As eleições de 2022 movimentaram o mercado de ações na primeira semana de outubro. Após o pleito eleitoral ser realizado em 2 de outubro, muitas empresas refletiram os resultados de domingo, principalmente Copasa (CSMG3) e Cemig (CMIG4), localizadas em Minas Gerais.
Logo em 3 de outubro, primeiro dia pós-eleições, as ações CSMG3, da Copasa, saltaram mais de 10%. Seguindo a mesma tendência, os papéis CMIG4, da Cemig, também avançaram mais de 10%. A alta dessas empresas estava relacionada à reeleição de Romeu Zema (NOVO), governador de Minas Gerais. Em seu plano de governo, Zema defendeu pautas liberais e a privatização tanto da Copasa quanto da Cemig.
Segundo analistas consultados pelo BP Money, o mercado vê com muitos bons olhos a reeleição de Zema, pois ele terá mais quatro anos para tentar desestatizar as duas companhias. Na visão dos investidores, uma privatização tornaria as duas estatais em empresas dinâmicas e eficientes.
Zema poderá se beneficiar de nova renovação na ALMG
Durante seu primeiro mandato, entre 2019 e 2022, Romeu Zema precisou enfrentar uma Assembleia desfavorável às privatizações. No entanto, nestas eleições, os eleitores mineiros renovaram a ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais) em 32,46%. Pode ser a chance de Zema privatizar a Cemig e a Copasa.
“Ele não conseguiu privatizar essas companhias no primeiro mandato, pois ele não teve o apoio da maioria da Câmara de Deputados. Há uma resistência grande por ter muito partido da esquerda. Em 2022, a Câmara de Deputados teve uma taxa de renovação, então o Zema teria que reavaliar como irá ficar a composição da câmara em 2023, para ver se o Share de partidos aumentou ou diminuiu”, explicou Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed.
Na visão de Amauri Saad, sócio da área regulatória da Siqueira Castro Advogados, Romeu Zema, em 2023, irá possuir maioria na Assembleia para privatizar as companhias. No entanto, fatores externos como o crescimento ou depressão do PIB do Brasil e crises políticas em nível estadual podem atrapalhar no processo de desestatização dessas empresas.
“O governador Zema, eleito em primeiro turno e com altos percentuais de avaliação positiva por parte da população mineira, possui as condições políticas para privatizar ambas as companhias. No entanto, fatores externos, como situação internacional, o crescimento ou depressão do PIB do país e crises políticas em nível estadual podem interferir no timing das privatizações”, afirmou.
De acordo com Silvio Azevedo, consultor e educador financeiro, a nova composição da ALMG tem tendências liberais, ajudando Zema a desestatizar as companhias.
“Nessa nova leva de deputados estaduais para o governo de Minas, a gente teve uma renovação de cinquenta por cento do Congresso. Então a tendência, seguindo todo o padrão da eleição brasileira, é que a gente tenha políticos com características liberais. O que significa isso? Um menor poder do Estado. Esses políticos querem diminuir esse Estado e deixar a gestão de grandes empresas para a iniciativa privada”, relatou.
Possível privatização fortaleceria Copasa
Na leitura de Piovesan, a Copasa enfrentou grandes dificuldades nos últimos quatro anos, mesmo com Zema buscando recuperar financeiramente o estado de Minas Gerais. O analista acredita que uma privatização recuperaria a companhia, fazendo com que ela tenha um grande potencial de crescimento.
“Nesse primeiro primeiro mandato do Zema, a Copasa sofreu com o custo elevado, um Opex (despesas operacionais) elevado e uma inadimplência alta. A empresa não tem dado um retorno e uma geração de caixa proveitosa”, disse.
“Acho que a Copasa teria um ganho muito grande com uma privatização, por conta de ser uma empresa com uma estrutura muito inchada de custos. É uma companhia que tem muito investimento a se fazer ainda no estado de Minas Gerais, então tem bastante crescimento ainda a ser extraído. Certamente seria um ativo disputado”, afirmou.
Saad acredita que uma desestatização da Copasa ajudaria a companhia a ser mais eficiente, podendo ter um montante maior de capital quando precisar captar recursos para financiar alguma atividade. Além disso, o analista ressalta que, por ser uma empresa de saneamento básico, a empresa terá que cumprir metas de universalização dos serviços, logo uma privatização ajudaria para atingir essas metas.
“O histórico de privatizações no Brasil e no exterior demonstra que as empresas privatizadas passam por expressivos ganhos de eficiência, o que lhes garante inclusive melhores possibilidades de captação de recursos para as suas atividades. A Copasa, que atua no setor regulado de saneamento básico, terá que cumprir metas de universalização dos serviços, o que requer investimentos intensivos. A privatização pode ser determinante para o cumprimento de tais metas”, explicou.
De acordo com Denis Suzuki, sócio da MMF Projetos, uma possível privatização enxugaria a folha de pagamento da companhia, trazendo ainda mais dinâmica para a companhia”.
“A Copasa possui um custo elevado de mão-de-obra, então, assim como ocorreu com outras empresas privatizadas, é provável haja uma otimização no número de funcionários visando melhorar sua eficiência, melhorando suas margens e retorno para os acionistas. Os indicadores de rentabilidade e eficiência, como ROE e margem líquida, mostram que há espaço para serem melhorados”, disse.
Privatização poderia tornar Cemig ainda mais dinâmica
Ao contrário da Copasa, a Cemig teve grandes avanços operacionais e financeiros durante a gestão Romeu Zema, tendo o desempenho próximo de uma empresa privada. Na opinião de Piovesan, grande parte dessa evolução é fruto do trabalho feito por Reynaldo Passanezi Filho, CEO da Cemig desde 2020, quando foi indicado por Zema.
“A Cemig é diferente da Copasa. Houve a entrada do Reynaldo Passanezi Filho, um CEO com grande experiência de mercado. Ele trouxe para a empresa um mindset privado, e isso melhorou o resultado da empresa nesses últimos quatro anos, tornando-a uma empresa mais próxima dos privados”, relatou.
Piovesan, apesar de achar o trabalho positivo, acredita que a Cemig teria ainda mais avanços se fosse privatizada, mesmo que o impacto fosse menor em comparação com a Copasa.
“Na Cemig, os ganhos seriam menores do que uma Copasa, porque parte desse trabalho é de uma agenda de melhoria operacional em venda, desinvestimento de ativos ou aumento do pagamento de dividendos, tudo isso já está sendo feito na gestão atual da CEMIG. Então isso já está pouco refletido nas ações”, argumentou.
Saad partilha da mesma visão de Piovesan, argumentando que o trabalho feito há quatro tem sido positivo para o caixa da empresa. Entretanto, uma possível desestatização tornaria a companhia energética mais dinâmica, dando a ela a possibilidade de diversificar mais suas áreas de negócio.
“A Cemig, operando já em uma estrutura desverticalizada, possui uma governança moderna e uma administração profissional. A privatização, claro, tende a tornar ainda mais dinâmica a atuação da companhia, com a possível diversificação de áreas de negócio, mudanças estratégicas na distribuição de ativos e desvinculação dos interesses do seu acionista majoritário, o Estado de Minas Gerais”, disse.