Renault muda posicionamento no Brasil

A companhia irá focar em modelos maiores e mais caros.

Carros populares serão coisa do passado na Renault. O presidente global da montadora, Luca de Meo, anunciou nesta quinta (11) o novo posicionamento da marca no Brasil. As novidades farão parte de um ciclo de investimentos que deverá ter início em 2022.

“Temos mudado muitas coisas, tomamos decisões muito duras, mas já vemos uma luz no fim do túnel, o pior ficou para trás. Nossas operações no Brasil estavam em uma condição muito complicada”, disse o executivo nesta quinta (11), durante visita à fábrica da Renault em São José dos Pinhais (PR).

“Como podemos voltar a crescer, vamos tentar posicionar a Renault em outro patamar de mercado. Não que iremos nos transformar em uma marca de nicho, mas teremos que focar em produtos de mais alto nível.”

A nova estratégia significa a aposentadoria dos modelos Logan e Sandero, que devem ficar em linha “por mais um par de anos”, de acordo com o presidente da montadora francesa. Esse caminho vem sendo percorrido por outras marcas no país, em uma troca de volume por rentabilidade.

A decisão da Renault inclui o lançamento de veículos “emissão zero”. Luca de Meo confirmou a chegada do Kwid elétrico ao país em 2022 e afirmou que, possivelmente, esse será o carro mais em conta da categoria. Essa posição é ocupada hoje pelo JAC e-JS1, que custa R$ 150 mil.

O presidente da montadora francesa afirmou que a nova estratégia vai integrar diferentes mercados por meio de produtos globais. “Não haverá países de primeira e de segunda divisão.”

Espera-se, portanto, que modelos de porte médio retornem ao Brasil, como a linha Mégane. Haverá ainda um bom número de utilitários esportivos, que devem chegar em opções híbridas e elétricas.

Luca de Meo, contudo, não quis revelar quais valores serão investidos no país para o lançamento de novos carros. O executivo garantiu que haverá muito conteúdo local, o que vai obrigar altos aportes na fábrica paranaense, que hoje emprega cerca de 6.000 funcionários.

Com a crise causada pela escassez de peças, em especial semicondutores, a Renault viu a produtividade despencar. Os resultados ruins levaram à abertura de um programa de demissão voluntária, que foi concluído em outubro com aproximadamente 500 desligamentos.

A marca registrou 94,5 mil emplacamentos entre janeiro e outubro no Brasil, uma queda de 8,2% na comparação com o mesmo período de 2020.

Embora tenham uma aliança global, os planos da Renault são independentes dos apresentados pela Nissan. A cooperação entre as marcas envolve troca de ações, mas é diferente de megafusões como a que reuniu PSA Peugeot Citroën e FCA Fiat Chrysler sob o guarda-chuva do grupo Stellantis.

A Renault vendeu 599 mil veículos mundo afora no terceiro trimestre. O número representa uma queda de 22,3% na comparação com o mesmo período de 2020 e é explicado pela crise dos semicondutores.

Luca de Meo calcula que a empresa deixará de produzir 500 mil carros neste ano devido aos problemas de fornecimento de componentes.

Já o faturamento caiu 13,4%, e a montadora explica que o resultado teria sido pior caso a empresa não tivesse apostado em produtos de maior rentabilidade. É essa estratégia que chega agora ao Brasil.

Além da marca francesa, outras montadoras têm anunciado investimentos com foco em produtos mais rentáveis.

Na sexta (5), a Volkswagen apresentou um novo ciclo no país, feito com capital local. Serão aplicados R$ 7 bilhões entre 2022 e 2026 no desenvolvimento de uma nova família de carros compactos.

O primeiro será o novo Polo Track, uma versão mais em conta do hatch que é produzido em Taubaté (interior de São Paulo). O lançamento está previsto para a linha 2023, já com o visual renovado. Com a chegada dessa opção, o Gol atual sairá de linha.

A General Motors passa por um ciclo de R$ 10 bilhões em investimentos, que inclui o desenvolvimento da nova picape Montana, que irá concorrer com a Fiat Toro.

O aporte havia sido anunciado em 2019, mas foi interrompido devido à pandemia e retomada no início deste ano. Pela previsão da montadora, esse ciclo deve se estender até 2024.

Na próxima semana, a BMW irá revelar um novo aporte na fábrica de Araquari (SC), onde monta a maior parte dos carros que vende no Brasil.

Os investimentos confirmam o que a Anfavea (associação das montadoras) tem dito: carros populares devem ser esquecidos, farão parte do passado da indústria nacional.

“O Brasil de dez anos atrás não é o país que veremos daqui a dez anos, pelo menos é o que eu espero”, disse Luca De Meo.

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O jornalista viajou a convite da Renault do Brasil