Enquanto Disney+, Amazon Prime e Apple TV+ apostam em transmissões esportivas ao vivo, a Netflix (NFLX34) segue na contramão, investindo em novas séries e filmes próprios. A companhia perdeu 970 mil assinantes no segundo trimestre deste ano. Os números negativos, nos últimos trimestres, refletiram no mercado. As ações da gigante de streaming chegaram a cair 80% em 2022. Mas qual deve ser o rumo da empresa daqui pra frente? A concorrência do “ao vivo” vai deixar a Netflix para trás?
De acordo com Guilherme Zanin, analista da Avenue, entre os principais catalisadores para a queda da performance da Netflix tanto em seu mercado de atuação quanto na bolsa de valores está, em primeiro lugar, o aumento de juros nos EUA – que faz com que as ações caíssem de forma generalizada.
“Existe, agora, um prêmio de risco maior, é necessário mais retorno porque os juros estão elevados e não precisa se correr tanto risco para ganhar dinheiro na renda fixa, mas a gente também tem, no próprio caso da Netflix, a chegada da concorrência, com Amazon Prime, Disney Plus, Star+ e outros”, disse Zanin.
Zanin explica que apesar da empresa sofrer com a forte concorrência de outros streamings, que inclusive oferecem experiências diferentes para os usuários, como transmissões ao vivo, a própria Netflix já afirmou que seu principal concorrente é o YouTube.
“Ela destaca que, sim, houve um aumento de concorrentes, e, sim, os concorrentes chegaram e acabaram virando um mercado predatório, mas ainda assim o grande destaque é o YouTube como sua principal forma de concorrência”, disse Zanin.
Para o analista, a partir do momento que a empresa atingiu uma maturidade, a dificuldade de crescer ficou maior, considerando o cenário macroeconômico conturbado que o mundo se encontra.
“A empresa busca se adaptar ao novo cenário e às novas mudanças e voltar a crescer com essas duas estratégias, de monetização de usuários através de propagandas para tentar baratear o custo e acessar mais mercados através de games e streaming ao vivo. Mesmo assim, a gente entende que esse é um mercado mais difícil com grandes players trabalhando e vendo que existem oportunidades. Quem é acionista da Netflix deve entender que é um momento de mais volatilidade”, afirmou Zanin.
Para Cesar Crivelli, analista da Nord Research, a Netflix não está sendo diretamente ameaçada. Na visão do especialista, a troca da TV a cabo pelo streaming é um movimento que não deve ter volta.
“O streaming veio para, entre outras coisas, fornecer uma flexibilidade maior de escolha às pessoas, tanto do ponto de vista de horário quanto de conteúdo. O streaming te dá a liberdade de escolher o conteúdo e o horário que você pode fazer isso. Esse movimento a gente vê como irreversível. Do ponto de vista de competição, dado o custo do streaming, que ainda é muito baixo, os serviços, entre si, tendem a ser mais complementares do que excludentes”, analisou Crivelli.
Segundo Luiz Nuin, da Levante Investimentos, a Netflix ainda pode aspirar a posição de “must-have” de streaming, porém o caminho até esse objetivo deve ser grande.
“Seja por meio de uma compra/fusão, seja por meio de anúncios, seja por meio de avanço na qualidade, definitivamente o momento da empresa é delicado. Não importa qual seja, a única certeza é que todos os caminhos serão tortuosos”, disse Nuin.
“Anos atrás, a Netflix parecia destinada a ser vendida para um player maior e mais diversificado. Talvez estejamos voltando a esse assunto novamente. A escolha da Microsoft pela Netflix para desenvolver sua plataforma de anúncios é vista como um caminho para uma possível fusão com a gigante do software”, completou o analista da Levante.
As saídas para a Netflix (NFLX34)
De acordo com os analistas consultados pelo BP Money, a Netflix possui alguns caminhos para voltar a demonstrar sua força frente à concorrência.
Entre seguir produzindo conteúdos bons e exclusivos, realizar uma possível fusão com outra empresa e investir em novas vertentes, o que parece mais plausível para a empresa, neste momento, segundo especialistas, é um misto da primeira com a terceira opção.
Segundo Diana Stuhlberger, analista de Global Equities da Eleven Financial Research, mesmo com a queda no número de assinantes, a Netflix deve seguir investindo em conteúdo.
“O que eu acho que a Netflix tem que fazer é continuar produzindo conteúdo bom. O assinante não quer ficar assinando todas empresas, então ele vai assinar o que tiver mais conteúdo. Não adianta ficar reduzindo preço porque não é essa questão. O principal é o conteúdo mesmo”, disse Stuhlberger.
Guilherme Zanin, da Avenue, complementou o raciocínio de Stuhlberger ao dizer que a entrada de outras empresas na competição do streaming, junto com um cenário mais desafiador macroeconômico, fez com que as ações sofressem mais do que a média do S&P 500.
“Mesmo assim, a empresa voltou mostrando que está se adaptando a esse novo cenário, mais difícil, mais conturbado e buscando formas de diversificar sua receita”, disse Zanin.
Zanin reforçou a ideia da empresa seguir investindo em produção própria e também em novas vertentes.
“Temos alguns grandes destaques de filmes e séries que fizeram sucesso e ganharam diversos prêmios e, naturalmente, eles tendem a fazer mais investimentos e tentar manter essas séries em crescimento em alta”, disse o analista da Avenue.
“A empresa vem com duas estratégias que ela entende que são mais relevantes. A primeira é anunciar uma plataforma onde eles começam a rodar anúncios, e isso é uma forma de monetizar mais a empresa, depois ela libera acesso mais barato para os clientes, mas eles têm que ver anúncios, similar ao que o YouTube faz e é uma estratégia que eles pretendem adotar no próximo ano e o segundo caso é a adoção de uma nova plataforma de games, streaming, onde entendem que existe valor em um mercado em crescimento que eles poderiam trabalhar juntos. Seja com a plataforma de games dentro do Netflix, assim como com a transmissão de jogos online”, concluiu Zanin.