SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um dia de altas consistentes nos principais mercados de ações globais, a Bolsa de Valores brasileira terminou esta quinta-feira (14) em baixa, colocando mais uma vez o país na contramão das principais economias.
O Ibovespa, que é o índice de referência da Bolsa, caiu 0,24%, a 113.185 pontos. O dólar subiu 0,09%, a R$ 5,5140 e só não avançou mais devido a uma nova intervenção do Banco Central por meio da venda de contratos de swap cambial.
Depois da oferta surpresa na véspera, que derrubou a divisa americana da máxima de R$ 5,57 para R$ 5,509, a autarquia realizou nesta quinta uma operação de 20 mil contratos distribuídos entre os vencimentos 1º de fevereiro de 2022 e 1º de junho de 2022.
A colocação de contratos de swap tradicional funciona como injeção de dólares no mercado futuro, reduzindo a pressão sobre o câmbio.
As incertezas sobre a capacidade do governo em equilibrar as contas do país às vésperas de um ano eleitoral estão entre as principais causas para a persistente alta do dólar e também para o fraco desempenho da Bolsa, segundo Zeller Bernardino, especialista em câmbio da Valor Investimentos.
“O swap desta quinta conseguiu derrubar o dólar abaixo de R$ 5,50 por um período, mas, apesar do cenário externo positivo, as incertezas internas voltaram a tomar conta e houve uma reversão de tendência”, diz Bernardino.
A alta do dólar agrava a inflação doméstica, que também é impulsionada pela alta de preços mundial impulsionada pela desorganização das cadeias de abastecimento durante a pandemia e pela alta nos preços dos combustíveis devido à redução na produção de carvão na China e à resistência em aumentar a produção de petróleo de integrantes da Opep (organização de países exportadores).
Sobre o noticiário econômico doméstico desta quinta, analistas consideram que o mercado deu pouco crédito às declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que disse ter vontade de privatizar a Petrobras, e à proposta aprovada na Câmara para reduzir o preços dos combustíveis por meio de mudanças na cobrança do ICMS (imposto estadual).
“O preço dos combustíveis subiu em função da conjuntura internacional, somado aos problemas fiscais brasileiros que se refletem no câmbio”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
“O Ibovespa não consegue acompanhar o otimismo global, em vez disso, reflete o pessimismo com os nossos riscos”, diz Leonardo Santana, analista da Top Gain. “Até os burburinhos sobre a privatização da Petrobras não trouxeram ânimo quanto aos papéis da estatal, mesmo com a alta do petróleo”, afirma.
As ações da Petrobras subiram 0,17%, abaixo do potencial para um dia em que o petróleo Brent, referência mundial, subiu 1,06%, a US$ 84,06 (R$ 462,22). No mesmo ramo, a PetroRio subiu 4,45%.
Os preços da commodity passaram a subir nesta quinta depois que a Agência Internacional de Energia informou que os preços recordes do gás natural aumentariam a demanda por petróleo e que a Arábia Saudita, o maior produtor de óleo, rejeitou pedidos de oferta adicional da Opep e aliados.
Nos Estados Unidos, os principais índices de Wall Street subiram depois dos grandes bancos terem reportado resultados trimestrais melhores do que o esperado. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiam 1,56%, 1,71% e 1,73%, respectivamente.
“Algumas das coisas que preocuparam o mercado em setembro, e mesmo na semana passada, no que diz respeito ao aspecto da inflação e a taxas de juros mais altas e à variante Delta, talvez tenham diminuído”, disse Alan Lancz, presidente da consultoria Alan B. Lancz & Associates Inc.
As ações europeias subiram ao nível mais alto em mais em duas semanas, com os investidores apostando que uma recuperação econômica constante diante da pandemia dará suporte aos balanços corporativos, apesar de sinais de inflação elevada.
As Bolsas de Londres, Paris e Frankfurt subiram 0,92%, 1,33% e 1,40%, respectivamente.