Inflação preocupa mais que Covid? Confira o impacto

Veja o que o investidor deve considerar ao compor a carteira para 2022

 A variante ômicron do coronavírus derrubou bolsas de valores pelo mundo ao fazer o mercado lembrar que ainda não é possível descartar o risco de uma nova paralisação da economia. Após sinais de que a cepa pode ser menos letal do que outras, a inflação persiste como o efeito mais preocupante da pandemia para as finanças, dizem analistas.

Desabastecimentos provocados pela desorganização das cadeias de suprimentos nas fases mais agudas da crise sanitária global devem seguir pressionando preços e juros ao longo de 2022.
Isso exigirá investimentos mais concentrados na renda fixa, mas sem desprezar oportunidades nos mercados de risco.

Diversificação e cautela serão palavras frequentes no vocabulário de quem pretende se preparar para um ano que promete muita volatilidade nos mercados. Análises de infectologistas e virologistas sobre os rumos da pandemia passaram a fazer parte das leituras e diálogos diários de Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, principalmente após o surgimento da ômicron.

É com base nessas análises que ele avalia que o mercado provavelmente deixará o vírus de lado em 2022. “A preocupação sobre os preços dos ativos será muito mais voltada ao processo inflacionário que está ocorrendo em praticamente todos os países”, diz.

Ativos imobiliários são apostas do gestor em períodos de instabilidade. “Entre os ativos reais, os imobiliários estão muito descontados e, ao mesmo tempo, tendem ao bom desempenho em ambientes de crescimento econômico ou quando a taxa de juros para de subir”, diz.

Oscilações no câmbio também são mais do que esperadas em 2022, quando a temperatura da política promete subir ainda mais com a disputa pela Presidência da República. Na composição da carteira, ativos ligados a moedas fortes serão um trunfo. “Sugiro ao menos duas, mas o ideal é ter três: dólar, euro e iene”, diz Miraglia.

Também considerando um cenário de inflação em alta, Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, destaca ações de empresas ligadas ao setor de commodities. Com ativos reais e receitas dolarizadas, essas companhias “podem ser ótimas alternativas para uma carteira diversificada”, diz a analista.

As curvas de juros futuros apontam para taxas de dois dígitos nos próximos anos e, por isso, tornam certeiras seleções de títulos pós-fixados de curto prazo atrelados à Selic. Investidores avessos a oscilações podem destinar até 90% da carteira para ativos de renda fixa, aconselha Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos.

“A oscilação é o que está matando os investidores, mas com os juros chegando a dois dígitos, o conservador vai ganhar dinheiro”, diz Costa.

Para a parte restante da carteira, a distribuição da renda variável em ações de empresas brasileiras e do exterior, além do dólar, tendem a amenizar o sobe e desce do mercado. “Quando o dólar cai, a Bolsa sobe, então isso acaba neutralizando”, comenta.

A expectativa de manutenção da abertura da economia e de normalização do consumo coloca alguns dos setores mais descontados durante a pandemia como as principais opções no mercado de ações, segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

“Com a reabertura, a estratégia deve considerar ações dos setores ligados à logística, locadoras de veículos, empresas de viagens e companhias aéreas”, diz. “O setor de saúde também, porque as pessoas voltarão a realizar cirurgias eletivas.”

Empresas de varejo, porém, ainda poderão ser consideradas arriscadas porque são sensíveis tanto a eventuais fechamentos necessários para conter novas ondas da Covid, quanto ao aumento da inflação e dor juros. “Precificou-se um cenário muito benigno para essas empresas”, diz Borsoi.

Recomendações dos especialistas, o que o investidor deve considerar ao compor a carteira para 2022:

Renda fixa

– Títulos pós-fixados podem compensar parte das perdas com a inflação e garantem uma reserva de emergência.
– Alguns exemplos são Tesouro Selic, Trend DI Simples ou CDB que renda 100% da Selic, com liquidez diária.
– Uma parte menor da renda fixa deve considerar títulos prefixados atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA.

Bolsa de Valores

– O mercado de ações oscila, mas apresenta ganhos consistentes no longo prazo (dez anos ou mais, por exemplo)
– Prefira empresas sólidas e de setores essenciais aumentam a segurança do investimento.
– Companhias dos setores de infraestrutura, telecomunicações e energia estão entre as indicações.

Commodities

– Mercadorias básicas e matérias-primas também oscilam ao sabor dos mercados globais, mas são cotadas em dólar, o que é uma vantagem para os próximos meses de previsível volatilidade do câmbio.
– Empresas com produção distribuída e, principalmente, que exportam para várias regiões do mundo suportam mais facilmente problemas pontuais, como um surto local de Covid.

Reabertura

– As ações que mais sofreram na pandemia devem ganhar fôlego com a reabertura.
– Há oportunidades nos setores de viagens e transporte aéreo, por exemplo.

No exterior

– ETFs (Exchange Traded Funds) são fundos de investimentos que facilitam a aplicação em índices dos principais mercados globais.
– A opção mais simples e regularmente recomenda é por um fundo que acompanhe o S&P 500, referência do mercado americano.
– Em um cenário de elevação dos juros nos Estados Unidos e queda das ações, o fortalecimento do dólar frente ao real pode amenizar solavancos.

Ativos reais

– Aplicações em títulos lastreados na economia real, como bens imobiliários, são opções para a diversificação por serem capazes de se manter valorizados em um cenário de queda dos juros.
– No caso específico dos fundos imobiliários, a expectativa é de valorização em um cenário futuro de maior controle da inflação e de queda dos juros.