Xi Jinping, presidente chinês e secretário Geral do Partido Comunista da China, foi reeleito para um novo mandato de cinco anos. Líder de um dos países mais poderosos do mundo desde 2013, Xi liderou a ascensão chinesa como a segunda maior economia do planeta. Na última década, o PIB da China cresceu de 54 trilhões de yuans (cerca de US$ 7,6 trilhões) para 114 trilhões de yuans e passou a representar 18,5% da economia mundial.
De acordo com analistas consultados pelo BP Money, Xi Jinping provavelmente irá focar no desenvolvimento econômico interno da China nos próximos 5 anos, atitude que pode ser benéfica para as demais nações do globo.
Após ser reeleito, Xi Jinping afirmou numa entrevista para mais de 600 jornalistas que a China abrirá mais suas portas para o resto do mundo. “Seremos firmes no aprofundamento da reforma e na abertura geral, e na busca de um desenvolvimento de alta qualidade. Assim como a China não pode se desenvolver isolada do mundo, o mundo precisa da China para seu desenvolvimento”.
Reconstrução chinesa pode ser positiva globalmente
Para Fabio Fares, especialista em análise macro da Quantzed, o líder chinês e secretário do PCC tem dado discursos que podem ser interpretados de forma animadora pelos países. Xi Jinping vem fazendo pronunciamentos que dão enfoque na reconstrução da economia chinesa.
“Um dos discursos do Xi Jinping é que o foco agora é a reconstrução da China. Uma China forte, uma China crescendo, ou seja, se preocupar com o interno e não mais em dominar o mundo. Então isso pode ser muito bom pro mundo e para a própria China, porque ela tem problemas graves, que já vem apresentando há tempo no mercado imobiliário, no mercado de trabalho dos jovens e esses lockdowns de covid zero”, afirmou.
“Temos a perspectiva de que a China possa voltar a se ajustar e começar a projetar crescimento, visto que ela vai crescer menos do que o esperado esse ano e provavelmente o ano que vem também. Então uma retomada de uma China consistente crescendo e resolvendo os problemas internos pode ser muito bom pro mundo todo e principalmente para o Brasil, visto que a China é uma grande compradora dos nossos insumos”, completou Fares.
De acordo com Fabrício Gonçalvez, CEO (diretor executivo) da Box Asset Management, o fato de Xi Jinping defender a reconstrução da China e acirrar ainda mais a disputa comercial com os EUA pode ser extremamente positivo até mesmo para países que são fortes parceiros do principal adversário chinês. Em 2020, Xi Jinping já afirmou ser “possível” duplicar o PIB da China até 2035.
“Em seu plano, Xi destacou mudanças rápidas na situação internacional, elogiando os esforços da legenda para manter a equidade e a justiça internacionais, defender a prática do multilateralismo genuíno e se opor claramente a todos os tipos de hegemonia e políticas de poder. O multilateralismo significa que a China continuará desafiando e competindo com os EUA. O que poderemos ver será uma corrida econômica, onde a China irá buscar ter mais controle e influência em países parceiros dos EUA. Os países que forem de interesse de Xi poderão se beneficiar”, explicou.
Na visão de Caio Canez de Castro, especialista em investimentos da GT Capital, a reeleição de Xi Jinping representa a manutenção de uma postura chinesa pró-mercado e grande importadora de commodities, continuidade considerada positiva por inúmeros países.
“Ainda veremos uma China que importa muita commodity e seguirá buscando relações comerciais para se manter uma exportadora muito relevante no mundo. Vemos que o Xi Jinping se preocupa com os números de crescimento econômico, porém tem sacrificando esse crescimento no curto prazo com a política de COVID zero, ou seja, veremos estratégias focadas no crescimento de longo prazo da China para pelo menos os próximos 5 anos de governo de Xi”, disse.
Tensões entre China e EUA podem se agravar
A China e os EUA têm causado alvoroço no cenário geopolítico nos últimos meses por conta de Taiwan. Em agosto, a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, viajou para a ilha. Tal visita foi vista como uma provocação, visto que o território se declara independente, mas a China a considera como uma província. Os EUA já defenderam publicamente a independência da ilha.
Em discurso dado no 20º Congresso do Partido Comunista, Xi Jinping afirmou que Pequim tem total controle de Hong Kong e tomará “todas as medidas necessárias” para fazer o mesmo com Taiwan. Além disso, o governante chinês não descartou o uso da força para garantir o controle total da ilha autogovernada.
Segundo Canez de Castro, a reeleição de Xi pode acirrar e elevar as tensões com os EUA, podendo prejudicar as relações comerciais de países aliados.
“Essa relação vem sendo testada após os últimos fatos envolvendo a ilha de Taiwan, que é um importante produtor mundial de semicondutores. O produto está em falta e vem atrapalhando as cadeias produtivas mundiais.O interesse dos dois governos na liderança deste importante mercado poderá levar a tensões que afetem a ordem política mundial e, consecutivamente, as relações comerciais de países aliados”, afirmou.
Fares partilha da mesma visão de Canez de Castro, prevendo um acentuamento de conflitos diplomáticos entre China e EUA. De acordo com o analista, a reeleição de Xi Jinping impossibilita qualquer debate sobre a questão de Taiwan.
“Em relação a China e Estados Unidos num terceiro mandato, a gente pode ver aí uma intensificação desse confronto, que é cada vez mais uma guerra de bastidor. Xi Jinping vai continuar lutando pelos interesses chineses da maneira dele, o Biden vai continuar defendendo os interesses americanos. Tudo isso tudo tende a aumentar com a permanência de Xi no poder, pois não tem nem como pensar num diálogo”, disse.
Brasil pode se fortalecer com permanência de Xi Jinping
Atualmente, o Brasil possui um laço econômico muito importante com a China, fruto do estreitamento de laços entre as duas nações nos últimos 15 anos. O País exporta hoje sessenta vezes mais para a China do que em 2001, quando o país asiático entrou para a Organização Mundial do Comércio (OMC).
De menos de US$ 1,08 bilhão por ano, a conta de pagamento dos chineses chegou em 2021 a US$ 60,1 bilhões, representando mais de 30% das exportações brasileiras. No setor do agronegócio, só a China é responsável por quase 40% das exportações brasileiras.
De acordo com Gonçalvez, com a reeleição de Xi, o Brasil estará ainda mais disposto a fazer acordo comerciais com os chineses, por conta da longa relação econômica com Xi Jinping, que governa o país asiático desde 2013.
“A China é atualmente o principal parceiro comercial do Brasil, por conta da dependência no comércio bilateral, especialmente do agronegócio. Em uma possível reeleição de Xi Jinping poderemos ver um Brasil mais disposto do que nunca a vender soja, carne, petróleo e minério de ferro aos chineses. As exportações devem aumentar significativamente, pois o interesse por parte dos chineses pelo Brasil é grande, podendo então ter um aumento significativo na exportação de commodities”, relatou.
Para Fares, o fato de Xi Jinping ter discursado a favor da reestruturação interna chinesa já é positivo para o Brasil. Segundo os analistas, uma China fragilizada economicamente atrapalha o País, logo um fortalecimento chinês é sinônimo de um Brasil também forte.
“Para o Brasil, uma postura chinesa mais focada nos problemas internos é muito mais interessante do que uma China focada na política externa. Sem um crescimento chinês, o mundo também fica aquém do crescimento necessário, então vamos ver se o discurso do Xi Jinping é mesmo o objetivo dele, se a China vai voltar a crescer e ter uma consistência nos próximos anos”, explicou.