SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta quarta-feira (1º) que a Petrobras e os Correios estão em risco por causa das transformações em seus respectivos mercados e que a Eletrobras está condenada à insignificância por não ter recursos para investir.
Guedes defendeu que o governo siga buscando as privatizações e que o abandono dessa agenda pode custar ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) apoio nas eleições.
“Não podemos dizer que agora está todo mundo bem resolvido, está bom do jeito que está, parabéns. Não. Temos que nos superar, fazer muito melhor e continuar transformando a economia brasileira”, afirmou.
O ministro disse que as estatais viraram foco de corrupção e aproveitou para criticar, sem citar nomes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lula é o primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência nas eleições de 2022 e principal ameaça à reeleição de Jair Bolsonaro (sem partido).
“O futuro é verde e digital, não com a mão suja de graxa feito um ex-presidente que fica aí toda hora com a mão suja de graxa falando que quer a Petrobras de volta. De volta para quê, para saquear? De volta para quê, se o futuro é verde? Vai morrer sentado em cima desse petróleo valendo zero”, disse.
Para Guedes, é preciso acelerar a exploração diante do cenário e a lógica de vender logo para não perder o valor do ativo também se aplica à petroleira. “A Petrobras está sob risco. Daqui a 5, 10, 15 anos, o mundo vai fazer a transição para fora do petróleo, vai embora com o carro elétrico”, afirmou Guedes.
“Nós não estamos conseguindo tirar o petróleo do chão. Não sai na velocidade necessária para erradicar a miséria, a pobreza. Então nosso desafio é gerir bem as estatais, mas as encaminhando para o mercado”, disse.
Ao falar sobre a Eletrobras, Guedes disse que a estatal de energia precisa investir um alto valor nos próximos anos e não tem capacidade financeira. Ele afirmou que a empresa está “condenada à irrelevância” e que o problema não é só ela não conseguir investir, mas também impedir que empresas privadas invistam.
“A Eletrobras teria que investir R$ 15,7 bilhões todo ano só para manter o fornecimento de energia elétrica [em caso de crescimento mais expressivo do Brasil]. Ela só consegue investir R$ 3,5 bilhões por ano, então ela está condenada à irrelevância. Se o Brasil crescer, ela desaparece. Se o Brasil ficar pequenininho, parado, em recessão, ela continua importante”, afirmou.
Diagnóstico semelhante sobre o futuro foi feito em relação aos Correios, que o governo também quer vender. “Não existe mais carta, então os Correios vão ter que virar uma empresa de logística. E tem o risco de, daqui a dois ou três anos, estar irrelevante”, disse.
“Porque Mercado Livre, Magazine Luiza, todo o mundo que está fazendo vendas digitais está preferindo montar sua própria empresa de logística. Então ou vende ou perde valor”, disse.
Guedes afirmou em setembro que o plano do governo para um horizonte de dez anos contempla privatizar as estatais de maneira irrestrita, incluindo a Petrobras e o Banco do Brasil. Mesmo assim, ponderou que quem dá o timing para a realização efetiva das privatizações é a política.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou em 22 de novembro que o governo tem trabalhado pelas privatizações de empresas como Correios e Eletrobras e, ao lembrar que boa parte delas depende de aval do Congresso Nacional, reclamou que os processos não avançam.
O presidente disse que o processo de privatizações não consiste apenas em “botar na prateleira” e anunciar a compradores. “Grande parte delas passa pelo Parlamento. Nós estamos brigando pelos Correios, pela Eletrobras… Não anda”, afirmou.
A Eletrobras atualizou no mês passado o cronograma para a sua privatização, prevendo que a operação de “follow-on” ocorra até maio do próximo ano.
Já o projeto que trata da privatização dos Correios está pendente de votação na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.
Guedes já tinha sugerido as privatizações como uma das principais propostas durante a campanha eleitoral de 2018. “Estimamos reduzir em 20% o volume da dívida por meio de privatizações, concessões, venda de propriedades imobiliárias da União e devolução de recursos em instituições financeiras oficiais. Algumas estatais serão extintas, outras privatizadas e, em sua minoria, pelo caráter estratégico, serão preservadas”, afirmava o programa eleitoral de Bolsonaro em 2018.
Apesar disso, o ministro chega às vésperas do calendário eleitoral de 2022 sem vendas de empresas inteiras -embora os desinvestimentos tenham avançado dentro de empresas e suas subsidiárias, como no caso da Petrobras.
O próprio ministro já se disse frustrado por não ter cumprido o objetivo. “Estou bastante frustrado de estarmos aqui há dois anos e não termos conseguido vender nenhuma estatal. É bastante frustrante”, afirmou em novembro de 2020.