O mercado cripto espera ansiosamente pela atualização do Ethereum (ETH), a chamada “The Merge”, marcada para setembro. A mudança fará com que o atual mecanismo de consenso de prova de trabalho (proof-of-work), que gasta bastante energia elétrica, seja trocado para o sistema de prova de participação (proof-of-stake), apontado como mais eficiente. Segundo analistas consultados pelo BP Money, outro Ethereum pode surgir após atualização.
“Nós vamos ter uma mudança muito grande no protocolo porque os mineradores que até então colocavam moedas para circular e faziam validações através de placas de vídeos e computadores de alta performance não terão mais esses mecanismos e terão de procurar uma alternativa para tornar seus equipamentos obsoletos”, explicou Raquel Lima, analista da Top Gain.
Muitos mineradores têm se posicionado fortemente contra a nova atualização do Ethereum. No mundo cripto, mineração é o processo de verificação de transações e corrida para resolver quebra-cabeças matemáticos pelo direito de registrar transações na blockchain. Como a mudança substituirá o atual mecanismo por staking, menos poder computacional e energia serão necessários, tornando o trabalho de mineração desnecessário.
Com a atualização, os mineradores, que perderão sua fonte de renda, estão cogitando redirecionar seus computadores especializados poderosos para a Ethereum Classic (ETC), rede fragmentada que surgiu do hard fork (atualização) de 2016 após um hack no qual US$ 60 milhões foram roubados da rede Ethereum.
Além de redirecionar seus esforços para a Ethereum Classic, muitos mineradores planejam um fork do Ethereum com chegada da atualização. Chamada de ETHPoW, a nova criptomoeda surge para preservar o mecanismo de consenso de prova de trabalho.
De acordo com Pedro de Luca, head de criptomoedas da Levante Investimentos, a existência de um novo Ethereum não seria uma novidade no mercado cripto. Além disso, Luca acredita que o ETHpoW está fadado ao fracasso antes de existir.
“Já existem duas moedas Ethereum, o Classic, proveniente do ataque ao protocolo do ether, que ficou muito grande, fazendo que os desenvolvedores da criptomoeda forçassem um fork, e o ETH, que é mais popular. É muito provável que criem o ETHpoW, que vai manter a mineração em prova de trabalho. Não deve ter um grande sucesso, o grosso da comunidade apoia a mudança. Vai ser um concorrente fadado ao fracasso”, afirmou.
Luiz Pedro Andrade, analista de criptoativos da Nord Research, partilha da mesma avaliação de Luca, não acreditando que o fork planejado dos mineradores seja um sucesso.
“É um movimento meio natural, pois vai de encontro com o interesse deles. Minerar é muito mais difícil do que validar transações. Isso está matando os mecanismos deles de renda. Há a possibilidade de haver forks, embora avalie como irreal, porque o proof of work é muito inferior ao proof of stake. Eles tendem ao fracasso”, relatou.
The Merge pode mudar o cenário cripto? Analistas divergem
Quando questionados se a nova atualização do Ethereum poderia impactar o mundo das criptomoedas, analistas consultados pelo BP Money apresentaram posições divergentes.
Luca explicou que a mudança é mais impactante para a criptomoeda, mas não tanto para o mercado cripto, pois outras moedas já possuem o mecanismo que o Ethereum vai aderir.
“Sendo bem sincero, a nova atualização não muda o mercado cripto. É uma atualização importante para o Ethereum, pois é uma atualização interna. Não é algo inédito, já existem blockchains com as características que o Ethereum vai ter. É uma atualização mais importante para Ethereum que o mercado crypto”, disse.
Na visão de Victor Armellini, CEO e cofundador da NFTrend Serviços Digitais, no entanto, a nova atualização da criptomoeda pode trazer fôlego para o mundo das criptomoedas, que tem passado por momentos de turbulência em 2022.
“Por trazer benefícios à rede Ethereum e em consequência toda a rede financeira que atua sob esta Blockchain, a atualização pode trazer ânimo a um mercado que esteve pessimista nos últimos meses”, contou.
Andrade também acredita que The Merge impacta o mercado cripto, pois ela abrirá caminho para novas atualizações. “Essa nova atualização é necessária para outras atualizações que visam escalabilidade, segurança e maior versatilidade da rede da Ethereum”, argumentou.
Analistas pregam cautela na hora de comprar Ethereum antes e depois da atualização
Segundo Luca, se o investidor acredita no sucesso do The Merge, é recomendável a compra do Ethereum antes da atualização. No entanto, ele afirma que o preço da criptomoeda pode desabar se a atualização não ocorrer da forma planejada.
“Eu acredito que comprar antes é melhor, se o investidor achar que a atualização será bem feita. Se a atualização for ocorrer e a rede continuar a mesma por algum problema, vai ser uma derrota para os desenvolvedores, havendo uma queda significativa no preço”, relatou.
Na opinião de Lima, independente do The Merge, o Ethereum continua sendo uma criptomoeda muito atrativa, tendo grande potencial de crescimento ao longo prazo.
“Independente da atualização, que vai ser boa pra Ethereum, a criptomoeda já era extremamente promissora. Estamos falando da segunda maior criptomoeda do mercado, um projeto que sustenta muitos tokens. É a maior blockchain dentre as De-Fi, por exemplo”.
Armellini, assim como Luca, prega cuidado na hora de especular Ethereum, pois há o risco da atualização não ser bem sucedida. Apesar disso, acredita que criptomoedas sejam reservas de valor e ativos de longo prazo.
“Criptomoedas são ativos de longo prazo e reserva de valor. Quem deseja especular precisa tomar muito cuidado pois vai depender da entrega da atualização. Caso a atualização seja realmente efetiva, a tendência seria de valorização, neste cenário a compra antes da atualização seria mais vantajosa para os investidores. Porém o inverso também é verdadeiro”, explicou.