Apesar de a economia brasileira ter registrado dois trimestres seguidos de retração, ainda não é possível ter certeza de que o país está em recessão. Entre os economistas, a avaliação é que a situação é de estagnação.
Não há uma definição oficial sobre o que caracteriza uma recessão. Embora alguns economistas utilizem a métrica de que esse é o período marcado por dois trimestres seguidos de queda na atividade, a maior parte dos institutos considera uma análise mais ampla de dados.
O termo “recessão técnica”, por exemplo, é considerado tecnicamente equivocado por muitos economistas.
No Brasil, destaca-se a análise feita pelo Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), órgão ligado ao Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e formado por oito economistas de diversas instituições.
Para o comitê, o declínio na atividade econômica de forma disseminada entre diferentes setores econômicos é denominado recessão. Em junho do ano passado, o Codace definiu que o Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco crescimento de três anos (2017-2019). Não houve novo comunicado sobre a questão depois disso.
A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, afirmou nesta quinta-feira (2) que o instituto evita chamar variações de -0,5% a +0,5% do PIB de queda ou crescimento. “É uma variação pequena [a queda de 0,1% do terceiro trimestre] que para a gente é uma estabilidade.”
Ela disse que a definição de dois trimestres de queda do PIB como recessão não faz muito sentido do ponto de vista estatístico, nem é um conceito utilizado em outros países. Afirmou ainda que é necessário analisar um conjunto maior de dados para fazer essa avaliação.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, afirma que o país vive uma situação de estagnação, e não de recessão, pois projeta um quadro é de estabilidade no quarto trimestre e um crescimento de 0,5% em 2022.
“A gente está estagnado desde 2019. Mesmo antes o crescimento era muito baixo”, diz a economista, se referindo ao período pós recessão de 2014-2016.
O economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa diz que prefere esperar uma definição do Codace sobre a questão, mas afirmou que vê um quadro de recessão mais à frente. A instituição projeta queda de 0,5% do PIB para 2022.
“A economia está crescendo muito pouco na margem, próxima de zero. A nossa visão, olhando mais para o futuro, é de uma leve recessão. Não acho fácil dizer que já está em recessão agora. O Codace é uma das instituições que vão olhar não só o PIB, mas outros indicadores para definir isso.”
O economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, também considera que o quadro atual do PIB está mais para estagnação do que para recessão.
“Os números estão muito próximos de zero. A estagnação é nesse sentido. O que preocupa é o risco de irmos para uma situação ainda mais complicada, com um cenário inflacionário persistente, juros altos e riscos eleitorais no próximo ano.”