Com PT, Petrobras (PETR4) vale a pena pelos dividendos?

Segunda-feira (21) é o último dia para os acionistas receberem os dividendos da estatal

A Petrobras (PETR3;PETR4) vem sendo o centro das atenções entre os investidores, após anunciar mais uma vez dividendos generosos no valor de R$ 3,3489. Analistas consultados pelo BP Money, no entanto, veem com apreensão a entrada de investidores no papel só para surfar os dividendos pela questão política que deve afetar a empresa.

Na mesma semana em que a estatal anunciou os proventos, a equipe do presidente eleito Luiz Inácio da Silva (PT) buscou travar o pagamento antecipado desses ativos, alegando que a petroleira deveria ter um papel social. 

“Não concordamos com essa política que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece acionistas. A Petrobras tem de servir ao povo brasileiro”, afirmou Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT. 

Segundo analistas consultados pelo BP Money, se o governo Lula realmente barrar a distribuição de dividendos gordos da Petrobras nos próximos anos, há uma grande possibilidade de muitos investidores abrirem mão das ações da estatal, causando uma desvalorização do ativo.

Indecisão sobre política de dividendos pode afastar investidores

Além de ser uma das companhias mais importantes do Brasil, a Petrobras também vem se tornando uma grande pagadora de dividendos nos últimos anos. Por conta disso, a companhia acaba sendo um ímã de investidores internacionais. Só no terceiro trimestre de 2022, a estatal pagou US$ 21,2 bilhões em dividendos, mais que grandes companhias de petróleo estrangeiras, como Saudi Aramco, ExxonMobil e Chevron.

Na visão de Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, só o fato do governo Lula, que será iniciado em 2023, sinalizar que irá fechar a “torneira” de dividendos da Petrobras já afasta a confiança dos investidores na empresa, penalizando as ações da estatal. O analista ainda chama a atenção para a possibilidade do petista alterar a política de preços vigente da Petrobras, algo que danificaria a rentabilidade do papel.

“Desde que o mercado viu que essa política de corte de dividendos pode ser adotada, as ações foram penalizadas e vêm sofrendo na Bolsa. Isso deve gerar desconfiança por parte dos investidores nos próximos anos. Além da distribuição dos dividendos, há também a possibilidade de alterarem a política de preço da Petrobras, o que seria ainda mais danoso para a rentabilidade do ativo”, afirmou.

De acordo com Sidney Lima, analista da Top Gain, os investidores já vêm precificando a possibilidade do governo Lula barrar os generosos dividendos da Petrobras. Com a possibilidade do corte, segundo Lima, os investidores já estão migrando para outras petroleiras, como a PRIO, que apresentou uma alta de 542% no lucro do terceiro trimestre.

“O novo posicionamento alinhado ao novo governo já vem sendo precificado pelos investidores e já percebemos uma falta de interesse por boa parte do mercado, com as ações da empresa já acumulando uma queda de mais de 27% nos últimos dias. Inclusive percebe-se uma migração nítida de realocação de grandes investidores para outras empresas como PetroRio e 3R Petroleum”, disse.

“Entendo que a distribuição de dividendos é um dos principais pontos de atratividade que uma empresa pode ter ao olhar dos investidores. Esse movimento de cortes tende a ser mal visto pelo mercado, já que nesse caso não vemos somente alteração no contexto de distribuição de dividendos, mas sim uma real possibilidade de impacto na lucratividade da empresa”, completou Lima.

Para José Augusto Gaspar Ruas, economista e coordenador do curso de ciências econômicas pela Facamp, a Petrobras priorizou a remuneração de seus acionistas nos últimos anos, pagando dividendos acima do seu lucro. Tal decisão, na visão de Ruas, acabou atraindo aquele investidor que está interessado em obter grande rentabilidade em um curto espaço de tempo. Com um possível corte dos proventos, esse tipo de agente financeiro é repelido.

