Com os recentes cortes da Petrobras nos combustíveis às distribuidoras, o mercado começou a criar expectativas mais reais sobre uma revisão para baixo dos níveis de inflação. De acordo com especialistas, com isso, alguns setores começam a ganhar mais atenção dos investidores, como é o caso de construção civil e, principalmente, o varejo, que tem apanhado bastante neste ano.
De acordo com Victor Bueno, analista da Nord Research, o primeiro setor que ganha um fôlego com possíveis revisões para baixo da inflação – visto que os combustíveis diminuíram de preço e são grandes responsáveis por puxar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – é o varejo.
“O primeiro setor que ganha fôlego é o do varejo, com empresas como Magalu, Via e Americanas, até outras varejistas, de outros segmentos, que acabam não sendo tão resilientes, como Lojas Renner, Marisa, enfim outras empresas de vestuário também acabam sendo muito prejudicadas por uma alta inflacionária”, disse Bueno.
“Existe uma dificuldade maior no repasse dos preços e, consequentemente, uma compressão das margens dessas empresas nesse período de alta inflacionária”, complementou o analista da Nord.
Ivan Barboza, sócio e gestor do Ártica Long Term FIA, reforça a ideia de que o setor de varejo deve se beneficiar de uma queda no preço dos combustíveis, já que gastando menos com combustíveis os consumidores – no geral – tem um pedaço do orçamento liberado para gastar com outras coisas.
“Existe um efeito, que não é tão grande, mas é relevante, que tudo que é consumo discricionário, varejo no geral, acaba sendo beneficiado quando você ganha um alívio em um dos pontos que estavam causando inflação, não exatamente pelo índice, mas a alta do petróleo estava drenando um pedaço maior do orçamento que as pessoas gastavam em combustível do que costumeiramente elas gastavam. Dessa forma, você ganha esse ‘share of wallet’”, afirmou o especialista da Ártica.
Outro setor que também vem sofrendo com a inflação em alta é o de construção civil. Isso porque as incorporadoras têm encontrado dificuldade no repasse de preços e batem de frente com a alta de preços dos materiais de construção, que afeta diretamente as margens dessas companhias. É o que explica Bueno.
“As margens brutas dessas empresas vêm sendo bastante comprimidas, então é um setor que pode se beneficiar de uma inflação mais baixa nos próximos anos, deixando de ter essas margens tão comprimidas como a gente vem acompanhando nos últimos trimestres”, disse o analista.
Algum setor pode perder atratividade com possível queda da inflação?
Os especialistas consultados pelo BP Money deram opiniões diferentes sobre a possibilidade de perda de atratividade de alguns setores da bolsa, em caso de uma onda de quedas na inflação.
Para Barboza, da Ártica, a queda da inflação não prejudicaria nenhum setor. “A queda do mês passado veio pelo corte do ICMS. Se ela tivesse vindo 100% por causa do petróleo, aí as petroleiras seriam prejudicadas. O ICMS caindo, quem sai prejudicado são os governos estaduais, mas para a bolsa isso não tem um impacto tão mensurável”, disse o especialista.
Já Bueno, da Nord, enxerga que empresas que possuem contratos indexados à inflação podem perder um pouco da atratividade.
“A gente tem concessionárias de rodovias, como Ecorodovias, CCR, que tem seus contratos atrelados a índices inflacionários. A gente tem transmissoras de energia, Taesa, Transmissora Paulista (Isa CTEEP), que estão se beneficiando de inflação mais alta, por conta de contratos indexados e temos empresas que não se beneficiam diretamente da inflação, mas a inflação acaba sendo uma consequência de alta dos produtos que elas acabam vendendo”, explicou o analista da Nord.
Bueno também destacou que empresas de commodities, como Petrobras, Petrorio, entre outras, tendem a apresentar resultados um pouco menores em relação aos últimos trimestres, já que elas se beneficiaram do cenário macro desafiador, com as commodities em alta e com uma maior facilidade de repassar a inflação nos preços.