Lula: Citi diz que mercado pode ter se enganado

Com queda de ativos após falas de Lula, Banco cortou exposição a Brasil

Os mercados financeiros podem ter se enganado ao se convencer de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seguiria uma agenda fiscal ortodoxa, disse o Citi em relatório. Com isso, o banco cortou sua exposição a Brasil.

“O mercado parecia ter se convencido de que o presidente (eleito) Lula seria fiscalmente ortodoxo. O fluxo de notícias mais recente agora coloca essa hipótese em dúvida”, escreveu Dirk Willer, chefe de estratégia de mercados emergentes do Citi Research no documento, divulgado na noite da última quinta-feira (10).

O comentário veio após os ativos brasileiros despencarem na quinta-feira, refletindo temores de descontrole fiscal durante o governo de Lula. Investidores também reagiram mal à inclusão do nome do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, visto como menos ortodoxo, na equipe de transição do presidente eleito.

Em conversa com deputados no CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil), em Brasília, o presidente eleito criticou o teto de gastos e disse que há gastos do governo que precisam ser observados como investimento.

“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos? É preciso fazer superávits? É preciso fazer tetos de gasto? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social do país?”, questionou na ocasião.

Com isso, o dólar disparou 4% frente ao real, também na quinta-feira. Esse foi o maior ganho diário desde o início da pandemia. O Ibovespa despencou 3,61%, o mais forte desde novembro de 2021. Na semana que seguiu às eleições de Lula, no entanto, os ativos brasileiros dispararam.

“Os ativos do Brasil vinham se mostrando bastante atraentes antes desse evento… Desta forma, a alocação provavelmente está saturada, o que pode levar a um tempo de reação mais longo do que apenas um dia”, alertou Willer sobre os tombos do real e do Ibovespa e a disparada dos juros futuros.

“O fato de a notícia chegar num momento em que o resto do universo emergente está recebendo forte apoio de um índice de preços ao consumidor dos EUA abaixo do esperado não ajuda. Por isso, passamos a ficar de lado e cortamos nosso risco Brasil”, disse o estrategista.

Apesar da apreensão do Citi, Willer ponderou que o banco norte-americano acredita que o governo Lula pode, eventualmente, moderar sua posição em relação ao fiscal.