Titanium mira em renda fixa para tranquilizar investidores

Com mercado cripto derretendo em 2022, a gestora de fundos de criptomoedas diversificou seu portfólio e começou a oferecer fundos com até 100% de alocação em renda fixa

Criada em 2019, a Titanium Asset é relativamente nova no mercado financeiro, mas já passou por muita coisa. “É, cara, a gente já viu de tudo nesse mercado cripto”, brinca Ayron Ferreira, head de research da gestora de fundos de investimento focados em criptomoedas em entrevista ao BP Money na última quinta-feira (20). A lógica do negócio é poder oferecer aos investidores segurança e diversificação do portfólio, principalmente em momentos de “bear market” (mercado em tendência de baixa, em inglês), nem que para isso seja necessário ir à renda fixa -contrariando a disrupção do mercado. 

Para isso, a empresa acredita que o modelo “quant” (uso de tecnologia para a tomada de decisões, eliminando o risco do erro humano) aliado à credibilidade possam continuar trazendo captações mesmo enquanto as criptomoedas estão em descrédito com o mercado. 

Entendendo que o tempo de alta volatilidade no mercado cripto demandava ser mais conservador, a empresa então criou o “Titanium Liquid FIRF”, focado 100% em Renda Fixa e com um retorno de 6,69% desde seu início. Você deve estar se perguntando: “Por que uma gestora de criptomoedas criou um fundo 100% de Renda Fixa? Tem alguém que compra”.

Para essas e outras respostas, confira nossa entrevista exclusiva com Ayron Ferreira:

Vocês trazem uma proposta diferente no Titanium Cripto Structure, com um foco para a lógica “quant”. Qual o intuito disso? 
A proposta dele é basicamente proporcionar uma performance descorrelacionada dos outros fundos. Aqui no Brasil, não é tão difundido ainda essa questão do fundo quant até tem pouquíssimas casas que disponibilizam esse tipo de estratégia, enquanto lá fora é bem mais difundido. A lógica desse tipo de fundo é utilizar a tecnologia, a análise de dados algorítmicos para criar as estratégias e também para executá-las. Até porque um computador consegue acumular muito mais dados para encontrar padrões no mercado e criar maneiras diferentes, desde as mais simples até as mais complexas assim para você implementar. Nesse tipo de fundo, o algoritmo entra executando essa estratégia depois dela ter sido analisada ali no decorrer do tempo.

Se ela tiver um percentual que se comprove vencedora, executo através de um robô. A vantagem disso é que você tira o viés humano da operação. Se você colocar um humano para executar essa estratégia, por mais que ela tenha dado ali um histórico de ser rentável, você vai ter a chance de um erro humano que não vai executar ali de forma sistemática essa estratégia, já que ele pode se emocionar, não aceitar uma perda  e acabar perdendo.
Além disso tudo, o fundo não fica posicionado somente para uma direção. Então, ele pode operar comprado e vendido. O que te faz conseguir surfar em qualquer momento de mercado. 

Falando um pouco sobre o segundo fundo lançado pela casa, o Galaxy, ele vem caindo cerca de 70% desde sua criação. O que aconteceu?
Ele foi lançado para aquele investidor que quer aportar agora e visando o longo prazo. O fundo foi lançado bem na época que o Bitcoin estava batendo a máxima histórica. Então, não foi um timing muito bom para lançá-lo, mas para um longo prazo ele é muito interessante para aquele investidor que quer se posicionar e não quer comprar somente Bitcoin e Ethereum. Ele quer se expor ali ao preço, porque acha que lá no longo prazo, realmente há uma expectativa de que eles possam vir a se valorizar. 

A gente acredita muito na tese que colocamos no Galaxy, que lá na frente pode ser atraído muito dinheiro ainda pelo Bitcoin, pela Ethereum e para outras altcoins por ser um mercado disruptivo e inovador e que pode ter muita adoção no futuro. Os ativos que fazem parte desse mercado virão a se valorizar de forma assimétrica, principalmente quando o cenário macro colaborar também. 

