O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central considera o ritmo atual de alta de juros adequado para levar a inflação e as expectativas às metas em 2022 e 2023, mas avalia que a taxa básica deve permanecer acima projetado pelo mercado durante o período.
Antes da reunião, economistas esperavam que a taxa básica de juros (Selic) avançasse a 11,75% ao longo de 2022 para depois iniciar um ciclo de queda, com 11,25% até dezembro e 8% ao fim de 2023, segundo a pesquisa Focus. Esse foi o cenário utilizado na simulação do BC.
Com isso, a autoridade monetária indica que os juros devem ficar acima de 11,75% no próximo ano e de 8% ao final de 2023.
A pesquisa Focus é feita pela autoridade monetária semanalmente. Nela, o BC coleta as projeções de economistas de instituições financeiras e casas de análise para os principais indicadores da economia, entre eles inflação, PIB (Produto Interno Bruto) e taxa de juros, para os próximos quatro anos.
“O Copom avaliou que, considerado esse viés devido à assimetria de riscos, suas projeções se encontram acima da meta tanto para 2022 como para 2023. Diante desse resultado, o Copom concluiu que o ciclo de aperto monetário deverá ser mais contracionista [juros mais altos] do que o utilizado no cenário básico por todo o horizonte relevante”, ressaltou a ata da última reunião divulgada nesta terça-feira (14).
No horizonte relevante -para quando o BC entende que a política monetária faz efeito- as expectativas de inflação vêm crescendo. Para 2022 e 2023 as projeções estão em 5,02% e 3,46%, respectivamente, ambas acima do centro das metas para os períodos, de 3,5% e 3,25%.
Para o próximo ano, o número já está acima do máximo permitido no intervalo de tolerância, que é de 5%.
“Quanto ao balanço de riscos, o Comitê ponderou que o risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, derivado dos desenvolvimentos no cenário fiscal, indica que há viés altista para as projeções do seu cenário básico”, disse a ata.
Na semana passada, o Copom elevou a taxa básica novamente em 1,5 ponto percentual, a 9,25% ao ano. No comunicado, o BC indicou nova alta de mesma magnitude para próxima reunião, em fevereiro, para 10,75% ao ano.
O ciclo atual de alta da taxa básica é o mais agressivo desde 2002, com elevações bruscas, e é o que terá maior diferença entre a taxa inicial e a final desde a criação do sistema de metas para inflação, em 1999.
O choque de juros é uma resposta do BC à escalada de preços observada desde o fim do ano passado e às sucessivas revisões para cima das expectativas de inflação para o próximo ano.
Apesar de não ter acelerado o ritmo de alta da Selic, o BC subiu o tom em relação ao aperto monetário na última decisão. O Copom admitiu pela primeira vez que as expectativas estão desancoradas e indicou que continuará subindo juros não só até que a inflação desacelere, mas que também as projeções do mercado para os próximos anos estejam ao redor da meta.
Acelerar o ritmo seria subir os juros acima dos 1,5 ponto percentual por reunião.
A autarquia reforçou no comunicado que a Selic deve chegar a nível “significativamente contracionista”. Ou seja, bem acima do juro neutro (que não aquece nem contrai a economia).
Nesta semana, após tom mais duro do BC no comunicado, o mercado subiu a projeção para a Selic em 2022 para 11,50% e manteve 8% para 2023.
As projeções do BC para inflação são de 10,2% para 2021, 4,7% para 2022 e 3,2% para 2023. A análise foi feita com a taxa de juros da pesquisa Focus, em que são divulgadas expectativas do mercado, e taxa de câmbio partindo de R$ 5,65.
“Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 16,7% para 2021, 3,8% para 2022 e 5,2% para 2023. Adotam-se bandeira tarifária ‘escassez hídrica’ em dezembro de 2021 e a hipótese de bandeira tarifária ‘vermelha patamar 2’ em dezembro de 2022 e dezembro de 2023”, afirmou o texto, em relação às medidas que impactam a conta de energia para mitigar os efeitos da crise hídrica.
O Copom avaliou o ritmo apropriado de elevação dos juros com cenários alternativos.
“O comitê também comparou cenários envolvendo ritmos de ajuste maiores do que o de 1,50 ponto percentual com cenários em que a taxa de juros permanece elevada por período mais longo do que a implícita no cenário básico”, destacou a ata.
“Com base nesses resultados, os membros do Copom debateram a estratégia mais apropriada. Concluiu-se que o ritmo de ajuste de 1,50 ponto percentual, neste momento, é adequado para atingir, ao longo do ciclo de aperto monetário, um patamar suficientemente contracionista para não somente garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, mas também consolidar a ancoragem das expectativas de prazos mais longos”, continuou.
No texto, o BC justifica que em seu cenário básico (com juros da pesquisa Focus e câmbio partindo de R$ 5,65), as Sobre a evolução dos preços, o BC detalhou na ata que a inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e tem se mostrado mais persistente que o antecipado.
“A alta nos preços dos bens industriais ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada”, disse o texto.
“As leituras recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos mais associados à inflação subjacente. Prospectivamente, a queda significativa dos preços internacionais de commodities energéticas, que têm exibido volatilidade substancial, limitou a revisão para cima das projeções de curto prazo”, pontuou.
Em relação à atividade econômica, os membros do Copom discutiram que o PIB do terceiro trimestre teve evolução “ligeiramente abaixo da esperada, apesar de as atividades mais atingidas pela pandemia terem continuado em trajetória de recuperação robusta”.
“Indicadores de mais alta frequência indicam recuo da atividade econômica, difundido entre vários setores, em setembro e possivelmente em outubro. No mesmo sentido, os índices de confiança já disponíveis para os meses iniciais do trimestre corrente mostram deterioração”.
Com isso, o BC revisou para baixo suas expectativas para o desempenho da economia no curto praz, que estavam em 4,7% para 2021 e 2,1% para 2022. A nova projeção deve ser divulgada nesta quinta-feira (16).
“Para 2022, se por um lado a elevação dos prêmios de risco e o aperto mais intenso das condições financeiras atuam desestimulando a atividade econômica, por outro, o Copom avalia que o crescimento tende a ser beneficiado pelo desempenho da agropecuária e pelo processo remanescente de normalização da economia -particularmente no setor de serviços e no mercado de trabalho- conforme a crise sanitária arrefece”, avaliou a ata.