CEO e Co-Founder da Company Hero, Miklos Grof bateu um papo com a BP Money para falar sobre inovação, principalmente no Brasil. Para ele, o país aplica muita inovação e tem um ecossistema muito forte.
A Company Hero, de acordo com ele, nasceu com o propósito de simplificar e facilitar a vida para quem quer ter um empresa no Brasil, com os conceitos de desmobilização e quebra de barreiras e burocracia na fase de legalização e proteção de negócios.
Acompanhe a entrevista na íntegra:
Você se considera um “gringo cidadão do mundo” por ter trabalhado em diversos países. Gostaria que você contasse um pouco da sua trajetória.
Com quatro anos me mudei para a Áustria com meu pai, porque ele trabalha na ONU, fez projetos em 90 países. Isso teve grande influência em como penso sobre o mundo. Estudei em uma escola internacional, com quatro anos de idade estava falando inglês na escola, alemão na rua e húngaro em casa. As pessoas na escola eram alunos de mais de 100 nacionalidades, então era impossível não ser um cidadão do mundo e perder um pouco o laço com o país materno.
Com 18 me mudei para a Inglaterra, onde estudei, trabalhei, morei 8 anos. Estudei Ciências Econômicas, depois fiz duas pós-graduações em finanças, trabalhando em consultoria na PricewaterhouseCoopers (PwC) durante a crise econômica de 2008-2009, participando em projetos de liquidação, falência, reestruturação, como o caso Lehman Brothers. 10 anos atrás me mudei para a América Latina, quis participar desse mundo de startups, que estava começando. Me mudei para o Chile, tive que aprender espanhol. Em 2014 me mudei para o Brasil, onde tive que aprender português, minha quinta língua. Tive que começar praticamente do zero, dormindo em sofás de pessoas que mal conhecia, tentando me virar criando empresas. Foi uma época muito enriquecedora para abrir ainda mais a minha ideia de que o mundo é muito pequeno e existem oportunidades em todos os lugares, e que as culturas são muito diferentes. Vindo das ciências exatas, era fascinante entender humanos para criar negócios. Também passei quatro meses nos EUA com meu atual sócio, para começar uma nova empresa, entender o Vale do Silício, mas decidimos voltar para o Brasil, onde passei 7 anos. Hoje estou em um lugar mais cinza e frio, em Manchester, mas também tem sido muito interessante para conhecer o mundo de startups nesta região.
Esses países estão muito à frente do Brasil em tecnologia e inovação? Se sim, por quê?
Sim e não. Tive muitas fases no Brasil, e o país mudou muito. No começo tentamos copiar tudo de fora, o que não era boa ideia porque as coisas que funcionam em um lugar não funcionam em outro. Depois tentamos focar em problemas locais, o que não necessariamente era muito inovador porque, às vezes, na América Latina e especificamente no Brasil existem problemas que não existem e não foram resolvidos em países considerados mais desenvolvidos por critérios como Human Development Index e outros. Nós não necessariamente estamos resolvendo problemas globais, de securitização humana, mas com certeza estamos aplicando as melhores práticas e tecnologias para os problemas que existem aqui. O Brasil aplica muita inovação, tem um ecossistema muito forte em inovação, que nasceu e surgiu do nada em uma velocidade furiosa nos últimos 10 anos. Os últimos 3 anos foram sensacionais para nosso ecossistema, muitos unicórnios. Então é isso, o país aplica muita inovação, mesmo que não seja com foco em novos problemas que a humanidade está trabalhando. Porém, mais e mais estamos vendo que estamos copiando cada vez menos e aplicando o melhor jeito e abordagem para o país.
Arte: BP Money
Tem soluções desenvolvidas no Brasil e que não existem no mundo e estamos tentando exportar isso, inovando. Por exemplo, agritech e fintech, estamos vendo mais e mais coisas que são daqui e podem ser levadas para outras partes do mundo.
No geral, na economia brasileira, coisas burocráticas são bem arcaicas ainda, particularmente coisas societárias, empresas, ambientes em que pagamos impostos e resolvemos trâmites, o mundo paralegal, tudo está bem atrasado em como deveria ser. Por que está assim? Porque ainda não chegou na inovação. Espero que a gente consiga entrar e mudar isso. O mundo de startup tem 10 anos, a tecnologia ainda não entrou em todos os nichos. No ramo de consumidor, com apps para resolver coisas do dia a dia, por exemplo, já é muito melhor. Na Hungria, apps do dia a dia são inferiores ao Brasil, por exemplo. No Chile também. No Brasil, serviços para usuários são mais inovadores.
Você é CEO e cofundador da Company Hero, tendo como objetivo simplificar e facilitar a jornada de empresas brasileiras. Como surgiu essa ideia e de que maneira sua companhia atua?
