Brasil pode ser imã de investidores estrangeiros em 2023

O Brasil tem se destacado em 2022, ano terrível para os países emergentes

O ano de 2022 tem sido terrível para os países emergentes. Sofrendo com uma crise econômica mundial, proveniente da guerra na Ucrânia e da covid-19, nações como Argentina e Turquia estão vendo suas moedas locais derreterem e seus índices de inflação saltando para níveis estarrecedores. Apesar da crise econômica entre os países emergentes, o Brasil ainda pode ser um imã de investimentos estrangeiros em 2023, segundo os analistas consultados pelo BP Money. 

De acordo com dados do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), até o mês de agosto, os agentes financeiros do exterior já haviam retirado mais de US$ 38 bilhões dos países em desenvolvimento. Com essa saída de capital, Bangladesh e Paquistão já pediram ajuda ao FMI (Fundo Monetário Internacional), e o Sri Lanka deu calote em sua dívida soberana.

E as perspectivas para 2023 não são tão otimistas para esse grupo de países. A Argentina, cuja inflação acumulada em 2022 se encontra em 100%, ainda projeta uma inflação anual de 60% para o ano que vem, de acordo com o projeto de lei orçamentária anunciado em 28 de setembro pelo ministro da Economia, Sergio Massa.

O índice de inflação do México, segunda maior economia da América Latina, alcançou 8,7% nos últimos 12 meses, maior alta dos últimos 22 anos. Além da inflação alta, o Banco do México (Banxico) reduziu a previsão de crescimento mexicano para 2023. De acordo com o banco, o PIB (Produto Interno Bruto) irá crescer 1,6% no próximo ano, abaixo dos 2,4% estimados em seu relatório do segundo trimestre. 

Brasil pode ser o “queridinho” dos investidores em 2023 

O Brasil é o quarto país do G20 com a menor inflação em 2022. No acumulado de janeiro a setembro, registrou um índice inflacionário de 4,1%, percentual acima somente do Japão (2,8%), da Arábia Saudita (2,7%) e da China (1,9%). Além da inflação baixa, o Banco Central brasileiro interrompeu sua alta de juros em setembro, com perspectivas de baixá-la em 2023.

“O Brasil, se comparado a seus pares, consegue demonstrar melhor resiliência diante de um cenário pós pandêmico e também com melhores projeções para o futuro se tratando de pontos importantes para o cenário mundial como a inflação, por exemplo”, explicou Renan Carini, especialista em investimentos e professor da “Eu me Banco”.

“Com relação à alta da inflação em todo o mundo, o Brasil teve uma boa antecipação com a decisão rápida de subida de juros para arrefecer essa subida de preços. Hoje contendo uma das maiores taxas de juros do mundo, passa sim a ser um dos países atrativos para investimento estrangeiro”, completou Carini. 

De acordo com Milene Dellatore, especialista em investimentos e CEO do Grupo Mide de Investimentos, o Banco Central agiu de forma correta ao promover uma escalada na taxa de juros em 2021 para frear a alta da inflação no Brasil, possibilitando com que o País chamasse a atenção dos investidores. 

“O Brasil tem investimentos muito interessantes e uma política muito bacana para investidor nesse momento que chama muita atenção. O Banco Central brasileiro agiu da forma correta para conseguir trabalhar com a inflação, diferentemente dos bancos centrais dos EUA e da Europa”, disse.

Dellatore, no entanto, atentou ao fato de que, apesar do potencial brasileiro, há outras variantes macroeconômicas em jogo, como a alta na taxa de juros dos EUA e a possibilidade de haver uma recessão de escala global. Segundo ela, tais eventos assustariam os investimentos externos do País. 

“O Brasil pode ser um ímã de investimento para estrangeiro, com certeza, mas temos que olhar para a macroeconomia. Se o Fed, o Banco Central americano, continuar subindo juros e houver realmente a confirmação de uma recessão, a gente sabe que investidor tira seu capital de um local mais perigoso. Ele fica com menos apetite a risco”, afirmou. 

Macroeconomia pode atrapalhar liderança do Brasil na América Latina 

De acordo com relatório emitido em maio pelo Banco Mundial em maio, é estimado que as commodities energéticas irão recuar, em média, 12,4% em 2023 e 11,9% em 2024. Já o preço das “commodities não energéticas” deverão cair, em média, 8,8% no próximo ano e 3,2% em 2024. Por conta disso, Dellatore acredita que o Brasil dificilmente irá despontar, com folga, como principal liderança da América Latina em 2023. 

