O Boletim Focus vem revelando um cenário de desesperança e desancoragem dos mercados com relação ao Brasil de 2022. Dentro dos ajustes feitos nas projeções, vale ressaltar o concomitante aperto monetário que, de maneira direta e indireta, influencia no prosseguimento dos resultados de variação do PIB e inflação para o próximo ano.
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O IPCA, que em outubro fechou dois dígitos no acumulado de 12 meses, foi projetado para 9,33%, perante os 9,17% da última segunda-feira. Percebe-se que diante do descontrole dos preços administrados (que devem fechar 2021 com alta de 17,3%) e as questões fiscais que atrapalham o rumo das expectativas, fica difícil esperar um índice de preços abaixo do que os relatórios têm trazido. O cenário para 2022 segue o projetado anteriormente com leve alta para 4,63% ao ano.
A SELIC, com a ata recente justificando os fundamentos da alta de 150 bps, segue o projetado na última reunião, à espera de mais uma alta semelhante a última, fechando o ano em 9,25%. Agora, para 2022, as projeções esperam uma taxa de 11% para o fim do próximo período. Como já é sabido, a taxa básica obedece fundamentos em seus canais de transmissão dentro dos índices e núcleos de preço, ou seja, esperar uma inflação maior resulta em projetar uma SELIC mais alta.
Câmbio e PIB apresentaram estabilidade nas estimativas das expectativas de mercado. Fechando as novas projeções em 5,50 USD/BRL e 4,93% a.a, respectivamente. Com preços em descontrole e instabilidade dentro do fluxo cambial, fica difícil acreditar nas projeções diretas sobre a variação do dólar. O Real (BRL) vem desempenhando negativamente e de maneira volátil em 2021, logo esperar um câmbio em patamar mais alto não seria uma surpresa. Para 2022, a variação do crescimento esperada foi menor do que a do último relatório. A taxa de crescimento foi revisada para 1% ao fim do próximo período.
Considerando a estabilidade de outros indicadores e taxas, fica evidente o cenário de desesperança na modelagem das expectativas de mercado. Até o momento presente, com populismo fiscal, desancoragem e questões diplomáticas em constante deterioração, a função do Boletim Focus tem sido a de “lapidar” e “esculpir” a face de 2022: crescimento nulo, inflação e juros altos.