Há cerca de uma década, começaram a surgir as empresas que unem tecnologia e eficiência ao setor financeiro no Brasil. O movimento, que aos olhos de alguns poderia parecer passageiro, mostrou que veio para ficar e tem crescido a cada ano. A exemplo do Nubank, que nasceu como uma startup de tecnologia e finanças – em 2013 – e chegou a ocupar o posto de banco mais valioso da América Latina, valendo quase US$ 50 bilhões, a fintech BoletoFlex quer se tornar a “solução de pagamento mais desejada do Brasil”.
Com planos ambiciosos para o negócio, a fintech fundada em 2019 já atraiu aportes da PagSeguro e estima faturar R$ 30 milhões em 2022. Em entrevista ao BP Money, a coordenadora de marketing da BoletoFlex, Graziele Vidal, explicou que a solução da empresa é voltada a oferecer uma opção de pagamento sem cartão de crédito à população, já que cerca de 38% dos brasileiros ainda são desbancarizados.
“A BoletoFlex nasceu com a intenção de fazer o boleto parcelado, e hoje a gente faz Pix parcelado também. A companhia segue uma tendência global, que é o ‘buy now pay later’, que temos enraizado na cultura brasileira – através do carnê digital. Basicamente, a gente trouxe essa forma de parcelar para o digital”, contou Vidal.
Segundo a coordenadora de marketing da fintech, a BoletoFlex percebeu um crescimento da demanda pela modalidade de parcelamento no ano passado.
“Isso se deve ao movimento de digitalização dos últimos anos e da alta inflação, o que diminui o poder de compra à vista. Devido a este cenário macroeconômico, a projeção é fechar o ano com R$ 30 milhões de GMV (volume bruto transacionado), um crescimento de 284,6% na comparação com 2021. O número de transações abertas deve ultrapassar a marca de 1 milhão no ano”, disse Vidal.
A startup entende que seu objetivo de “democratizar o parcelamento” e a compra aos consumidores brasileiros tem sido alcançado. Por isso, agora, busca expandir suas operações, chegando a mais lojas físicas e consolidando parcerias com grandes marcas. Atualmente, a BoletoFlex possui parcerias com grandes empresas como Ame, CVC, Mormaii, Vialaser e Positivo.
“Nossa ideia é ir além do mercado digital, para o físico, através da maquininha. Neste ano, temos a projeção de faturamento de R$ 30 milhões. A pandemia acabou acelerando a entrada dos brasileiros no mercado digital, o que abriu as portas para a empresa. A gente teve uma alta a partir do segundo semestre de 2021. A pandemia trouxe mais consumidores para o digital e, por consequência, também nos trouxe mais clientes”, afirmou Vidal.
A BoletoFlex busca, no curto prazo, uma forte expansão para o mercado de lojas físicas. No longo prazo, a fintech quer ser “a solução de pagamento mais desejada do Brasil”. “Esse é um passo importante de expansão, visto que as lojas físicas correspondem a 89% do mercado brasileiro em contraponto a 11% do ecommerce”, disse Vidal.
“Estamos bem focados no mercado nacional, porque tem várias cidades que não exploramos ainda, além de muita oportunidade no varejo, principalmente no físico. É para essa frente que estamos indo neste momento. Estamos entrando agora em grandes redes, através da PagSeguro. O objetivo é se firmar no território nacional para, futuramente, pensar na internacionalização”, complementou a coordenadora de marketing.
Apesar de ter como principal investidor a PagSeguro, a BoletoFlex preferiu não comentar sobre os valores aportados pela empresa de maquininhas.
Com outros players do mercado oferecendo este tipo de serviço, a BoletoFlex precisou de mais de um diferencial para conseguir crescer e atrair a atenção do mercado. Segundo Vidal, um dos diferenciais da empresa é a maior elegibilidade em relação aos clientes.
“Conseguimos aprovar mais na análise de crédito, com segurança para não ter questões de inadimplência. Trouxemos machine learning e inteligência artificial para dar elegibilidade ao mercado”, disse Vidal.
A executiva também destaca que a plataforma é a única solução que opera em todos os canais de venda, desde e-commerce e aplicativos até televendas e lojas físicas.
“Hoje não temos players que fazem essa análise instantânea do perfil do cliente em loja física. A gente conhece o carnê digital, que é bem estruturado. Casas Bahia é um dos que são referência neste setor, mas ele não é feito de uma análise de crédito através da tecnologia, então a gente consegue trazer isso através da maquininha da PagSeguro. A mesma experiência que você tem ali no e-commerce, a gente consegue transpor para maquininha”, disse Vidal.
Estratégia da BoletoFlex para monetizar o negócio
Um dos principais dilemas enfrentados pelas startups, principalmente as que estão ligadas ao mercado financeiro, é o da monetização do negócio. Ou seja, crescer e rentabilizar, em alguns momentos, caminham em direções opostas. Isso porque, geralmente, a atratividade desses negócios está ligada diretamente à desburocratização de taxas e serviços. A coordenadora de marketing da BoletoFlex explica que a empresa possui duas formas de se rentabilizar.
“Temos duas formas de monetizar. A primeira delas é o take rate (percentual ganho sobre o que é vendido) e a segunda forma são os juros para o consumidor a partir de 1,99%, que variam de acordo com o score de crédito do comprador. Através disso a gente consegue monetizar”, explicou.
Segundo Vidal, o lojista que tem parceria com a BoletoFlex possui uma segurança maior nas compras feitas pelos clientes, já que a fintech assume todo o risco de inadimplência e chargeback (contestação e cancelamento de compra) do cliente.