“O Brasil é muito dependente das nossas commodities. Para o próximo ano, a gente espera que tenha uma queda de 10% destes ativos. Essa queda tende a vir por causa da desaceleração de países do G-7 como a China, um dos grandes parceiros econômicos do Brasil. Então a alta dos juros no mundo afora, a queda das nossas commodities e a oscilação do dólar podem ser bem prejudiciais para o Brasil”, explicou. 

Já na visão de Carini, apesar do Brasil estar sofrendo com uma inflação forte desde 2021, o País conseguiu tomar medidas financeiras vitais para estancar a alta de preços, algo essencial para o crescimento econômico. Para 2023, o analista espera que o Brasil tenha um índice inflacionário controlado, se distanciando dos demais países da América Latina. 

“O Brasil também vem sofrendo com a forte inflação, mas como tomou medidas de contração importantes desde o início dessa alta, está conseguindo enxergar essa queda que é muito pertinente para a evolução do crescimento econômico. Com isso, olhando para 2023, a expectativa para o Brasil é uma inflação mais controlada, ainda com a taxa de juros alta e atrativa para o investidor”, relatou. 

“O Brasil recentemente retornou à 10ª posição no ranking de maiores economias do mundo, ficando à frente de todos seus vizinhos da América Latina. Olhando para a Argentina sofrendo bastante com a inflação e tendo que subir cada vez mais seus juros para tentar frear esse crescimento dos preços, certamente o país fica muito atrás em relação ao Brasil. Outros países também vêm sofrendo bastante com a alta da inflação. Portanto, o Brasil tem melhores perspectivas de controle inflacionário e crescimento do PIB, além de proporcionar, hoje, a taxa de juros real mais atrativa do mundo”, completou Carini. 

A eleição presidencial não irá atrapalhar chegada de investidores

Em 30 de outubro, os brasileiros irão sair de suas casas para escolherem seu presidente para os próximos quatro anos. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) são os postulantes à presidência. Apesar de espectros políticos diferentes e planos de governo divergentes, os analistas consultados pelo BP Money não crêem que o resultado do pleito influenciará a entrada de capital estrangeiro em 2023.

Na visão de Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, o fato da composição da Câmara dos Deputados no ano que vem ser mais favorável à direita e os governos de Lula e Bolsonaro já serem conhecidos pelos investidores tranquiliza o mercado. Logo, o que pode influenciar a entrada e saída de capital estrangeiro é o cenário norte-americano, no qual o Banco Central norte-americano vem promovendo nos últimos meses altas na taxa de juros do país. 

“O mercado já conhece ambos os governos, e a formação de um Senado e Câmara dos Deputados mais à direita tranquilizou os investidores estrangeiros a respeito da aprovação de medidas mais radicais, independentemente de quem vença as eleições presidenciais. O que de fato pode prejudicar a entrada de capital estrangeiro seria o alto rendimento dos títulos americanos, já que são investimentos considerados seguros, e que estão pagando bem”, afirmou. 

Dellatore partilha da mesma visão de Gonçalvez, enfatizando que há muitos ingredientes que influenciam a entrada e saída de investimentos do exterior, como a guerra da Ucrânia, alta na taxa de juros dos países desenvolvidos e alta da inflação global. 

“A gente está vivendo um momento no qual a inflação mundial está muito alta, há um aumento de juros e uma guerra. Existem mais ingredientes envolvidos nisso do que só uma pessoa. Um presidente é muito vago para um investidor tomar a decisão se vai colocar mais dinheiro ou não”, disse. 

De acordo com Carini, no entanto, a escolha presidencial, que será feita no dia 30 de outubro, pode sim influenciar os investidores externos, muito por conta das divergências ideológicas de Lula e de Bolsonaro. Para ele, uma reeleição do atual presidente traria mais tranquilidade ao mercado, pois suas opiniões econômicas têm um viés mais pró-mercado. 

“O Brasil, apesar de ter sofrido muito com a pandemia nos últimos anos, conseguiu redirecionar sua economia para uma nova perspectiva de crescimento e também para uma inflação mais controlada diante do mundo nesse momento. O Brasil vem se mostrando resiliente e atrativo para investidores estrangeiros. Portanto, a sequência do presidente Jair Bolsonaro, com um tom mais de centro-direita e podendo avançar com a continuação do mandato, tende a trazer menos de incerteza para os investidores”, explicou.