Tradição entre os investidores brasileiros, a renda fixa sempre foi sinônimo de segurança para boa parte dos investidores, já que, em sua maioria, une rentabilidade – mesmo que relativamente pequena em certos períodos – com baixo risco.
Com a taxa básica de juros (Selic) voltando a um patamar considerado alto nos últimos tempos, o investimento em renda fixa cai, agora, novamente nas graças dos investidores.
O que é renda fixa?
Como o próprio nome já diz, a renda fixa é uma classe de investimentos em que a rentabilidade do título é determinada no momento da contratação.
Na compra, o investidor “empresta” seu dinheiro para uma instituição, que pode ser o governo, bancos ou outras empresas. Após o “empréstimo”, o investidor recebe esse valor de volta no futuro, já acrescido de juros.
Como funciona?
Os cálculos de rentabilidade mais comuns são três: papéis prefixados, pós-fixados e híbridos. No investimento prefixado existe uma porcentagem estabelecida de resgate. Com isso, no vencimento do investimento, o investidor receberá a remuneração combinada ao final do período, que é a data de vencimento do contrato.
Ou seja, um investimento de R$ 100 prefixado a uma taxa de 10% ao ano, após um ano, renderia R$ 110 brutos ao vencimento para o investidor.
Já para o pós-fixado, o retorno é atrelado a um indexador da economia, como a taxa Selic e o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Ou seja, o investidor não sabe ao certo a sua rentabilidade, já que os indicadores podem variar ao longo do tempo.
Por fim, os papéis híbridos são a combinação dos prefixados e pós-fixados. Assim, a rentabilidade será composta por uma parte fixa e outra variável. Como exemplo, temos uma aplicação de um título que dê um retorno de 6% a.a + IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial.
Normalmente, esses investimentos têm cobrança de imposto que segue a tabela regressiva. Dessa forma, quanto maior o tempo de aplicação, menor o valor de imposto a pagar, e vice-versa. A alíquota mais alta do IR, para aplicações de até 180 dias, é de 22,5%. Já a menor é de 15%.
Tipos de Investimentos em Renda Fixa
O clichê de mercado é que o perfil do investidor em renda fixa é mais conservador. No entanto, existem inúmeros tipos e títulos de investimentos nessa modalidade e que podem atender diversos perfis de investidores. Qual o que mais te agrada?
– Poupança
Modalidade mais tradicional de aplicação entre os brasileiros, a poupança não tem uma grande rentabilidade, mas conta com uma grande parcela da população brasileira que ainda desconhece a maioria dos tipos de investimento.
A rentabilidade da poupança depende da taxa Selic. Caso a taxa básica de juros esteja acima de 8,5% ao ano, o rendimento será de 0,5% ao mês mais a variação da TR (Taxa Referencial).
No entanto, se estiver igual ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento será equivalente a 70% da Selic mais a variação da TR.
Além da rentabilidade em cima da Selic e da TR, a poupança também conta com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), um sistema de proteção ao depositante caso ocorra alguma crise bancária.
– Tesouro Direto: Títulos Públicos
Um dos investimentos mais procurados, principalmente por quem quer sair da poupança, é o Tesouro Direto, um programa do Tesouro Nacional que comercializa títulos públicos federais.
Quando deseja financiar suas dívidas internas, o governo coloca esses títulos no mercado financeiro para angariar dinheiro. O investidor “empresta” determinada quantia ao governo e, depois, recebe o valor acrescido de juros.
Com isso, caberá ao investidor escolher a categoria de rendimento que irá aplicar. Num investimento prefixado, as opções são o Tesouro Prefixado e o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais.
Já nos pós-fixados a escolha é o Tesouro Selic, enquanto nos títulos híbridos o investidor opta pelo Tesouro IPCA+ ou Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais.
Esse investimento é considerado o mais seguro de todos, já que o governo é a única entidade que pode emitir dinheiro para pagar as próprias dívidas caso algo de ruim ocorra.
– CDB (Certificado de Depósito Bancário)
A modalidade é um tipo de empréstimo que o investidor faz ao banco, para que o mesmo possa captar recursos a fim de financiar suas atividades. A sua lógica é a mesma do Tesouro Direto, em que a quantia investida retorna para o investidor com juros.
