O crescimento do Nubank, que tem cerca de 50 milhões de clientes hoje, vem chamando a atenção de fintechs estrangeiras para o mercado latino-americano, mais especificamente o Brasil. Nesta semana, o banco digital alemão N26 inicia a operação no País para mais de 10 mil clientes, como informa a coluna do Broadcast, da “Agência Estado”. A empresa, que adiou os planos para vir ao País em 2019, chega agora, três anos depois, em fase de testes.
Segundo a reportagem da agência de notícias, com atualmente 2 mil usuários do cartão no Brasil, a fila de espera para se tornar um cliente da fintech alemã já supera 200 mil pessoas. A estreia do N26 para o público geral no País deve acontecer ainda neste ano, mas, por ora, não há data definida. O banco digital adianta, no entanto, projetos para oferecer crédito e uma plataforma de gestão de finanças pessoais para os brasileiros.
Com 7 milhões de clientes no mundo, o N26 anunciou a vinda para o Brasil ainda em 2019 e chegou a obter licença de SCD (Sociedade de Crédito Direto) junto ao Banco Central em 2020. Mas a estreia da fintech foi postergada diante da necessidade de ajustes nos produtos. Um exemplo é o seu cartão de crédito, que não existe na Europa. Por lá, a empresa trabalha com um cartão de débito associado a uma linha de cheque especial, aponta a “Agência Estado”.
Só que a empresa entendeu que a cultura de financiamento do brasileiro exigia uma revisão desse portfólio, tornando obrigatória a entrada no mercado nacional com o cartão de crédito. O período piloto será aproveitado pelo banco para entender o que funciona melhor: vender um cartão com limite pequeno e aumentá-lo, conforme a fatura é paga, ou conceder de saída um limite maior, estimulando uso do crédito.
N26 chega ao Brasil três anos depois do plano original
Apuração do “Neofeed” de 2019 apontou que os planos da empresa alemã de vir ao País ainda naquele ano haviam mudado por decisão da matriz. À época, um escritório já havia sido montado em São Paulo, e o N26 tinha contratado 15 pessoas, incluindo o executivo Eduardo Prota (ex-Cielo e ex-Santander) como líder da operação brasileira.
Prota segue ainda hoje no cargo de CEO para a filial no Brasil, e a equipe, segundo informado pela companhia ao fim do ano passado, tem 50 pessoas aqui no País.
O plano era desembarcar no Brasil na sequência do estabelecimento da operação nos Estados Unidos, ainda em 2019. Nesse meio tempo, além do aumento da concorrência no mercado brasileiro, que explodiu de soluções financeiras digitais nesses últimos anos, algumas questões regulatórias e de comportamento do consumidor podem ter pegado a empresa alemã de surpresa.
O mercado de fintechs no Brasil teria crescido tanto em 2019, que o N26 teria mais dificuldades em apresentar diferenciais competitivos – mesmo porque muitas fintechs daqui se inspiraram na alemã para modelar seus negócios. Outra barreira aqui era a crescente concorrência de contas de pagamentos, que têm grande penetração no mercado pelos canais de varejo, caso do Mercado Pago, PicPay, BanQi e PagBank.
Bater o Nubank e outras fintechs que já cativaram os brasileiros, como Banco Inter, Original e Neon, também não seria tarefa fácil à época. Ainda não é – verdade seja dita -, mas parece que o N26 preferiu fazer a tarefa de casa para aterrissar com mais segurança por aqui. Se, nesses três anos, a empresa foi bem-sucedida em construir uma visão robusta sobre o mercado nacional, só o tempo dirá. Apesar de seus planos cautelosos, o mercado – e os consumidores – estão curiosos com o que o neobanco alemão reserva para o País.