O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) terá pela primeira vez, em 63 anos, um presidente brasileiro. Ilan Goldfajn foi eleito para o comando do banco, no último domingo (20), mas o que isso representa na prática? Economistas consultados pelo BP Money explicaram a real importância de ter um brasileiro à frente do BID.
Para Walter Franco, professor do IBMEC, a eleição de Goldfajn tem grande importância no sentido de reconhecer a competência técnica do economista, além de demonstrar a relevância e o peso do Brasil na economia latinoamericana.
“Não é que traz algum benefício específico para o Brasil. O BID é um banco técnico. Nada passa a ser feito em prol do Brasil que já não seria feito antes. Existe esse contexto e importância do ponto de vista geopolítico, sob a ótica de enxergarem o Brasil como ninho de formação de técnicos competentes”, disse Franco.
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“Certamente, para o Brasil, no próximo governo, ter um presidente no BID dará uma interlocução muito melhor, e os temas certamente terão um caminho de comunicação mais facilitado”, complementou o professor do IBMEC.
O BID é considerado o maior organismo financeiro multilateral do mundo. A instituição, que conta com 48 países membros, financia projetos de desenvolvimento econômico, social e institucional na América Latina e no Caribe.
Segundo Franco, efetivamente, não muda muita coisa para o Brasil, já que as decisões do BID são técnicas. Entretanto, a sinalização é positiva porque fará o País ficar mais engajado nas pautas ligadas a inovação, inclusão e desenvolvimento sustentável.
“Colocar uma pessoa assim no poder do BID sinaliza a importância e o valor de mantermos a nossa política liberal, de abertura dos nossos mercados, de privatizações, de modernização, de facilitação de uma série de ações econômicas e políticas nacionais, ligados ao desenvolvimento econômico de longo prazo do Brasil”, disse Franco.
Para Marcelo Ferreira, economista e professor, Ilan Goldfajn poderá contribuir para o País financiando projetos que melhorem e que aumentem os limites estruturais da economia brasileira, permitindo ao Brasil a possibilidade de crescimento.
“Essa é uma contribuição importante que ele pode dar ao longo dos cinco anos de mandato e o próprio já deu declarações que quer contribuir, a partir do BID, no combate à fome. Isso se alinha ao discurso do governo que vai tomar posse. Da parte dele acredito que vai haver uma relação institucional muito eficiente e que vai produzir resultados para o País”, disse Ferreira.
Ferreira também ressaltou que a mudança efetiva deverá ser no olhar que o novo presidente do BID trará para a instituição.
“O executivo que assume um órgão como o BID tem que ter uma visão ampla e procurar manter bom relacionamento e atendimento a todos países participantes do órgão, mas não pode deixar de ter um olhar mais aprofundado das questões brasileiras. [A escolha de Ilan] revela força política, não só do Ilan, no seu caráter técnico, mas a força política relacionada ao País mesmo”, disse Ferreira.
Quem é Ilan Goldfajn?
Filho de brasileiros, Ilan Goldfajn nasceu em Israel. Goldfajn é formado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem mestrado na área pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e doutorado pela Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Entre setembro de 2000 e julho de 2003, Goldfajn foi diretor de política econômica do Banco Central (BC) do Brasil. No governo de Michel Temer, em 2016, Goldfajn assumiu a presidência do Banco Central.
Goldfajn atuou, mais recentemente, como diretor do departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI) e presidente do Conselho Consultivo do Credit Suisse Brasil. Agora, o economista assume o BID, sendo o primeiro brasileiro a ocupar o posto em 63 anos de existência da instituição.
O professor do IBMEC, Walter Franco, destaca ainda, como vantagens e benefícios para economia brasileira de ter Ilan Goldfajn no comando do BID, a possibilidade do Brasil continuar com processos de diminuição do estado na economia, de modernização da economia brasileira, além de acelerar a desburocratização de processos e reformas micro e macroeconômicas, que são necessárias para o País. “Muitas vezes tudo isso requer investimentos externos, e nesse caso o BID pode ofertar isso”, disse Franco.