Nesse caso, normalmente a modalidade segue a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) como referência, um título emitido para que os bancos façam empréstimos entre si a esta taxa que acompanha de perto a Selic do período.
O investimento pode ser feito pelos três cálculos de rentabilidade mais tradicionais da renda fixa. O mais utilizado, neste caso, é o pós-fixado que, normalmente, oferece como remuneração o percentual do CDI. O período de investimento é opcional e varia desde liquidez diária até títulos com vencimentos acima de três anos. Esse investimento também conta com a proteção do FGC de até R$ 250 mil por CPF.
– LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio)
Esses tipos de investimento seguem a mesma lógica dos CDBs. Além disso, também são emitidos por instituições financeiras.
Porém, se diferem dos CDBs pela finalidade do crédito, que é direcionado para o setor imobiliário, no caso da LCI, e do agronegócio, no caso da LCA.
Esses títulos também possuem a segurança do FGC, além de uma grande vantagem, que é a de serem isentos de Imposto de Renda para o rendimento das pessoas físicas.
– Fundos de Renda Fixa
Esse veículo de investimento é uma espécie de condomínio, no qual vários “condôminos” (leia-se cotistas ou investidores) formam o patrimônio total do Fundo, que será investido em produtos de Renda Fixa.
O detalhe é que, nesse tipo de aplicação, não será possível saber qual será o retorno. Além disso, também não há garantia do FGC e existem taxas de administração que variam de corretora para corretora.
– CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio)
A dinâmica é praticamente a mesma da LCI e LCA, tendo exatamente a finalidade de crédito. Geralmente a rentabilidade é pós-fixada ou híbrida.
Além disso, essa modalidade é isenta de IR (Imposto de Renda), sendo uma vantagem para o investidor. Porém, não contam com o FGC.
Mais complexos, os CRIs e CRA envolvem securitização, sendo um processo que transforma direitos de crédito em papéis negociados no mercado financeiro. Esses direitos podem ser, por exemplo, parcelas de um financiamento imobiliário ou o pagamento de aluguéis mensais.
– Debêntures
Títulos de créditos emitidos por empresas e negociadas no mercado de capitais, as debêntures têm como objetivo quitar dívidas ou financiar projetos das organizações emissoras.
Com isso, a modalidade costuma ter um vencimento mais longo que outros produtos de renda fixa. Não é raro encontrar debêntures com prazo de cinco ou até dez anos à frente.
As debêntures também podem ter retornos prefixados, pós-fixados ou híbridos.
A aplicação não possui garantia do FGC e sofre tributação do IR, mas também existem categorias especiais, como as debêntures Incentivadas, em que o investidor não paga IR.
– Letra de Câmbio
A Letra de Câmbio é semelhante ao CDB, mas é emitida por financeiras para captar recursos e emprestar para os seus clientes.
Sociedades de crédito, financiamento e investimento são os tipos de financeiras que captam esses recursos dos investidores.
A LA conta com segurança do FGC, mas está sujeita a tributação regressiva do IR.
Vale a pena investir em renda fixa?
Mas agora que você já conhece os tipos de investimentos, vale a pena investir em renda fixa?
Independente do momento em que vivemos ou qual o patamar da taxa Selic, é importante ter renda fixa na carteira. Se estivermos em um período de taxa de juros baixa, deve-se ter alocado nessa modalidade um capital de urgência, no qual chamamos de reserva de emergência.
Não é recomendado alocar uma reserva de emergência em renda variável, já que, em um momento ruim, irá sacar tendo perda.
Com os juros altos, é bom aproveitar as boas taxas com risco baixo. Portanto, é um bom momento para se investir na renda fixa.
No período pré-pandêmico, os juros estavam próximos a 6%, o que acabou “obrigando” o governo a, na pandemia, realizar uma medida expansionista, reduzindo-os para perto de 2%.
Naquele momento, muitos especialistas trataram a renda fixa como “morta”. Após esse período turbulento, com a volta da taxa básica de juros para os dois dígitos, passamos a acompanhar saques bilionários em fundos de ações e multimercados para voltar para a renda fixa.
Portanto, independente do seu perfil, seja conservador, moderado ou agressivo, é importante investir em renda fixa.
É seguro investir?
