosso modo.

Hoje, o nosso fundo tem 27 ativos, todos eles de empresa com DF auditada, com Balanço auditado.

Então, a gente tentou se cercar no mais conservador em termos de governança, com uma empresa auditada que minimamente ali a cada três meses, eu vou ter uma prestação de contas. Porque o grosso do Agro, boa parte do Agro é ali um produtor e tem produtores muito fortes gigantescos que tem um patrimônio imobilizado e às vezes líquido grande também, mas ele não é uma empresa, ele não não tem balanço auditado não tem o costume de ter essa governança que para o perfil da Capitânia é importante. 
 
Então, o nosso fiagro é muito mais ali do fornecedor de insumo, revenda, cooperativa que fornece para o agronegócio. Não estamos na ponta final de financiar safra e produtor direto.

Vocês planejam criar algum outro Fiagro como, por exemplo, o de terras, como você havia citado antes?

O de terras, o fundo já está até registrado, temos um produtor muito grande com uma fazenda super produtiva que deve ser o primeiro ativo, mas deve ser uma oferta 476 restrita. Colocaremos para funcionar, vai apertando os parafusos e depois vem como oferta ampla para o varejo.

Já tem previsão para isso acontecer?

Eu acho que para o primeiro semestre do ano que vem.

Quais são os próximos passos da Capitânia que o investidor deve esperar?

Primeiro, nós temos hoje R$ 28 bi sob gestão, com mais de 370 mil cotistas. Então, o nosso primeiro objetivo é cuidar bem de todos os mandatos que nos foram dados, do dinheiro que está investido nos nossos fundos. 

Como você falou, a gente já tem uma grade muito ampla então é cuidar bem desse estoque. Crescemos muito nos últimos anos, alocar bem os recursos, tentar sempre diversificar mais as carteiras para diminuir os riscos específico.

De novos produtos, a gente tem algumas coisas. Esse fundo de terras está aí no radar. A gente tá olhando eventualmente de lançar um Fidic também, mas o mais importante é cuidar bem do estoque mesmo. A gente vem investindo em equipe investindo em tecnologia constantemente para ampliar nosso poder de análise e conseguir ser mais ágil também e tem funcionado bem.

Capitânia Investimentos
Sede: São Paulo
Foco: Foco em crédito imobiliário 
Capital sob gestão: R$ 28 bilhões 
Estrutura: 31 funcionários.