BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os estrangeiros retiraram US$ 916 milhões do mercado de ações, fundos de investimento e títulos públicos brasileiros em setembro. Os dados foram divulgados pelo BC (Banco Central) nesta sexta-feira (22).
Este é o primeiro resultado negativo desde março, quando o país passou pela segunda onda da pandemia de Covid-19, com alta expressiva no número de casos e mortes, o que gerou instabilidade no mercado.
Setembro foi marcado por turbulências na bolsa de valores brasileira, com queda de 6,57% no índice Ibovespa, refletindo o agravamento de crises internas, com inflação e dificuldades na retomada do crescimento econômico, além de incertezas no cenário internacional.
No mês, investidores preferiram aplicações mais seguras e houve ingresso líquido de US$ 676 milhões (R$ 3,8 bi)em títulos públicos, mas a entrada não cobriu a saída líquida de US$ 1,6 bilhão (R$ 9 bi) de ações e fundos.
Segundo dados preliminares, até a última terça-feira (19), outubro permanece com resultado negativo nesse tipo de investimento, com saída de US$ 81 milhões (R$ 456,9 mi).
Em 12 meses, contudo, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos de US$ 41,6 bilhões (R$ 234,6 bi).
“É difícil saber a razão da saída porque por natureza são investimentos mais voláteis. A retirada ocorre após ingressos significativos [nos meses anteriores], que somam mais US$ 40 bilhões [em 12 meses]”, ponderou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.
Segundo ele, os investidores reduziram a exposição em renda variável e aumentaram em renda fixa, o que é normal em períodos de ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), que remunera a maior parte dessas aplicações.
“Em certa medida houve uma troca do investidor, que reduziu exposição em ações e aumentou em títulos. Essa troca de instrumento é normal quando há ciclo de aumento de taxa de juros, que torna títulos mais atraentes. Além disso, pode ter ocorrido movimento de realização de lucros [quando o investidor vende o ativo para incorporar os ganhos]”, ressaltou Rocha.
Em março do ano passado, quando o vírus chegou ao país, os estrangeiros retiraram US$ 22 bilhões (R$ 124,1 bi) do mercado de títulos brasileiro, que registrou resultados negativos até maio.
Esse tipo de investimento normalmente apresenta queda em meses mais turbulentos porque é muito sensível a crises momentâneas e ruídos.
Já os investimentos diretos no país somaram US$ 4,5 bilhões (R$ 25,3 bi) em setembro, abaixo da estimativa do BC de US$ 5 bilhões (R$ 28,2 bi). Em 12 meses, foram aportados US$ 50,4 bilhões (R$ 284 bi) no país.
Segundo Rocha, os investimentos diretos seguem com fluxos mensais fortes, que se mantêm acima de US$ 4 bilhões. “O valor ficou ligeiramente abaixo da estimativa do BC, mas se compararmos com o volume de setembro de 2020, de US$ 3,4 bi, houve aumento interanual de US$ 1,1 bi”, ponderou Rocha.
Em 12 meses até setembro de 2020 foi registrada saída líquida de US$ 36,9 bilhões.
Para outubro, a autoridade monetária projeta entrada de US$ 4 bilhões na modalidade. Em outubro, até a última terça, houve ingresso de US$ 2,42 bilhões.
Os investimentos diretos no país são feitos por empresas que estabelecem um relacionamento de médio e longo prazo com o país e são menos voláteis por envolver decisões mais duradouras.
O ingresso dessas aplicações no país foi impactado pela pandemia. Com a crise, esses investimentos despencaram em 2020. Em comparação ao ano anterior, o volume de aplicações caiu pela metade. Ao todo, foram aportados US$ 34,1 bilhões no país no período, contra US$ 69,1 bilhões no ano anterior. O número foi o menor desde 2009, quando foram investidos US$ 31,4 bilhões.
Os gastos de brasileiros no exterior têm crescido nos últimos meses. Em setembro, os turistas desembolsaram US$ 474 milhões, 57% acima do observado no mesmo mês do ano passado.
Para Rocha, o aumento vem do avanço da vacinação e a retirada de restrições para turistas em alguns países.
Os turistas estrangeiros gastaram US$ 236 milhões no Brasil no mês, crescimento de 43% na mesma base de comparação.
De acordo com o BC, em setembro as contas externas tiveram déficit de US$ 1,7 bilhão. Nos 12 meses, o resultado foi negativo em US$ 20,7 bilhões.
A projeção do BC para setembro é de déficit de US$ 4,2 bilhões em transações correntes.
A balança comercial teve resultado positivo de US$ 2,5 bilhões em setembro.
As exportações ficaram em US$ 24,5 bilhões no mês, aumento de 33,9% em relação ao mesmo período do ano passado. As importações somaram US$ 22 bilhões, alta 58,2% na mesma base de comparação.