Após lançar o cartão compartilhado, a fintech Noh apresentou mais uma novidade: permitir divisão de pagamentos em até dez pessoas ao mesmo tempo. CEO [diretora-presidente] e cofundadora da empresa, Ana Zucato foi firme ao decretar que seu produto será “o próximo Pix”. “Eu sou o próximo Pix. Desde o lançamento estou dizendo isso, pois eu te entrego coisas que o pix não tem”, disse em entrevista ao BP Money.
A Noh, que automatiza a divisão e o pagamento de contas, lançou no último dia 25 de agosto a carteira digital desenvolvida pela empresa, que passará a permitir a criação de grupos – chamados “nohs”, com até 10 pessoas cada um.
“Um passa e todo mundo paga. É mágico. Por trás, temos uma carteira individual que cada um abastece com o saldo através do Pix. O dinheiro fica lá, mas estará rendendo mais que a poupança. Ele rende 90% do CDI, e nos amarramos em ‘nohs’. Tenho um com a minha irmã, que divido Netflix, tenho com meu marido que divido tudo”, explicou Zucato.
Em menos de dois meses após o lançamento do cartão pré-pago bandeira Visa, a fintech já processou R$ 2 milhões em transações, revela a CEO em exclusividade ao BP Money. Ela também falou sobre a pequena equipe na empresa, mas muito capacitada, e sobre o atual momento financeiro da mesma. Em meio a onda de demissões nas startups, a de Zucato atravessa um momento saudável.
Ana Zucato é CEO e cofundadora da Noh Foto: Divulgação
Confira a entrevista completa na íntegra:
Recentemente vocês lançaram o cartão compartilhado e, agora, trazem a novidade de permitir divisão de pagamentos em até dez pessoas ao mesmo tempo. Gostaria que você falasse um pouco sobre essa novidade.
A nossa visão de criar o cartão compartilhado é porque eu já sei que praticamente todo brasileiro já faz isso, mesmo que indiretamente. Já divide a conta do Netflix, divide, já divide o aluguel ou IPTU da sua casa, entre outras coisas. É um produto óbvio, mas é não era feito. Tanto que as pessoas, quando descobrem ficam incrédulas.
Como funcionarão esses grupos chamados “nohs”?
Um passa e todo mundo paga. É mágico. Por trás, temos uma carteira individual que cada um abastece com o saldo através do pix. O dinheiro fica lá, mas estará rendendo mais que a poupança. Ele rende 90% do CDI, e nos amarramos em ‘nohs’. Tenho um com a minha irmã, que divido Netflix, tenho com meu marido que divido tudo. À noite vou jantar com amigas e já criamos o nosso noh para facilitar. Quando eu for usar o cartão, abro o app e sinalizo com quem irei dividir. Clico no Noh já criado e pronto. Além disso, lá posso sinalizar já a porcentagem que cada um irá pagar. Se eu quiser pagar 90% e meu marido 10%, é só colocar lá que já realizará o pagamento no valor correto de cada um.
O melhor de tudo é que não precisamos pagar para todo mundo, pois sabemos que, geralmente, ficamos mais constrangidos de ter que ficar cobrando às pessoas depois. Por muitas vezes acaba não cobrando. Então, com o Noh, cada um já paga o seu e usando apenas um cartão. Inclusive, os garçons são os maiores fãs da Noh, já que não precisa ficar aquele caos de vários cartões para pagar quando divide a conta. Tudo é feito com apenas um cartão.
Vocês anunciaram a novidade pelo TikTok, como foi o retorno na rede social?
Eu estava me perguntando como iria lançar essa nova funcionalidade. Nossa equipe de São Paulo tinha saído para um restaurante e aproveitamos para testar a funcionalidade. Então resolvi filmar o momento só para mostrar o restante do time, que está dividido pelo Brasil e até fora também. Na hora funcionou e resolvi colocar nos stories da empresa. Uma amiga minha pediu para que eu juntasse esses vídeos dos stories e postasse apenas um no feed. Fiz isso, mas não deu muito resultado. Pensei em colocar no TikTok, onde tínhamos uma conta lá com apenas dois vídeos e 30 curtidas.
Coloquei na sexta de manhã e de tarde um membro da minha equipe estranhou uma grande movimentação de cadastros e downloads. Fizemos uma reunião para tentar descobrir o que era e ninguém sabia. Até que lembrei do vídeo do TikTok… Quando olhamos, já tinham mais de meio milhão de visualizações e mais de mil comentários. De repente, não dormimos os cinco dias seguintes, pois veio uma enxurrada de gente para todas as nossas redes sociais. Foi acaso e foi sorte. Não foi uma estratégia de lançamento, mas mostra para mim que é um produto que o brasileiro entende.
Qual a meta de vocês com essa nova funcionalidade?
