Ciclo das Commodities e Vale

Agora é a hora de comprar ou chegamos ao topo?

Tenho visto muitas pessoas, profissionais de mercado ou não, especialistas ou entusiastas, comentando sobre o atual ciclo das commodities, principalmente em relação ao minério de ferro, muito pelo fato de a China estar preocupada com os jogos olímpicos de inverno, querendo deixar a “casa bonita” e o telhado/céu mais limpo/azul, ordenando para que as fábricas regionais diminuam a poluição e no que pese, a produção de aço, fora toda a justificativa de descarbonização em objetivos climáticos futuros, que o preço do mineral teria ainda mais espaço para cair.

Junte isso a uma desaceleração e quebra de empresas do setor de construção civil chinês, responsável por 50% do consumo de aço do país, e então chegamos ao “temido” fim do ciclo das commodities, ou pelo menos, fim do ciclo do minério de ferro. É claro que uma desaceleração do crescimento chinês se faz extremamente relevante para o presente e futuro das empresas e insumos amplamente consumidos como o minério de ferro, ainda mais levando em consideração que a cada ano que passe a China representa uma fatia mais representativa do PIB global, e assim sendo na dinamização de seu crescimento, com previsão de alcançar 20% por volta de 2026 (FMI).

 
 Fonte: Statista

Porém, o que a narrativa atual parece se esquecer é que a China, apesar de grande consumidora das commodities globais e especialmente minério de ferro (nosso foco aqui), não é a única. Se por um lado revisões estão sendo feitas quanto ao tamanho do crescimento previsto – e foque nesta palavra REVISÕES- por outro, devemos lembrar que tais revisões não significarão uma mudança para um campo negativo. Ou seja, ainda é esperado que o PIB global e de muitos outros países apresente crescimento tanto em 2021 quanto nos próximos anos.

A grande questão aqui é na dosagem do otimismo/pessimismo em relação a ambos, e não em uma questão binário de crescer ou não crescer.

 
Fonte: FMI

Assim sendo, os próximos anos continuarão a demandar mais de tudo. Mais minério de ferro, mais aço, mais cobre, mais níquel, mais petróleo, mais soja, mais trigo, mais de proteína animal, mais de tudo, e isso é um fato.

 
Fonte: World Steel Association

Fato corroborado pelo crescimento e tendência dos últimos anos, desde que o mundo é mundo. Fato corroborado pela expansão demográfica. Fato corroborado pela modernização e atualização da infraestrutura dos países e tecnológica. Ou seja, existe mil e um motivos para nos manter positivos quanto ao futuro econômico do mundo.

Sobretudo, após um período de limitações e “autoconfinamento” impostos pela pandemia do coronavírus, que por consequência acarretaram em ineficiências produtivas e industriais quanto a capacidade das empresas em produzirem e atenderem a demanda dos consumidores, seja por conta dos gargalos nas cadeias de suprimento ou pela falta de mão de obra por si só, preocupada com as condições e transmissões da doença.

E a Vale nisso tudo? Ou melhor, porque a Vale dentro do universo da bolsa local de outras empresas do setor e Basic Materials. O setor como um todo está muito barato, e arrisco dizer que seja atualmente o setor mais barato da bolsa, por conta das questões recentes da China.

A minha escolha pela Vale se dá, não apenas pelos números da empresa, e aqui poderíamos expor as métricas para fundamentar a tese, mas por todo o pacote que a empresa hoje apresenta, e gostaria de expor fundamentos que não apenas contábeis para “pintar” o cenário.

Não é de hoje que a Vale é uma empresa que se assemelha a uma máquina geradora de dinheiro, consolidada e com forte geração de caixa a empresa tem entregado dividendos vultuosos para seus acionistas, mas mais do que isso, após os desastres com suas barragens e frente ao rumo que o mundo tem tomado para com a sigla ESG -onde se cobra um grau maior de exigências e responsabilidades de meio ambiente, sociais e governamentais das empresas – a empresa vem apresentando uma evolução bastante significativa a respeito desta.

Com o recente lançamento do briquete verde, fruto de 20 anos de pesquisas e que poderá contribuir com a redução de até 10% de gases do efeito estufa na produção de aço das siderúrgicas, do recente anúncio de produção de níquel de alta qualidade no Canadá, com apenas 1/3 das emissões de CO2 em relação a média da indústria, ou dos anúncios de métricas de ESG a serem alcançadas e atreladas a remuneração da diretoria.

Ou seja, vemos que a empresa está no caminho certo. Caminho esse que é delineado também pela produção de outros metais que não somente o minério de ferro, e essenciais ao futuro “eletrificado” da sociedade, e da saída de segmentos com maior poluição, como o da produção de carvão.

Somando isso a uma ação que possui uma atratividade maior para o investidor estrangeiro e colocação em portfolios institucionais, se adequando ainda mais para aqueles que possuem restrições ESG, temos as justificativas para nossa escolha pela Vale – além das questões contábeis e econômicas, claro.

Assim sendo, a tese se mostra simples e se fundamenta nas seguintes perguntas:

Você acha que a tendência dos próximos anos é de crescimento econômico global?

Você acha que os investimentos em infraestrutura (principalmente das nações desenvolvidas) e de implantação de políticas econômicas Keynesianas irão impactar positivamente a demanda e o setor de commodities minerais?
Esta empresa possui alguma participação/produção de metais mais nobres usados na fabricação de baterias, turbinas eólicas, etc?

Com o mundo a favor da descarbonização, esta empresa está trabalhando para a redução de sua pegada de carbono e na produção de produtos que minimizem o mesmo para seus clientes?

Por fim, a grande e última pergunta para determinar uma possível compra na Vale ou qualquer outra empresa do setor é a seguinte:

“Será que chegamos mesmo ao fim do ciclo de alta das commodities, ou chegamos ao possível fim de uma “pernada”, ou ciclo de grau inferior ou do ciclo/tendência primária, com o ciclo e tendência de longo prazo ainda se mantendo vigente?”

Eu fico com a última opção…