Você acha que o Bitcoin morreu? Qual sua opinião sobre ter a maior parte da carteira em altcoins?
Altcoin é muito mais arriscado, é tudo em versão Beta. Então, por exemplo, as plataformas de contrato inteligente concorrentes do Ethereum estão todas sendo testadas ainda. Solana é uma das principais. Tem até analista que brinca que: “agora fez aniversário de não sei quantos meses da Solana sem cair. Aí, quando ela completa o aniversário, cai (risos)”. No portfólio, eu acho que o cara tem que ter ali a maior parte em Bitcoin, depois Ethereum. Altcoin é bem no longo prazo e mesmo assim acho bem arriscado. 

A história mostra isso. Você vai ver as 10 principais altcoins no passado e hoje, você vai ver que constantemente está mudando ali as principais altcoins. Muitas, inclusive, já morreram e muitas já nem existem. Outro exemplo é a litecoin, em que praticamente está parada no seu desenvolvimento, já que agora ninguém mais tem aquela tese de moeda para pagamento. Mas, esse tipo de ativo tem que fazer parte do portfólio porque elas podem dar um retorno ali mais assimétrico. Quando o Bitcoin valoriza 5%, ela sobe em 10%. E então elas podem fazer parte do portfólio para aumentar a sua rentabilidade.

O terceiro fundo da casa, o Access, mistura 80% em Renda Fixa e 20% em cripto. Essa estratégia é para ser conservador com o atual momento do mercado?
Na realidade, ele é para o investidor de varejo. Os outros dois são para o investidor qualificado. Para o investidor de varejo pessoa física, o fundo não pode investir 100% lá fora.

Então o access, tem ali uma entrada mínima de R$ 500 e daí para o investidor de varejo que quer começar a pisar no mercado de cripto. 20% do fundo do Galaxy é em mercado cripto e fica ali representado. E daí os outros 80% é renda fixa. É o tipo mais tradicional esse tipo de fundo, que já tem nas outras casas assim.

Você gosta dessa estratégia de ter a maior parte da sua carteira em Renda Fixa e uma pequena parte em ativos variáveis?
Ainda mais nessa época em que a renda fixa tá rendendo bem no Brasil. Lá fora também, juros na casa dos 4.20% no prazo de 10 anos.
E eu acho que sim, tem que ter uma parte boa em renda fixa porque tá pagando muito bem e é um ativo livre de risco. E uma parte dele em ativos variáveis tem que ter, porque lá na frente pode se ter um retorno interessante.

Agora, falando sobre o fundo Liquid de vocês, que é 100% em renda fixa. Tem tido procura por um ativo focado nesse setor em uma gestora de criptomoedas?
Tem tido muita procura. Essa captação é principalmente por conta da casa ganhar confiança, né? Então, o investidor pensa: “eu quero um fundo com vocês, mas quero colocar meu dinheirinho na renda fixa, não quero cripto. Vocês têm também?” Daí o cliente acaba confiando na gente para ter ali o dinheiro dele só em renda fixa também. E tem outros fundos para serem lançados já nos próximos dias, que eu não posso entrar muito em detalhes.
Mas a lógica é essa: o cara tem ali um pouco no Galaxy, tem um pouco no structure, mas quer colocar uma parte do patrimônio em renda fixa. Então temos essa alternativa ali para o cliente.

Quais são os próximos objetivos da Titanium Asset?
Captação, desmistificar o mercado para conseguir a confiança cada vez maior dos clientes, porque aqui no Brasil ainda tem que se desmistificar muito. Ainda tem muita gente que acha que é pirâmide financeira.

São pouquíssimas pessoas que investem e que entendem e depois que aqui a gente também gosta de utilizar essa parte própria aqui de conteúdo. A gente tem uma área específica de conteúdo em que estamos crescendo cada vez mais. A gente fez uma parceria com o Fernando Ulrich recentemente. Na próxima semana a gente vai começar a fazer alguns conteúdos para juntar forças e desmistificar o mercado.
 
Titanium Asset
Sede: São Paulo
Liderança: Guilherme Bernert Miksza e Eduardo Zanuzzo, sócios-fundadores. Além de Ayron Ferreira, head de research.  
Foco: fundos de criptomoedas.
Capital sob gestão: R$ 70 milhões 
Estrutura: 27 funcionários.