Estiagem gera prejuízos no Sul e Centro-Oeste

O milho está sofrendo mais porque as lavouras estão em um estágio mais avançado no Rio Grande do Sul.

A falta de chuva castiga plantações e gera prejuízos para produtores rurais do Sul e de parte do Centro-Oeste. Milho, soja e pastagens estão entre as culturas já afetadas pela estiagem que ganhou força na reta final de 2021.

A seca preocupa os governos de Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, que debateram na segunda-feira (3) eventuais medidas de auxílio com o Ministério da Agricultura.

Após a reunião, a pasta afirmou que avalia a possibilidade de intermediar com instituições financeiras a prorrogação do pagamento de dívidas de produtores rurais desses estados.

No Paraná, a falta de chuva já prejudicou a primeira safra de milho e parte das lavouras de soja. Também há registros de perdas em pastagens, frutas e hortaliças, entre outras culturas.

Até o momento, a estimativa é de prejuízo de R$ 16,8 bilhões em razão da estiagem prolongada, indica a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento.

Em dezembro, o governo do Paraná estendeu o quadro de emergência hídrica. A medida autoriza companhias de saneamento a implantarem rodízio nos municípios em que o sistema de abastecimento está comprometido pela seca.

No Rio Grande do Sul, 138,8 mil propriedades rurais já amargaram perdas em decorrência da falta de chuva, aponta a Emater-RS, que presta serviços de assistência técnica e extensão rural a agricultores do estado. O número considera prejuízos contabilizados até 30 de dezembro.

A cultura mais castigada até o momento é a do milho, de acordo com o diretor técnico da Emater-RS, Alencar Rugeri. Segundo ele, há plantações em que as perdas chegam a 100%.

O milho está sofrendo mais porque as lavouras se encontram em um estágio mais avançado no Rio Grande do Sul em comparação com culturas como a soja, conforme Rugeri. Há ainda relatos de danos em pastagens e na fruticultura do estado.

O número de municípios gaúchos em situação de emergência já ultrapassou a marca de cem. “O milho tem mais perdas até agora. A soja ainda tem potencial de recuperação”, diz o diretor.

Em Santa Catarina, a principal preocupação também é com o milho neste momento. Em propriedades do oeste do estado, parte das lavouras chegou a registrar perdas na faixa de 50% até dezembro, segundo Haroldo Tavares Elias, analista de socioeconomia da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina).

“Choveu muito pouco em dezembro”, relata.

O produtor Magdiel Kretschmer, 36, lamenta os efeitos do clima adverso. Ele conta que perdeu quase a totalidade do milho que havia sido plantado em setembro em uma área de sete hectares de sua propriedade, localizada em Mondaí, no extremo oeste catarinense, a cerca de 650 quilômetros de Florianópolis.

A seca também danificou pastagens, o que aumentou as dificuldades para o produtor alimentar o gado leiteiro. Assim, Kretschmer foi forçado a negociar 15 de suas vacas há cerca de 15 dias. Ele manteve 45 animais na propriedade, responsáveis pela produção de leite para a indústria.

O agricultor torce pela volta da chuva nas próximas semanas. “A gente espera que chova para conseguir plantar o milho safrinha agora. Se isso não acontecer logo, a gente perde o ciclo, porque tem o risco de pegar geada depois”, conta.

Em Mato Grosso do Sul, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) decretou situação de emergência nas 79 cidades do estado devido à estiagem. A medida é válida por 180 dias. O documento foi publicado nesta terça-feira (4) no Diário Oficial do Estado.

Em nota, o governo local afirma que “a intenção é contribuir com o setor produtivo, que já começou a sentir os prejuízos” da escassez de chuva. A medida abre caminho para produtores acionarem seguro e renegociarem dívidas.

LA NIÑA
Conforme o meteorologista Francisco de Assis, chefe de previsão do tempo do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o período de seca no Sul e no Centro-Oeste pode ser associado ao fenômeno La Niña.

Esse fenômeno é conhecido por afetar a distribuição de chuvas, impactando a circulação de ventos e a umidade. Quando ele é registrado, a tendência é de estiagem no Centro-Sul do Brasil.

De acordo com Assis, a previsão sinaliza uma leve melhora no quadro de chuvas para o Paraná e o Mato Grosso do Sul na primeira quinzena de janeiro. Já Rio Grande do Sul e Santa Catarina tendem a seguir em situação “irregular” nesse período, diz o técnico.

A estiagem ocorre no momento em que a Bahia sofre os reflexos de fortes chuvas entre o final de 2021 e o começo de 2022. A situação causou enchentes, deixando um rastro de destruição no estado nordestino.