Do início de 2022 até o dia 20 de abril, o dólar acumulava uma desvalorização de 17,14% frente ao real. Entretanto, desde sexta-feira da semana passada a moeda norte-americana começou a apresentar uma ampla valorização. Em abril, a moeda tem alta acumulada de cerca de 5%. Analistas consultados pelo BP Money explicaram os motivos que levaram o dólar a se valorizar frente ao real, após uma sequência de meses em queda, e destacaram que a tendência é de alta no curto prazo.
Para a analista CNPI e fundadora do Mulher na Bolsa, Caroline Daher, a decisão do FED (Federal Reserve, o banco central dos EUA) sobre a taxa de juros do país tem grande influência sobre a desvalorização do real frente ao dólar.
“O Fed já sinalizou que os juros nos Estados Unidos vão subir mais. Quando os Estados Unidos sobem os juros, isso leva uma parte dos investimentos do Brasil. Ou seja, tem fluxo estrangeiro saindo com força, porque o risco nos EUA é menor do que o risco no Brasil para os investidores”, explicou Daher.
Para Paulo Dutra, coordenador do curso de Economia da FAAP, outro motivo que levou o dólar a ter uma forte alta em uma semana está ligado ao surto de Covid-19 na China, que restringe grandes cidades do país e diminui diversas possibilidades de negócios do país com o Brasil e outras nações.
“O surto de covid na China atrapalha toda a cadeia produtiva, como aconteceu no início da pandemia. A China é o nosso principal parceiro comercial e do total das nossas exportações para a China, 80% são de minério de ferro e soja. Como existe a possibilidade de redução da atividade econômica na China, o minério de ferro é atingido imediatamente e consequentemente a empresa que mais produz o minério de ferro no mundo, a Vale, é afetada por isso. Com isso, há uma realocação rápida de ativos dos estrangeiros, saindo dessa empresa e buscando outras fontes de retorno para esse capital”, explicou Dutra.
A fuga de capital estrangeiro do país acontece, basicamente, por três motivos: redução da atividade econômica na China (principal parceiro comercial do Brasil); a queda da atratividade de empresas que eram vistas como oportunidades por investidores dos exterior, como é o caso da Vale, e pelo aumento da taxa de juros nos EUA e no restante do mundo – que deixa os títulos no Brasil menos atrativos. Tudo isso enfraquece a moeda nacional e fortalece o dólar.
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“Vai acontecer uma revoada de recursos que estavam ingressando no mercado brasileiro indo para os títulos americanos. É um processo natural quando se tem uma elevação de juros nos bancos centrais ao redor do mundo. há um novo alinhamento das taxas de câmbio em vários países emergentes. O Brasil não fica imune a isso”, afirmou Julio Hegedus Netto, economista Chefe da Mirae Asset.
Outro ponto que também pode afetar a moeda local e valorizar o dólar é a instabilidade política, de acordo com a analista Caroline Daher.
“Ao mesmo tempo que tudo isso acontece, aproxima-se a época de eleição aqui, instabilidade política, inflação alta e a parte fiscal do Brasil é horrível. Isso também gera pressão no dólar”, disse Daher.
Como deve ficar o dólar no curto prazo?
De acordo com os analistas consultados pelo BP Money, a tendência, agora, é de uma depreciação do real frente ao dólar, em função do movimento mais brusco do banco central americano em relação à taxa de juros.
“Acabou a lua de mel do ingresso de recursos externos indo para empresas de commodities no Brasil. A perspectiva que se tem é de um câmbio ainda mais depreciado, um dólar mais valorizado em relação ao real. A sinalização dos EUA é de uma intensidade maior na elevação da taxa de juros de curto prazo no fed fund, agora na reunião do dia 4”, afirmou Netto.
O economista Paulo Dutra segue a mesma linha de raciocínio. Segundo ele, é esperado que no curto prazo o dólar siga em valorização frente ao real.
“Considerando a redução da atividade econômica na China e aumento de juros internacionais, a tendência do dólar é se valorizar em relação ao real no curto prazo”, disse Dutra.