O Banco ABC Brasil (ABCB4) apresentou, pela primeira vez, um lucro líquido acima de R$ 200 milhões em um trimestre (2T22). O resultado foi divulgado na última terça-feira (9). Segundo o diretor de RI do banco, Ricardo Moura, o segmento de middle do banco (voltado a atender empresas com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões) – que foi criado em 2019 – é o que oferece a maior oportunidade de crescimento para a instituição.
Em entrevista ao BP Money, Moura afirmou que o segmento de middle permitiu a ressegmentação de clientes. O executivo disse que o Banco ABC Brasil está, gradativamente, aumentando a exposição a esse segmento, já que isso dá ao banco uma pulverização maior de carteira.
“Nós entramos no segmento de middle em 2019 e ele já é o número um hoje em número de clientes. Como o ticket por cliente é menor, ele corresponde hoje a mais ou menos 8% da carteira de crédito expandida, mas já é um segmento importante para nós. A expansão no segmento sem dúvida é um dos fatores que ajudam nessa expansão de rentabilidade tanto na margem financeira quanto na rentabilidade sobre patrimônio líquido”, disse Moura.
Segundo Moura, o spread no segmento de middle é maior, além de oferecer um crescimento maior frente aos outros segmentos em que o banco possui uma presença mais forte.
“O ticket médio do segmento middle gira em torno de R$ 2,4 milhões versus o ticket médio do corporate que é de R$ 20 milhões. Ele também acaba comandando um spread maior, então o spread que a gente consegue atuar no segmento middle acaba sendo maior, mesmo ajustado por risco, e por último é um segmento que temos uma presença muito marginal, então nós conseguimos crescer com uma maior facilidade nesse segmento em relação aos outros segmentos onde temos uma presença mais estabelecida”, disse Moura.
Moura também afirmou que um dos pilares do banco para o bom resultado no trimestre foi a alteração realizada no mix de produtos da instituição financeira.
“Nós estamos diversificando o mix de produtos do banco, sendo mais ativos em derivativo, trazendo corretora de seguros, trazendo a comercializadora de energia, trazendo produtos com o foco mais digital, com o objetivo de diversificar as fontes de receita para aumentar o potencial que a gente tem com a nossa base existente de clientes”, disse Moura.
Veja também: De roubado a investidor, ex-goleiro Julio Cesar defende patrimônio com investimentos
Segundo o executivo, essa estratégia de mudança de mix de produtos, segmentação de clientes e alteração de mix de canais fez com que o banco pudesse aumentar a sua margem financeira com os clientes.
“Colocamos produtos com um maior valor agregado, que acabaram fazendo com que o spread na linha da margem financeira tivesse uma expansão importante. Essa estratégia consegue diversificar risco, então nossas métricas de crédito, de qualidade de carteira, continuam com performances muito saudáveis, embora você tenha um cenário macroeconômico com menor visibilidade, dado o aumento da inflação e o aumento muito substancial na taxa de juros”, disse o executivo do Banco ABC Brasil.
Moura também destacou que esse resultado trimestral não é um fato isolado e é fruto de um “processo constante e gradual”.
“É mais um passo em uma subida de rentabilidade. Ainda não estamos satisfeitos. Ainda existe uma série de alavancas que o banco vem trabalhando para conseguir maximizar rentabilidade e tem coisas ainda por fazer. É um trabalho que não está no seu final, mas estamos muito felizes com o resultado até agora”, disse o diretor de RI do Banco ABC Brasil.
Influência do momento macro no Banco ABC Brasil
Mesmo com a alta da inflação e dos juros no Brasil, o Banco ABC Brasil chegou a marca de 3.988 clientes corporativos, um crescimento de 547 clientes no segundo trimestre. O número equivale a uma alta de 32% em relação ao mesmo trimestre de 2021. O banco informou que foi a maior expansão de clientes em um único trimestre. De acordo com Ricardo Moura, o cenário macro não tem influenciado negativamente o banco (diretamente).
“A inflação não nos influencia diretamente. Ela acaba influenciando os nossos clientes, então quando você tem um processo com a inflação mais relevante existe um aumento de preço de insumo e por consequência para aqueles clientes que conseguem passar aquele aumento de inflação ou na mesma velocidade, você acaba tendo alguma pressão na margem desses clientes. Você pode ter algum impacto indireto na qualidade de crédito”, disse Moura.
“Onde nós temos uma influência dos juros dentro do nosso balanço é no nosso patrimônio líquido, que está investido em liquidez. Essa liquidez está investida em CDI e ali sim tem um aumento ou uma queda da receita, que chamamos de patrimônio líquido remunerado ao CDI, que é uma das linhas da nossa margem financeira gerencial e é nessa linha que você sente os efeitos da subida ou da queda de juros. Com a subida da taxa de juros, há um aumento da receita da margem financeira relacionada a essa linha”, acrescentou o executivo.
Moura também explicou que a subida dos juros no Brasil acaba aumentando o serviço da dívida e, com isso, há uma tendência de aumento de atraso na carteira do banco, já que o valor que o cliente (empresa) precisa pagar ao banco aumenta.
“Nesse trimestre, por exemplo, o atraso total até caiu. Está a níveis historicamente bastante baixos. Isso não quer dizer que podemos ter uma normalização dos níveis de atraso para frente. O que provavelmente vai acontecer é uma volta desses níveis de atraso”, disse Moura.
Ao longo dos últimos trimestres, a gente tem preparado o banco para um eventual cenário onde haja uma eventual subida do atraso. Fazemos isso através de um provisionamento maior. No trimestre passado fizemos um provisionamento genérico adicional, para o segmento middle, especificamente, e nesse trimestre fizemos um provisionamento adicional – que a gente chama de anticíclico para os segmentos corporate e CIB”, complementou.
O diretor destacou que o Banco ABC Brasil tem a ambição de continuar de maneira gradual a perseguir o aumento da rentabilidade nos próximos trimestres. “Isso não é uma garantia, depende de vários fatores, inclusive macroeconômicos que não estão no nosso controle, mas nossa missão é ir além da rentabilidade desse trimestre”, concluiu Moura.