Acionistas minoritários da Petrobras querem o adiamento da eleição para representantes do conselho da estatal agendada para o próximo dia 13, diante das dificuldades do governo para encontrar nomes para comandar o colegiado e a própria empresa.
O governo ainda tenta encontrar substitutos para os candidatos a presidente do conselho, Rodolfo Landim, e presidente da Petrobras, Adriano Pires, mas a avaliação entre investidores é que a confusão pode prejudicar a eleição.
Landim e Pires anunciaram suas desistências no domingo (3) e na segunda (4), respectivamente. Indicados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) com apoio do centrão, os dois enfrentaram resistências da área de governança da estatal.
As cédulas de votação para nomes do conselho já foram distribuídas com os dois nomes e, na avaliação de alguns fundos, a troca poderia gerar problemas ou até a judicialização da assembleia, já que poderia influenciar no resultado final.
O pedido de adiamento, porém, não é unânime: há grupos de minoritários que entendem ser possível realizar a votação, alegando que há outros temas importantes na pauta, como a aprovação das demonstrações financeiras de 2021.
“O adiamento da AGO [assembleia geral ordinária] não atende o melhor interesse da Petrobras”, diz o advogado Leonardo Antonelli, que representa fundos com participação societária na estatal e já foi do conselho de administração da companhia.
“A votação no exterior já se iniciou e a estatística comprova que os estrangeiros votam, na sua imensa maioria, nos candidatos indicados pelos minoritários. Os nomes dos indicados já foram depositados (no boletim de vota à distância) e votados.”
O governo, afirma, pode indicar e votar em novos nomes na própria assembleia e, como acionista majoritário tem votos suficientes para eleger seus representantes, mesmo sem contar com os votos já depositados por fundos.
Uma das soluções, segundo fontes, seria adiar apenas a eleição para o conselho, mantendo a votação dos outros itens da pauta. Nesse caso, a administração atual poderia ficar no cargo até que uma nova assembleia seja realizada.
Essa alternativa, porém, poderia também criar risco de judicialização do resultado. Por isso, há fundos que defendem que a interrupção do processo pode ser mais traumática do que sua manutenção.
É a segunda vez que a lista de indicações do governo é alterada. A primeira versão tinha o nome do general Joaquim Silva e Luna, que acabou sendo demitido por Bolsonaro após os mega-aumentos nos preços da gasolina e do diesel há pouco menos de um mês.
A segunda versão já trazia os nomes de Landim e Pires, este último indicado para substituir Silva e Luna na presidência da companhia. Nesta segunda, porém, Pires formalizou sua desistência alegando que não teria tempo para sair da sociedade de sua consultoria.
Ele é fundador do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), que presta serviços para clientes e concorrentes da Petrobras. Seu filho também é sócio da consultoria e também teria que sair para atender aos requisitos de governança da companhia.
Na Petrobras, ainda não há decisão sobre adiamento da assembleia ou da eleição para o conselho. Há rumores, porém, que o próprio governo pode pedir que o encontro de acionistas seja adiado, diante da dificuldade de encontrar nomes para substituir Landim e Pires.
A assembleia de 2021 também foi marcada por polêmicas em relação às cédulas de votação. Minoritários chegaram a pedir a suspensão do encontro alegando que a contagem dos votos estava errada. Em um primeiro momento, a Petrobras negou, mas depois acabou cedendo e realizou nova votação.