A quarta fase do open banking, ou sistema financeiro aberto, começa nesta quarta-feira (15) e prevê a integração de serviços não bancários ao modelo, como previdência, seguros, câmbio e investimentos.
A inclusão desses produtos dá início ao formato ampliado do sistema, conhecido como open finance.
“Com a fase 4, o open banking inicia o compartilhamento de um conjunto de informação além de produtos e serviços bancários tradicionais, o que marca o início de sua migração para open finance”, afirmou o Banco Central em nota na semana passada.
O open banking (agora open finance) é um conjunto de regras e padrões estabelecidos pelo BC para o compartilhamento de dados, sob expressa autorização do cliente, entre instituições financeiras.
O modelo dá ao consumidor a possibilidade de autorizar ou não que bancos e fintechs consultem seu histórico bancário e outras informações, que antes eram privadas e de difícil acesso inclusive para o próprio usuário.
Na quarta fase, o BC determina que informações de serviços financeiros não bancários também sejam disponibilizadas.
Dessa forma, ele não precisa construir um novo relacionamento na hora de migrar de instituição, pode apenas levar seus dados. Além disso, o sistema permite que sejam oferecidos produtos e serviços mais vantajosos por bancos com o qual não se tem vínculo.
Na prática, a nova etapa só sairá do papel em março de 2022. Agora, os bancos terão que iniciar processo de certificação funcional das APIs -conjuntos de protocolos que permitem que um sistema se conecte a outro para consumir dados de maneira padronizada- dos serviços que serão compartilhados.
Depois de obtidos os certificados, os bancos deverão registrar as informações nas APIs. Para serviços de seguros, previdência complementar e capitalização, o prazo é até 4 de março do próximo ano.
Os serviços de credenciamento em arranjos de pagamentos (maquininhas de cartão) terão até 11 de março para fazer o registro. Já as operações de câmbio devem estar integradas até 18 de março.
Informações sobre produtos de investimentos deverão ser compartilhadas até 25 de março de 2022.
Para especialistas, o open finance será sentido pelo consumidor em médio e longo prazos, diferentemente do Pix (sistema de pagamento instantâneo), que teve adesão imediata.
“Esse é o pontapé de preparação para o open finance, onde outros dados financeiros poderão ser compartilhados no sistema aberto. O BC pretende com o escalonamento trazer eficiência na implementação, e especialmente garantir a qualidade desse ecossistema que está sendo construído pelo mercado”, explica a coordenadora do projeto no Tribanco, Paloma Oliveira.
“A estratégia de open banking no Brasil está sendo bem planejada pelo mercado e pelo BC para chegar ao consumidor de forma segura e estável, acredito que os ganhos virão a médio prazo, visto que é uma transformação digital do mercado como um todo”, ressalta.
Leandro Pupe Nóbrega, da plataforma de open banking Belvo, destaca que a nova fase deve abrir possibilidades de novos modelos de negócios.
“Quando o cliente tiver acesso de forma facilitada a um serviço financeiro completamente adaptado ao contexto em que ele vive, a aderência ao open banking será exponencial e viveremos um novo mundo de infinitas possibilidades”, diz.
“Quando falamos sobre compartilhamento de dados, estamos dizendo na capacidade da empresa de agregar mais dados, e com isso gerar mais informações. Hoje a informação é o novo petróleo, com ela as empresas são capazes de gerar novas transações”, pontua Nóbrega.
SETOR DE SEGUROS É UM DOS DESTAQUES
Em seu ponto de vista, o setor de seguros, por exemplo, deve ser destaque com a implementação da quarta fase.
“O setor que ganha mais destaque nesta fase é o de seguros, movimento também conhecido como open insurance, pois a maioria dos brasileiros não tem acesso a este tipo de serviço, e quando os utiliza, tem uma experiência muito ruim. Aqui mais uma vez temos a possibilidade de utilizar o compartilhamento de dados a favor do cliente”, afirma.
Wagner Ferreira, presidente da fintech Teddy Open Banking, avalia que a integração desses produtos deve aumentar a competitividade entre fintechs e bancos.
“Fintechs que atuam com o mercado cambial também terão a chance de competir com grandes bancos. Teremos um ecossistema com o open banking muito concorrido, no qual o atendimento, melhor oferta, agilidade e tecnologia farão a diferença”, diz.
Ferreira ressalta que a adesão ao open finance pela população será de forma gradativa.
“O compartilhamento de dados acaba gerando uma certa desconfiança nos consumidores, fazendo com que eles imaginem que é importante apenas para a instituição financeira. Mas não é bem assim, ele terá grandes benefícios ao compartilhar esses dados, pois terá mais ofertas de produtos, serviços e taxas mais atrativas de forma totalmente segura e criptografada com certificação digital”, pondera.
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CRONOGRAMA DA QUARTA FASE DO OPEN BANKING
– 15 de dezembro de 2021: Início das certificações das instituições participantes
– Até 4 de março de 2022: Integração de seguros, previdência complementar aberta e capitalização
– Até 11 de março de 2022: Integração de serviços de credenciamento em arranjos de pagamento (maquininhas de cartão)
– Até 18 de março de 2022: Integração de operações de câmbio
– Até 25 de março de 2022: Integração de produtos de investimento