É a terceira empresa que tenho com o Diego, meu sócio. A jornada de abrir e formalizar negócios é difícil e no Brasil, particularmente, é muito engravatado, é um processo arcaico, e, por isso, cobram por ajuda, e todo mundo ganha em cima disso, gera muito emprego público e privado, é bem complexo. Não necessariamente é só um problema brasileiro, tem certas razões aqui, mas é global. Eu e Diego somos empreendedores e entendemos a dor, e temos conhecimento para solucionar esses problemas, vimos que pode ser mais fácil, alguns aspectos poderiam ser unificados para melhorar a experiência. Temos sede para melhorar algo que pode impactar milhões ou bilhões de pessoas. Isso nos encantou para dedicar nossas vidas, para solucionar esse contexto de complexidade de ter um negócio. Passamos um bom tempo pensando no que fazer e nós queríamos achar uma dor, um problema global, em que causaríamos um grande impacto em muitas pessoas.
E, ajudando PMEs, que geram 60% dos empregos formais no país, temos uma oportunidade de contribuir com a economia, empregabilidade, geração de valor, de serviços, de impostos. Estamos olhando essa jornada de formalizar um negócio, abrir empresa para poder emitir nota, a dor de quem quer ser mais profissional, quer ter logo e site, por exemplo, quer estar mais formal, registrar sua marca, reservar sob demanda salas inteligentes de reunião e de trabalho por todo o país, precisam de um número de telefone e atendimento da empresa. Queremos gerar mais serviços e benefícios que agilizem e simplifiquem a rotina de ter um negócio para nossos clientes, empoderar nossos afiliados e parceiros, contadores e advogados, também desburocratizando a parte paralegal dos seus processos e oferecendo esses serviços focados nos clientes deles.
Você participou do nascimento do ecossistema de startups e inovação pela América do Sul, no qual aconselhou e fundou diversas startups. Como foi essa experiência e como você avalia esse crescimento de startups no Brasil?
Esse processo mudou muito em dez anos. Em 2012 foi o começo, o Brasil estava muito bem, indo para uma economia mais focada em serviços e tecnologia. Começamos a ter uma classe média maior, o país começou a se mexer bastante no mundo de startups e aproveitou muito essa tendência. Começamos a ver muita experienciação. Muitos tentaram o que o Vale do Silício estava fazendo. Falhamos muito nesses produtos-cópia, isso deu certo em alguns casos e, em outros, não. Mas começamos a ver e focar em dores específicas para gerar receita e alcançar um público B2C. Tivemos uma fase em que muitas incubadoras começaram a focar no Brasil e tentaram digitalizar problemas de todas as classes e isso começou a dar muito certo, porque nossas soluções eram focadas em dores, então surgiu uma nova classe de empreendedor, e isso começou a dar fruto. E agora estamos em uma fase em que começamos a inovar e atender maiores dores com objetivo global. Já expandimos inovação para outros países, estamos perdendo nossa cultura de síndrome do vira-lata para um novo mindset: no Brasil temos um grande mercado, mas os empreendedores daqui também estão olhando globalmente. Acho muito interessante essa fase que começou cerca de 5 anos atrás, este é um timing perfeito para estar no Brasil e empreender.
A tecnologia tem facilitado a vida da humanidade cada vez mais. Como esse mundo digital auxilia no seu trabalho em uma empresa?
Muito, principalmente com pandemia, trabalho remoto. Poder fazer vídeo, reunião online, infinitas ferramentas facilitam nossa vida, apps para pedir comida, medicamentos. Não ir trabalhar presencialmente e se manter seguro em casa também pode ser produtivo. Podemos trabalhar, pedir algo, ter mais tempo livre para ficar em família, não pegar trânsito. O mundo digital facilita todos os aspectos da vida.
Quais seus projetos futuros, seja para sua carreira ou para a Company Hero?
Na Hero, criamos jornadas únicas para PMEs, para diferentes tipos de micro e pequena empresa que atendemos. Educamos e ajudamos a PME a não se sentir perdida, a ser empoderada, ter ajuda. Somos um pilar forte para PMEs e para ajudar o Brasil a estar em uma melhor posição do ranking doing business. Pretendemos focar nosso trabalho ainda mais em advogados e contadores para que eles possam ajudar PMEs, e a Hero ajudará também, direta ou indiretamente. Esses são os planos, olhamos para expansão nacional e internacional, e olhamos o timing para isso, com foco nos clientes e em suas dores. Como plano de carreira, pretendo me educar mais, ser um melhor executivo, CEO, os desafios mudam e ficam cada vez mais difíceis, e estou me dedicando para melhorar minha gestão sempre. Acredito em 3 pilares para uma boa gestão:
– Manter e atrair talentos, ter um ambiente que favoreça as personas que deseja impactar e fazer diferente.
– Definir a visão da empresa e ter uma comunicação interna boa e fluida. Ver para onde o mundo está indo para nunca se perder no caminho, não focar apenas na criação de produto.
– Ter dinheiro no caixa. Olhar para o modelo de negócio e captações.
Hoje estamos perto de 100 pessoas na empresa, no futuro, queremos ser mais de 1.000. E pessoalmente, me preocupo muito com problemas globais, principalmente questões climáticas. Quero, aos poucos, dedicar tempo para contribuir de alguma forma para que a humanidade possa existir de uma maneira mais sustentável, mudar como gera energia, como usa material. Adoraria oferecer mentoria, conselho ou ajuda para startups. Isso vem do meu pai, que trabalha na ONU, e espero contribuir assim.