O mercado de viagens de negócios foi um dos que mais sofreram no último ano. O cancelamento de eventos e a substituição de reuniões por encontros virtuais provocou uma retração de 90% em 2020, segundo a Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas). Um nicho dentro do setor, porém, tem motivos para comemorar: as startups dedicadas ao turismo corporativo, que cresceram durante a crise.
Marcelo Linhares, 37, um dos fundadores da mineira Onfly, usou sua experiência como executivo de uma empresa de médio porte para formatar o negócio.
“Reservas e prestação de contas eram feitas de forma quase manual, com emails enviados para lá e para cá, e dependiam da intermediação de agências de turismo à moda antiga. Dava trabalho a vários funcionários e dificultava o controle de custos por parte do dono da empresa”, conta.
Em operação desde 2018, a empresa, criada por Linhares e seus sócios, Elvis Soares, 31, e Alain Ribeiro, 29, funciona como um Decolar corporativo.
Funcionários que têm autorização acessam o sistema, onde reservam passagens aéreas, carros de aluguel e hotéis. Prestação de contas, relatórios e reembolsos também são feitos na plataforma.
Pelo serviço, a Onfly cobra a partir de R$ 100 por mês, preço que varia conforme o número de usuários com acesso.
Depois de quase quebrar em abril de 2020, a empresa voltou a crescer dois meses depois, recebeu aporte de R$ 2 milhões da Cedro Capital e hoje fatura duas vezes mais do que antes. “Está mais fácil vender tecnologia agora. Antes, imperava o ‘sempre foi assim’, mas as empresas entenderam a importância de se digitalizar”, afirma Linhares.
Cliente da Onfly desde maio de 2021, o Grupo Zelo, especializado em planos funerários, fez um teste durante um mês antes de assinar o contrato.
“A economia foi de R$ 3.000, o que nos ajudou a tomar a decisão. Em três meses, a redução com custos de viagens já chegou a 7%”, diz Luiz Freesz, 33, gerente do grupo, que tem 3.000 funcionários e gasta cerca de R$ 150 mil mensais em passagens aéreas.
Além da economia, explica Freesz, a plataforma facilitou a operação. “Não preciso mais manter um departamento para cuidar das viagens.”
Fundada em 2017, a paulistana Smartrips também foi pensada para o nicho de viagens corporativas, mas o objetivo inicial era gerar economia por meio da mudança de comportamento dos funcionários.
A plataforma de reservas funcionava como um game -se a empresa permitisse gastar até R$ 300 por dia com hospedagem, mas o colaborador escolhesse pernoitar em um hotel mais barato, a diferença era convertida em prêmios.
Com o tempo, 15 funcionalidades foram adicionadas. O game foi mantido, mas hoje a Smartrips é uma plataforma completa de gestão de viagens corporativas, conta Caio Artoni, 28, que fundou a startup com Felipe La Porte, 29.
Diferentemente da Onfly, que opera com mensalidades fixas, a Smartrips cobra taxa de transação -por enquanto, R$ 20 por viagem. Em breve, porém, o sistema vai mudar. Serão cobrados R$ 8 por emissão, mais R$ 4 por relatório de reembolso.
O fluxo de vendas, diz Artoni, não chega a 30% do volume pré-pandemia, mas ele está confiante -pretende dobrar a equipe de 20 pessoas até o fim do ano e firmar uma parceria com uma empresa de viagens para melhorar o tarifário.
“As empresas vão otimizar os roteiros. Os bate e volta acabaram, porque são ineficientes. Mas outros, com orçamentos mais altos, vão permanecer.”