Há 15 anos, em 2007, o então presidente-executivo da Apple, Steve Jobs, apresentava o iPhone em um aguardado lançamento em São Francisco, na Califórnia (EUA).
O celular da marca não inaugurou a tela sensível ao toque nem a possibilidade de baixar aplicativos. Não era o único a tocar músicas e tampouco foi o primeiro a oferecer acesso à internet. Não obstante, revolucionou o mercado de smartphones.
Aos 74 dias de vida, o produto chegou a 1 milhão de unidades vendidas, segundo noticiou a empresa na época. Desde 2019 a Apple não anuncia o número de vendas do celular, mas no início de 2021, o sucessor de Jobs, Tim Cook, comemorou a marca de 1 bilhão de aparelhos ativos no mundo. Em setembro do ano passado, o analista da indústria tecnológica Horace Dediu afirmou que a marca chegou aos 2 bilhões de iPhones vendidos.
O aparelho é a principal fonte de receita da Apple: em 2021, foi responsável por US$ 191,973 bilhões à empresa, mais da metade do arrecadado com todos os produtos.
O carro-chefe faz aniversário em tempos de festa para a Apple. Nesta segunda-feira (3), a empresa tornou-se a primeira no mundo a atingir US$ 3 trilhões (R$ 17 trilhões) em valor de mercado, mais que o dobro do PIB brasileiro de 2020. Em menos de 16 meses, a marca inchou US$ 1 trilhão, uma consequência da liquidez causada pela pandemia e da valorização das big techs após a digitalização da sociedade nos últimos dois anos.
Um dia depois do feito, a fabricante dos famosos celulares de executivos do início dos anos 2000, a BlackBerry, encerrou os serviços de sua linha de smartphones. Os aparelhos, que tinham minúsculos teclados físicos, foram pioneiros no envio de emails e mensagens instantâneas. A linha da marca foi desbancada pelo iPhone.
Ao apresentar o celular da Apple, em 2007, Jobs disse que tratava-se de três aparelhos em um só: comunicador de internet, telefone e iPod –o tocador de música lançado em 2001 e também sacrificado com o advento do iPhone.
O pesquisador de tecnologia da PUCRS Eduardo Pellanda teve todas as versões do aparelho que, ao completar dez anos, foi tema de um livro organizado por ele e pelos colegas André Pase e Melissa Streck.
“Cinco anos depois, o impacto do iPhone só aumentou”, afirma Pellanda. “Ele foi o símbolo dos produtos que revolucionaram o nosso começo de século.”
Pedir um motorista por um aplicativo, apresentar uma carteira de vacinação digital, reservar uma casa a milhares de quilômetros de distância. Todas essas atividades, que em alguns casos revolucionaram mercados até então estáveis, são possíveis graças ao smartphone, que tem no iPhone o seu símbolo.
Ele ganha esse status após ser o primeiro aparelho móvel a não tentar ser um desktop em miniatura, como tentou o Pocket PC, da Microsoft, um “computador de bolso”. A Apple declarou independência também das operadoras, que antes ditavam os rumos dos celulares.
Nesse design, a busca pela usabilidade perfeita, uma obsessão de Jobs, impulsionou o aparelho e criou uma legião de fãs e defensores aguerridos. “De maneira geral, se você pegar todos os fatores que interessam para um smartphone –software, bateria, câmera, visor, tela–, o iPhone é o que tem o melhor resultado”, afirma Pellanda.
O “controle de ponta a ponta”, outra exigência do empresário, também tornou-se um trunfo da empresa hoje, momento em que a segurança de dados é um tema caro à sociedade. Naquele início de século, a ideia era questionada por limitar a experiência do usuário.
“Há um argumento super forte: quanto mais fechado, mais seguro é”, diz Pellanda. “Hoje, em um smartphone da Samsung, por exemplo, dados passam pelo Google, por um outro desenvolvedor, tem várias camadas diferentes.”
Acessar essa tecnologia tem um preço. A Apple não se coloca como a empresa que vai fazer o telefone mais barato, afirma o pesquisador, porque ela também se posiciona como uma companhia que procura peças premium. Em 2007, a versão mais simples do primeiro iPhone poderia ser comprada por US$ 499 (R$ 1.072,75, na época). Hoje, a versão mais simples do último lançamento sai por US$ 699 (R$ 3.966,61).
O resultado é um celular que virou uma espécie de marcador social. Cada vez mais distante dos brasileiros à medida que o preço do dólar sobe a galope, o aparelho não deixou de ser objeto de desejo no país. Estatísticas de busca do Google mostram que enquanto o interesse do mundo no iPhone atingiu seu pico em 2012, caindo deste então, no Brasil ele segue estável.
“O iPhone é tudo, menos um telefone”, diz Hugo Tadeu, professor de inovação na Fundação Dom Cabral. “O grande barato da Apple foi fazer uma integração de serviços, que tem telefonia, acesso a jogos e web pelo iOS [sistema operacional da Apple].”
Design focado no cliente e levantamento de dados, mantra das indústrias de tecnologia de hoje, foram a chave do sucesso para o iPhone, segundo Tadeu. “O design não é somente as pontas arredondadas do aparelho. Tem a ver com o levantamento de informação do cliente, de como ele usa o telefone –e como é possível aprimorar o serviço.”
Em outras palavras, o foco na experiência do usuário, outra obsessão de Jobs e mais uma justificativa do culto à sua figura no Vale do Silício.
“A grande sacada da Apple foi fazer o que a gente chama de inovação incremental. Fazer melhoria daquilo que já existia, integrando em uma única plataforma. Câmera, telefone, acesso à internet. Ou seja, tenho um minicomputador na minha mão”, afirma.
Já na década de 1980, a Apple tinha a patente de um sistema touch que integrava música e telefone. “Por trás do iPhone tem uma empresa que investe pesadamente em pesquisa e desenvolvimento”, diz Tadeu. As últimas patentes deixam pistas dos próximos passos. Em meio ao frenesi do metaverso no mundo, a Apple descreve um equipamento de realidade virtual que pode ser integrado ao iPhone.
“Um dispositivo montado na cabeça pode ser usado por um usuário para exibir informações visuais dentro do seu campo de visão. O aparelho pode ser usado como um sistema de realidade virtual, um sistema de realidade aumentada e/ou um sistema de realidade mista”, descreve a marca.