Desde segunda-feira (31), o dólar desvaloriza frente ao real, enquanto sobe no resto do mundo. A explicação para a valorização da moeda brasileira foi o resultado das urnas no domingo (30), que deram a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assume a Presidência da República em 2023. Consultados pelo BP Money, analistas apontam que a eleição do petista proporcionou um fluxo estrangeiro robusto para o Brasil, fator que fez com que a moeda norte-americana caísse por aqui.
“O grande ponto é que o Brasil descolou de países emergentes. Os investidores estrangeiros voltaram a tomar posição aqui por verem uma agenda mais avançada, com controle da inflação e um sentido de crescimento”, comentou Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
Segundo o economista, o dólar teve uma redução significativa desde a tensão pré-eleitoral até o pós-eleições atual. “A eleição acabou tirando aquele sentimento de espera dos investidores, para saber qual posição tomar, e, assim, acabaram voltando ao mercado brasileiro com um pouco mais de força”, disse Velloni.
Rodrigo Cohen, analista e co-fundador da Escola de Investimentos, explicou que o Brasil se tornou um top-pick no mundo comparando com outros emergentes.
“É o país que todos querem entrar. Isso faz com que o estraneiro ‘venha’ para cá, venda o dólar ou o euro para comprar o real e comprar bolsa. Com isso, o dólar e euro caem e a bolsa sobe. Mas o Brasil está num movimento contrário, já que a moeda norte-americana sobe mundialmente”, apontou.
Queda do dólar não era esperada – ao menos ainda
Esse movimento de queda no dólar pós-eleições, no entanto, não era esperado pelo mercado. “Esperava-se que as moedas tivessem um comportamento pior do que estão tendo agora. Hoje, vemos um comportamento oposto, bom, em relação ao panorama mundial. O euro, por exemplo, desvalorizou bastante em relação ao dólar depois das eleições”, explicou Velloni.
Para Cohen, a valorização do real era esperada somente após a divulgação da equipe econômica de Lula, o que ainda não aconteceu. Segundo ele, o que está por trás dessa antecipação é que Lula é mais previsível do que Jair Bolsonaro (PL), o atual presidente, derrotado no pleito de domingo.
“Lula é mais querido por investidores estrangeiros porque é mais político, é mais bem visto pelos presidentes dos outros países, e ele vem com uma agenda mais de centro”, apontou o analista.
Dólar em queda a longo-prazo?
Segundo Velloni, algumas incertezas podem mudar o trajeto no longo-prazo. China e guerra na Ucrânia são dois pontos para ficar de olho, mas, para ele, tudo depende do Ministro da Economia escolhido para o governo Lula que, no curto prazo, deve ditar o humor do mercado.
“Se vier um Ministro mais pró-mercado, como Henrique Meirelles, podemos pensar em dólar para baixo de R$ 5: entre R$ 4,80 e R$ 4,70”, opinou Velloni.
Ainda assim, ele ressaltou que o mercado não viu com bons olhos a escolha de Aloizio Mercadante como coordenador técnico de economia da equipe de transição de governos, anunciada nesta semana.
Na quinta-feira (3), o dólar fechou em baixa de 0,50%, a R$ 5,11.