Eu sou o próximo pix. Desde o lançamento estou dizendo isso, pois eu te entrego coisas que o pix não tem. O pix é terra de ninguém e cada banco faz do seu jeito. Quero fazer o brasileiro amar cada conta e isso é difícil, mas precisamos normalizar isso. Teremos contas para pagar, então precisamos lidar com isso.
Dividir é somar. Por exemplo, uma galera que se junta para alugar uma casa para o réveillon. Para dez pessoas deve custar cerca de R$ 20 mil. Mas quem tem esse limite no cartão de crédito? E quem quer comprometer esse limite para os amigos? O grupo tem o dinheiro, mas ninguém sozinho tem a soma do dinheiro. Essa é uma preocupação, por isso acredito que a gente consegue ser o próximo pix.
Recentemente vocês lançaram o cartão compartilhado com a Visa. Poderia contar um pouco mais sobre o seu funcionamento? E qual o resultado até aqui?
Desde junho, quando lançamos, já transacionamos R$ 2 milhões. Lembrando que tínhamos muito pouca gente antes de bombar no TikTok, então isso é muito legal, mas também é bastante assustador por ser tão rápido assim. Aí começam a surgir outros problemas: o app não pode ficar fora do ar, galera está usando às 2h da manhã e a gente está dormindo… É um tipo de problema bom.
Já temos 8 mil nohs formados, sendo que uma pessoa faz, em média, quatro nohs. É insano. Uma pessoa convida, em média, outras oito. É um sonho como fintech. Ainda mais em um momento que as startups estão, eu to aqui torcendo para isso continuar, pois me dará muito mais velocidade. Basicamente o pix cresce na velocidade que ele cresce porque um obriga o outro a ter. Se eu vou fazer um noh com você, eu te obrigado a ter também. A diferença é que nós serão vários, enquanto o pix é um para um. Imagine como será a nossa velocidade.
E com essas novas funcionalidades, qual a expectativa para vocês com esses resultados?
Eu quero chegar no final do ano com 30 mil usuários. Vou trabalhar muito forte esse período de final de ano, quero trazer o tema viagem, pois férias, viagens e 13º [salário] é um bom momento, pois as pessoas têm dinheiro. Dado certo isso, ano que vem o céu é o limite. Nosso produto é bem direto ao ponto. Quero que todo mundo esteja falando ‘fiz um noh’, ‘faz um noh’, igual ao pix, até o final do ano que vem.
Sobre a startup, atualmente vocês contam com quantas pessoas na equipe? Há expectativa de crescimento nesse sentido também?
A gente está com 17 pessoas, contando comigo. É pouco. O que fizemos? Já ouviu falar no conceito ‘MVP’? Na tradução quer dizer algo como ‘mínimo time possível’. Fomos em busca de pessoas que entendiam exatamente o que a gente queria criar, que tinham mentalidade de ‘quebrar tudo’, mas também de que faria o que fosse preciso para dar certo. Na hora que o bicho pega, não tem função fixa não, é todo mundo se ajudando. Por enquanto não precisamos contratar mais. Também quis criar algumas regras, por exemplo, no qual todos são sócios da Noh. Já trabalhei em startup no Brasil e eu sei como funciona. Trouxemos pessoas muito boas, inclusive boto a mão no fogo por todas. Vamos contratar mais uma ou outra, vamos sim, mas do jeito que a gente vem fazendo.
Outra coisa que fazemos é que cada um escolhe seu salário. Estou criando uma cultura que é diferente, mas que acredito. Ninguém vira para mim falando R$ 100 mil, mas também não pede R$ 3 mil. Querendo ou não, todo mundo vai se encaixando, me perguntam quanto eu ganho e usam como parâmetro. Também escolhemos ser remotos para sempre, cada um trabalhando a hora e onde quer, mas temos nossos rituais. Está tudo dando certo. A Noh quer mostrar para o Brasil que é possível trabalhar de um jeito que seja bom para todo mundo.
Qual é o atual cenário da Noh e quais movimentos financeiros vocês já realizaram desde o início?
A gente levantou uma rodada de investimentos em outubro do ano passado. Ela foi bem grande e muito boa para a gente. Hoje, a Noh tem dois anos de vida sem eu precisar buscar dinheiro no mercado, o que é ótimo, principalmente pelo atual momento do mercado de startups. O mundo está vindo do momento em que houve muita captação, com muita startup com muito dinheiro, mas poucas pessoas sabem operar uma empresa. Atualmente, não temos necessidade de capacitação, mas acredito que, na velocidade que nosso produto tem potencial para crescer, é provável que no próximo ano eu vá para o mercado, mas para captar para marketing. Por exemplo, eu tenho produto para estar na Copa do Mundo do Catar, mas não tenho dinheiro. Não é o momento.