Historicamente, o Brasil é um País que já lidou por muito tempo com a inflação alta, inclusive na casa dos dois dígitos. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA registra alta de 11,73%, um dos maiores números em quase duas décadas. A persistência desses dois dígitos, em 2022, pode até assustar o mercado e a população geral, mas, segundo economistas consultados pelo BP Money, devido o histórico de inflação do País, o Banco Central do Brasil (BCB) conseguiu agir com antecedência e fazer “a lição de casa” antes das autoridades de BCs de grandes potências econômicas, que sofrem, agora, com a alta da inflação.
A professora de finanças da FAAP e sócia da The Hill Capital, Virginia Prestes, explica que o BCB foi o primeiro do mundo a começar a subir a taxa de juros quando ninguém ainda cogitava isso.
“O Brasil tem histórico de inflação alta. O BC brasileiro foi mais proativo e encarou o problema muito antes por conta desse histórico. O País é mais eficiente, nesse sentido, por estar à frente dos outros BCs na contenção da inflação”, afirmou Prestes.
Nesta semana, o Banco Mundial informou que o risco de “estagflação” está aumentando, visto que os dados econômicos mundiais mostram um ritmo de crescimento baixo junto a uma inflação em ciclo de alta.
De acordo com a especialista, o Brasil deve sair melhor – ou menos pior – que outros países. O histórico trouxe ao BCB o conhecimento de como lidar com a inflação, por isso o País entrou antes no ciclo de alta de juros. Os EUA, por exemplo, não viam uma inflação anual de 8,5% (anunciada em abril deste ano) desde 1981.
“Nesse ponto, a gente deve passar melhor por esta crise. EUA e Europa estão começando agora a subir juros, eles não sabem muito bem lidar com isso, então é muito difícil saber quanto e como isso vai impactar no mercado real”, disse Prestes.
A especialista destaca ainda que o “cenário Brasil” é diferente do cenário vivido nos países desenvolvidos, justamente por ter antecipado alguns fatores. Prestes cita que, durante a pandemia, enquanto EUA e Europa batiam recordes na bolsa, por exemplo, o Brasil vivia o cenário oposto, com a queda do mercado interno.
“De todo modo, já estamos com taxa de crescimento baixa, tivemos alguns problemas, como a recessão de que saímos há poucos anos, para a queda forte em 2020 e recuperação em 2021. O cenário Brasil já era diferente do internacional”, afirmou Prestes.
“A queda de EUA e Europa deve ser um pouco maior do que a nossa em relação à atividade econômica, mas não significa que o Brasil vai surfar super bem. É um problema global, que afeta o País de qualquer jeito. Ninguém tem essa resposta, até bancos centrais reconhecem que a inflação é um problema maior do que imaginavam”, completou.
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Para o doutor em controladoria e finanças da ESPM, Adriano Gomes, a atitude do Banco Central em elevar a taxa de juros antes de outros pares foi o que ajudou o País a não sofrer tanto frente o que deve acontecer na Europa e nos EUA neste momento.
“Saímos na frente e isso está sendo elogiado agora. O Brasil começou há um bom tempo a calibração da taxa de juros e é por isso que o real não perdeu tanto valor frente ao dólar, como alguns previam”, reforçou Gomes.
Sobre o fenômeno da “estagflação”, que o Banco Mundial afirmou que os países podem viver em breve, Gomes disse que, apesar das providências corretas para conter a inflação no cenário doméstico, o Brasil pode sofrer por causa dos outros países, que seguiram no sentido oposto da política monetária adotada por aqui desde o ano passado.
“Ao mesmo tempo que tomamos as providências corretas para conter a inflação, no sentido correto de redução de impostos (IPI e zeramento de imposto de importação), nos outros países isso foi no sentido oposto. A nossa lição de casa via Ministério da Fazenda e Banco Central foram corretas, mas dependemos de capitais externos, de preços de commodities e, principalmente, de insumos sobre os quais não temos controle e que vêm associados aos altos custos de fretes marítimos, que podem impactar diretamente nossa inflação”, finalizou o professor.