“Os dividendos da Petrobras ao longo dos dois últimos anos assumiram proporções bastante polpudas. Ao longo desse ano, a companhia vem gastando mais com seus acionistas do que com outras estratégias. Então a Petrobras, ao sinalizar nos últimos anos que irá ampliar sua política de dividendos, atrai um perfil de investidor interessado em uma rentabilidade de curto prazo, fazendo com que as ações subam. Na medida em que você corta os dividendos, a tendência é que você disperse esse tipo de investidor”, explicou.

Mudança na política de preços pode impactar investimentos

Mais do que mudar a política de dividendos, o governo Lula já sinalizou que pretende promover várias mudanças na Petrobras. Durante sua campanha presidencial, o petista defendeu incessantemente uma nova política de preços dos combustíveis e a retomada dos investimentos em refino e de contratações junto à indústria naval brasileira.

Na opinião de Lima, mesmo que o governo do petista mude a política de distribuição de proventos, a Petrobras continuará sendo uma das maiores empresas do País. No entanto, a ideia de Lula de tornar a estatal em um órgão de assistência social pode impactar seus resultados financeiros a longo prazo, incomodando os investidores.

“Por questão de corte exclusivamente dos dividendos, a Petrobras seguiria sendo uma gigante mundial do setor e com perspectivas atrativas sobre o negócio. O problema se dá pela possibilidade de alteração do comando da empresa e alinhamento com causas que não beneficiem o investidor que teme pelo fato de que a empresa possa ser utilizada como ferramenta de assistencialismo. Isso tende a impactar a eficiência financeira da empresa, tornando-a menos atrativa para os investidores”, afirmou.

Já na visão de Alves, além do corte da política de dividendos, a possível substituição do PPI (Preço de Paridade de Importação), política de preços adotada pela petroleira, por outro sistema de preços – algo defendido por Lula e sua cúpula – pode ser ainda mais danosa para a estatal na visão do investidores. O plano de governo do PT fala em “abrasileirar” os preços dos combustíveis, modelo criticado por petroleiras e importadores, sob o argumento de que pode prejudicar as importações necessárias para complementar o abastecimento nacional.

“Tão importante quanto a manutenção dos dividendos, é saber se a política de preço vai continuar seguindo a paridade internacional, se vão ter outras mudanças tão drásticas quanto, para que o investidor possa fazer uma tomada de decisão mais assertiva, e como o risco político será iminente”, explicou.

Ainda vale a pena investir na Petrobras?

Em um cenário de incerteza a respeito da próxima política de dividendos da Petrobras, analistas consultados pelo BP Money avaliam que os papéis PETR3 e PETR4 representam atualmente um risco muito grande para os investidores. 

“É um papel agora perigoso de se investir, porque enquanto não estiver claro qual será a política de dividendos e existir a expectativa de que os dividendos vão ser muito mais baixos do que foram até hoje, esse papel vai tendo seu preço corrigido. Afinal, quando você investe em um papel, se ele é um bom pagador de dividendos, é óbvio que isso está incluído no preço dele. Então no momento que você entende que ele já não é mais um bom pagador de dividendos, o papel cai”, explicou Ricardo Mello, especialista em investimentos.

Ruas afirma que o corte de dividendos tira parte da atratividade do papel para aqueles que visam ganhos no curto prazo. No médio prazo, o professor acredita que a estatal pode ser um bom investimento, acreditando que sua prioridade no futuro será encontrar novas fontes de energias sustentáveis. 

“Vale a pena investir? Se o investidor procura ganhos de curto prazo, ele deve sair da Petrobras. Neste momento, investir na Petrobras é investir em um papel que certamente tem uma perspectiva de queda. Já no médio prazo, não, pois o fundamental para a Petrobras, que é uma empresa de energia, é investir em novas possibilidades energéticas, que garantiriam sua sustentabilidade ao longo prazo”, relatou.