FInfluencers ajudam a ampliar mercado e fazem sucesso nas redes sociais; confira

Influenciadores digitais que falam sobre finanças estão crescendo cada vez mais e impactando os investimentos do brasileiro

Se você já procurou por algum vídeo no YouTube ou redes sociais sobre dicas de investimento ou sobre algum conceito financeiro, é bem provável que você tenha se deparado com um “FInfluencer”. Trata-se da junção entre “finanças” e “influencer”, ou seja, influenciadores digitais que criam conteúdo sobre finanças e mercado financeiro. E esses influencers são responsáveis por grande parte do que é falado sobre investimentos no Brasil.

De acordo com a pesquisa “FInfluence: quem fala de investimentos nas redes sociais”, feita pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais), as contas de influenciadores digitais que falam sobre este assunto possuem um alcance de 91,5 milhões de seguidores. Para se ter uma ideia, este número é maior do que o total obtido por veículos da grande mídia especializados no mercado financeiro.

Os 277 influenciadores ativos acompanhados pela ANBIMA foram responsáveis por 406 mil publicações em seus perfis no Facebook, Instagram, Twitter e YouTube, o que representa uma média de 1.237 postagens diárias. A ANBIMA aponta que, apesar de esses novos atores serem encarados como concorrentes das casas de análises e de investimentos, na prática, eles atendem a uma demanda reprimida por conteúdo sobre o assunto.

O mercado de influenciadores

Hulisses Dias, conhecido como Tio Huli nas redes sociais, começou a falar sobre investimentos na internet em 2018. Hulisses possui 575 mil seguidores em sua conta no Instagram, onde publica conteúdos diversos sobre investimentos, e 135 mil inscritos em seu canal do YouTube, que é alimentado por vídeos mais teóricos e explicativos.

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Tio Huli, assim como diversos outros influenciadores digitais de finanças, utiliza as redes sociais para atingir um público mais amplo, porém a maior parte de seus ganhos vêm de conteúdos por assinatura, onde os usuários compram um curso, acesso a conteúdos exclusivos ou análises.

“No começo, eu achava que a gente tinha que dar tudo de graça para as pessoas, e eu tentei fazer isso. Mas elas não dão valor quando é de graça e, infelizmente, eu tive que entender que nós cobramos pelo comprometimento das pessoas”, afirmou. Ele conta que, atualmente, possui 32 mil alunos pagantes.

Gabriela Mosmann, analista de investimentos da Suno Research, começou a publicar conteúdo nas redes sociais enquanto fazia um mestrado em finanças como forma de divulgar seu trabalho. “Eu poderia fazer consultas online, algum tipo de conteúdo, curso, publicar um e-book”, contou.

“Em nenhum momento a ideia era ‘eu quero virar uma influencer’, era ampliar o que eu tinha, que era algo físico, e tentar alavancar isso na internet”, disse. Ela afirma que, em dado momento, percebeu que sua imagem tornou-se uma ferramenta mais poderosa do que ter uma empresa, seu objetivo primário. “Eu vi que usar a imagem da ‘Gabriela’ era muito mais poderoso”, afirmou.

No início de 2019 a Suno entrou em contato com Gabriela, que decidiu fechar uma parceria com a casa de análises, por considerar suas filosofias compatíveis. “Eu nunca quis ser uma influenciadora independente e eu vi que a Suno me auxiliaria muito porque eu não ia ficar dependendo mais da minha imagem, que é algo que eu não acho sustentável”, disse Gabriela, que possui 110 mil seguidores em sua conta no Instagram.

A ANBIMA aponta que 17% dos influenciadores monitorados já tiveram algum tipo de relação profissional com instituições do mercado. De acordo com os dados, a XP Investimentos é a instituição com mais parcerias ativas com influenciadores, seguida do BTG Pactual, Clear Corretora, Eu Quero Investir, Genial Investimentos e Suno Asset.

Já Hulisses faz parte dos chamados influencers independentes, e afirma não ter acordo comercial com nenhuma instituição financeira. “Se as instituições me chamarem, me convidarem para falar sobre qualquer coisa, eu falo, eu só não posso aceitar dinheiro deles. É um compromisso que eu tenho com a minha audiência”, destacou.

