DUBAI, EMIRADOS ÁRABES (FOLHARPESS) – Um dia após ter defendido a decisão da Aeronáutica de unilateralmente reduzir a compra de unidades do cargueiro KC-390, o presidente Jair Bolsonaro fez juras de amor à Embraer, fabricante da aeronave.
“Continuaremos nos amando, tá ok?”, disse um sorridente Bolsonaro após conhecer por dentro uma unidade do cargueiro durante visita à Dubai Air Show, feira do setor aéreo que foi aberta neste domingo (14) no emirado do Oriente Médio.
A seguir, ele deu um abraço no presidente da Embraer Defesa, Jackson Schneider, e ganhou dele uma miniatura do avião.
As duas empresas, parceiras durante décadas no desenvolvimento de novos projetos aeronáuticos, entraram em uma disputa comercial na semana passada, após o anúncio de que a FAB reduziria o número de unidades compradas do cargueiro, uma das vedetes da Embraer e sua grande aposta comercial no momento.
O contrato de compra de 28 unidades será cortado para 15, com a justificativa de que há restrições orçamentárias para a Aeronáutica.
No sábado (13), também em Dubai, Bolsonaro havia defendido a decisão da FAB. “Não tem como comprar tudo aquilo. Temos que ter uma frota que possamos manter operacional”, disse o presidente.
A decisão do governo brasileiro representa um potencial desgaste de imagem para a empresa aérea, que tenta conquistar novos mercados para o avião. Até agora, além das unidades para o Brasil, foram vendidas cinco para Portugal e duas para a Hungria.
A visita do presidente à feira de Dubai, e ao estande da empresa, já estavam previstos antes de o imbróglio ser divulgado.
Para contornar o constrangimento, Bolsonaro fez questão de prestigiar a companhia durante sua visita. Ele circulou pela área em que os aviões da Embraer estão expostos e conversou com funcionários.
Acompanhando a comitiva presidencial, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, disse que a conversa com a Embraer para resolve o conflito prossegue.
“A negociação não foi encerrada, e isso foi o motivo de nós estarmos aqui [na feira]. Continuamos em negociação, vamos entrar num acordo”, declarou o ministro.
A Embraer informou, em nota, que está estudando “medidas legais” acerca do caso, e não comenta mais o tema. Uma justificativa é que ainda não foi notificada oficialmente da redução do contrato.
Nos bastidores, há conversas entre a direção da empresa e a Aeronáutica, para evitar uma situação de litígio.
A empresa, privatizada nos anos 1990, tem um histórico de colaboração com a FAB em diversos projetos.
Neste momento, por exemplo, estão em curso dois estudos de novos produtos: um veículo não tripulado, similar a um drone, que pode ser usado para fins civis e militares, além de um novo cargueiro, mais leve que o KC-390.
A princípio, a questão envolvendo o KC-390 é pontual, e não afeta as demais áreas de colaboração. Mas há o receio de que uma escalada na queda de braço afete o relacionamento entre as duas partes de forma permanente.