Eleito para o seu terceiro mandato como Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve realizar algumas medidas mais imediatas para trazer maior segurança ao mercado. A principal delas? Anunciar o seu ministro da Fazenda e sua equipe econômica, ponto que não quis revelar durante a campanha, como explica Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital, ao BP Money.
“O anúncio do Ministro da Fazenda deve acontecer relativamente rápido e isso dará o tom dos mercados, pois é o grande ponto do momento. Ele tem que, obviamente, fazer um aceno mais ortodoxo à economia. Lembrando que a situação fiscal do País não é das piores, mas não há espaço para exageros e nenhum rompante populista”, destacou Candido.
“Os próximos movimentos do mercado vão depender do escolhido para chefiar o Ministério da Fazenda, que poderá ser desmembrado do atual Ministério da Economia nas pastas de Fazenda, Planejamento, e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O desmembramento era uma vontade também de Guedes”, analisou Beto Saadia, economista e sócio da BRA-BS.
Para Saadia, existem dois cenários para esse protagonista econômico: economistas mais próximos ao centro político ou de maior traquejo político.
“O primeiro seria conduzido por economistas mais próximos ao centro político, como Henrique Meirelles e Armínio Fraga. O segundo cenário seria de maior traquejo político, sob uma “esquerda pragmática” – com Jacques Wagner, Rui Costa ou Alexandre Padilha [todos do PT]”, destacou.
“Dispor de um político de carreira na frente da cadeira ministerial pode ser providencial na negociação do orçamento, desde que amparado por uma equipe técnica e ortodoxa. O primeiro mandato do presidente Lula foi capitaneado por Palocci com suportes de Marcos Lisboa, Murilo Portugal, Daniel Goldberg, Alexandre Scheinkman”, completou Saadia.
Especialista de renda variável da One Investimentos, Edmar Oliveira segue a mesma linha e aponta o discurso de Lula como grande fator para o mercado.
“Dependerá muito do que o Lula irá falar. No primeiro mandato que ele teve, ele veio com um discurso mais populista, mas a equipe econômica era bastante pragmática e realista em relação aos problemas da economia. A situação que ele pega hoje é totalmente diferente. Será um desafio para ele”, afirmou Oliveira.
Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, também aposta que o anúncio do novo ministro deverá ocorrer ainda esta semana. Ele salienta, no entanto, que o futuro presidente encontrará o desafio de enfrentar uma oposição mais forte, já que o legislativo eleito nestas eleições foi, majoritariamente, de direita.
“Com certeza nesta semana mesmo deve ser escolhida a equipe econômica. Porém, sabemos que o pensamento da esquerda é de não privatizações, e são visões de mundo diferentes. Estaremos voltando a ver a esquerda, mas agora de uma forma diferente, em que a direita será uma oposição forte nos próximos 4 anos”.
O Ibovespa chegou a abrir com queda, nesta segunda-feira (31), mas logo virou para alta ao longo da manhã, fechando o pregão no positivo, com alta de 1,31%, aos 116.037 pontos. Em contrapartida, o dólar caiu 2,27%, a R$ 5,17, mostrando que o mercado parece ter reagido bem ao resultado das urnas.
Lula terá desafios na economia
Beto Saadia salienta que o novo presidente herdará um governo endividado por conta dos estímulos ampliados a partir do início da pandemia, além de uma cadeia de desonerações neste ano. Para ele, será preciso ter muito jogo de cintura com o Congresso. “O executivo terá de ter habilidade para negociar orçamento com um congresso eleito que – mesmo comemorado pelo mercado – atua de forma fisiológica e focando em seu distrito eleitoral”, lembrou.
Oliveira, da One Investimentos, afirma que a tendência é acompanhar uma taxa de juros mais elevada por mais tempo. “Naturalmente se a gente enxerga um período onde o Estado deve induzir de maneira mais ativa o crescimento econômico, devemos ver taxas de juros mais elevadas, ou ver uma curva de juros elevada nos patamares atuais por mais tempo, dado que o mercado trabalhava com a hipótese de redução de juros a 7% no ano que vem, mas com esse cenário eleitoral, dificilmente teríamos uma queda”, apontou.
Sócio-fundador da Fatorial Investimentos, Jansen Costa lembra do teto de gastos, que deverá ser revogado no novo governo. “Há um temor quanto ao futuro da economia no País, tanto que a revogação do teto dos gastos aumentaria o risco-fiscal que temos. A primeira reação será negativa a essa mudança. Lula terá que ser bastante pragmático nesta primeira semana, que deverá contar com a indicação do ministro da Economia e com todas as mudanças que ele pretende fazer em relação a economia”, disse Costa.