“Muito do que eu falo no meu canal é sobre como as instituições financeiras estão vendendo produtos ineficientes e caros, e se eu tivesse algum tipo de acordo financeiro seria um conflito ético muito grande”, explicou Hulisses.

Os perigos de falar sobre investimento na internet

Em todo o mundo, mas principalmente no Brasil, os influencers são um fenômeno. Um estudo feito com dados da Statista e HootSuite mostrou que o Brasil é o primeiro país do ranking mundial em que estes usuários são mais relevantes para a decisão de compra.

O estudo mostrou que cerca de 43% da população brasileira já realizou uma compra por influência desses usuários. Mas essa alta influência pode ser perigosa no mundo dos investimentos.

Por esse motivo, a ANBIMA e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) passaram a observar esses influenciadores com mais atenção. Em outubro do ano passado, as entidades firmaram um convênio para acompanhar a atuação desses agentes.

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Em 2020, Hulisses foi notificado pela CVM sobre suas falas a respeito do mercado de ativos. “Cometi o erro de falar sobre investimentos de ações sem ser analista e percebi que estava fazendo este trabalho”, afirmou. Então, se informou sobre o assunto e tirou o seu CNPI (Certificado Nacional do Profissional de Investimento), documentação obrigatória para atuar como analista de valores mobiliários, por determinação da CVM.

Usuários das redes sociais que fazem análises e dão dicas de investimentos passam a ser alvos da CVM pois podem colocar investidores em risco com os conteúdos que publicam na internet. Gabriela também conseguiu o seu CNPI ao começar a trabalhar com a Suno. “Quando eu vim para a Suno surgiu essa oportunidade de ser analista de investimentos, fazer uma carteira recomendada, mas para isso eu precisava do CNPI”, contou.

Para Hulisses, é importante obter um tipo de certificação, pois isso mostra que o influenciador se importa em seguir as regras e está “se separando do rebanho”. Ele diz que muitas pessoas acabam caindo em pirâmides financeiras ou são levadas a fazer daytrade de ações na B3 por influência desses players, o que causa dano à imagem do mercado. No entanto, ele diz que a fiscalização ocorre de forma irregular, pois a CVM “não tem braço para fiscalizar todo mundo”.

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Gabriela acredita que a certificação mostra autoridade e segurança. “Muita gente vai buscar recomendação na internet e não tem esse filtro de quem procurar. Aí pegam a informação de qualquer pessoa, que nem sabe sobre o que está falando, e acabam se prejudicando”, disse. “Isso faz com que o mercado fique mal-falado, então eu acho que seria muito bom, no mercado como um todo, se todos buscassem se certificar”, pontuou a analista.  

Influências positivas nas redes

Apesar dos riscos, a ANBIMA afirma em seu relatório que os FInfluencers podem ser “importantes aliados no contato direto com investidores, no compartilhamento de boas práticas de comunicação, marketing e educação financeira e no alcance de novas audiência”.

A partir de suas redes sociais, Tio Huli tenta mostrar como as pessoas são impactadas pelo mercado financeiro e pela bolsa de valores sem perceberem, e como podem fazer uso disso em benefício próprio. “O grande objetivo dos influenciadores é mostrar para as pessoas que elas podem estar aproveitando a vida e ganhando dinheiro ao mesmo tempo. Não é sugerir parar de trabalhar, é trabalhar para cumprir um propósito”, afirmou.

Outro exemplo é a participação feminina, que ainda é muito pequena entre os FInfluencers, e reflete o que é visto nas casas de análises e de investimentos no País. Entre os dez principais perfis acompanhados pela ANBIMA, apenas três são geridos por mulheres: Nathália Arcuri, Me Poupe! (que também pertence à Nathália Arcuri) e Nath Finanças. Por isso, a maior visibilidade de mulheres neste mercado é importante para incentivar sua inserção no mundo dos investimentos.

Gabriela Mossman diz que trata-se de um processo em andamento. “É uma mudança que leva um tempo porque ela precisa vir lá de trás. As mulheres precisam se interessar, se profissionalizar, estudar sobre isso. É um processo que está acontecendo, e é uma mudança muito positiva”, concluiu.