O investidor precisa sempre prezar pela segurança em seus investimentos. Apesar do risco baixo, a renda fixa não está totalmente livre de riscos.
O principal deles é o risco de crédito, já que envolve a possibilidade de perdas causadas pela incapacidade financeira da empresa emissora, ou seja, tomar um calote – no bom português.
Os riscos, porém, podem ser reduzidos de acordo com os cuidados necessários. Por exemplo, títulos que possuam proteção do FGC são considerados mais seguros. Vale salientar, no entanto, que a garantia é limitada a R$ 250 mil por investidor e por instituição financeira.
Outro risco presente é o de mercado. Ele é mais alto nos ativos prefixados e aparece na situação em que o investidor quer ou precisa resgatar os recursos antes do vencimento.
Para se proteger dessa situação, é necessário vender os papéis pelo valor atual de negociação deles no mercado. Isso porque, quando realizado o investimento, o rendimento acertado previamente vale apenas se a aplicação estiver mantida até o vencimento.
Exemplificando o risco do mercado: vamos imaginar que a selic tenha subido no período para um patamar acima do praticado na época em que o investimento foi feito. Quando isso acontece, a tendência é que os títulos antigos percam valor.
Com isso, quem irá se interessar por um papel que está oferecendo uma taxa de juros mais baixa do que a atual?
Por fim, vale salientar que existem investimentos conservadores e ousados, isso vai fazer com que o grau de risco varie.
Vantagens e desvantagens
Como tudo na vida, sempre teremos as vantagens e as desvantagens e, claro,, no mercado financeiro não é diferente. Nessa modalidade é possível dizermos que existem mais prós do que contras.
Entre as vantagens de se investir em renda fixa está a maior previsibilidade quanto ao comportamento dos papéis e os ganhos que podem ser obtidos. Outro benefício é a variedade de produtos disponíveis, cada um com uma característica bem específica, e de emissores possíveis.
Segurança, rentabilidade, liquidez, diversificação, isenção e previsibilidade são outros benefícios da renda fixa.
Em contrapartida, a carência, algumas taxas, o risco do FGC e os de resgate preocupam os investidores.
Renda Fixa x Renda Variável
Diferente da renda fixa, na variável o investidor não consegue saber previamente qual será a rentabilidade da determinada aplicação.
Existem duas maneiras de ganhar na bolsa de valores: distribuição de dividendos aos acionistas pelas companhias emissoras e a valorização dos papéis no pregão.
Apesar de projeções e estudos dos analistas de mercado, é muito difícil assegurar que o cenário irá se confirmar na renda variável.
Como investir em renda fixa
Apesar de o investimento em renda fixa não ser tão complexo, é importante sempre buscar especialistas, além de também adquirir conhecimento para entender como funcionam os títulos.
É de fundamental importância analisar como está o mercado para ter ciência do melhor título a ser escolhido na oportunidade.
No segmento de negócios, como investir em uma empresa, é bom estudar como está a performance da mesma, para que seja evitado o risco de perder todo o valor investido.
Antes de aplicar qualquer dinheiro é essencial pesquisar instituições financeiras, como bancos e corretoras.
Com isso, o investidor passa a ter conhecimento dos produtos que a organização pode oferecer e as possíveis taxas que também deverá arcar.
Custos e taxas da renda fixa
Se o investidor possui em sua carteira títulos como CDB (Certificado de Depósito Bancário), LC (Letra de Câmbio), Debêntures comuns e Tesouro Direto, as alíquotas praticadas sobre a rentabilidade são as seguintes:
Até 180 dias de investimento: 22,5%
Entre 181 a 360 dias de investimento: 20%
Entre 361 e 720 dias de investimento: 17,5%
Acima de 720 dias: 15%
Com um exemplo de um investimento de mil reais em um ano, a rentabilidade no período foi de cem reais. Vale salientar que a alíquota é cobrada em cima do valor que rendeu e não do total. Com isso, a alíquota do IR cobrado é de 17,5%, o que dá R$17,50 de imposto.
Uma vantagem para o investidor é que o mesmo não precisa se preocupar com o recolhimento do IR e do IOF, pois eles são descontados diretamente na fonte e o valor líquido do investimento cai diretamente na respectiva conta de destino.