SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O temor de um retrocesso econômico causado pela variante delta do coronavírus derrubou os principais mercados globais nesta terça-feira (17).
O movimento de aversão ao risco, que já havia causado volatilidade nas Bolsas do mundo na véspera -quando uma onda de preocupações atingiu os agentes de mercado depois de dados industriais e de consumo da China terem vindo abaixo do esperado-, ganhou força nesta terça depois de os Estados Unidos reportarem uma queda de 1,1% nas vendas do varejo em julho, ante a estabilidade esperada pelo mercado.
“O desempenho aquém do esperado foi justificado pelos impactos da variante delta do coronavírus na economia e, levando em conta que as Bolsas [internacionais] estão mais próximas das máximas do que das últimas mínimas, qualquer sinalização de retrocesso econômico acaba gerando uma correção”, afirmou o analista da Clear Corretora Rafael Ribeiro.
Durante a tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, chegou a afirmar que os impactos da variante delta na economia americana ainda não estavam claros e que é possível que a Covid-19 continue com a sociedade por algum tempo. Mas logo sinalizou que apesar de gradual, a retomada segue no caminho certo.
“A fala deu um alívio para os mercados. De uma forma ou outra, a sinalização é que Powell segue cauteloso sobre a recuperação da economia e não deve forçar a retirada de estímulos como vinha sendo precificado pelo mercado”, disse Ribeiro.
Enquanto isso, no ambiente doméstico, questões políticas e fiscais seguem no radar dos investidores.
“Temos tensões políticas, a pauta da reforma do Imposto de Renda em voga novamente e novos estudos indicando que Bolsonaro está perdendo a aprovação do mercado enquanto o Lula ganha força para as eleições de 2022, o que traz um certo receio do investidor perante o Brasil”, afirmou o especialista da Valor Investimentos Charo Alves.
Para o especialista, há indicações de um aumento da taxa básica de juros tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, o que tende a migrar investimentos da renda variável para a renda fixa, impactando nas Bolsas.
“Caso a Selic [taxa básica] termine o ano acima de 7,5%, por exemplo, teremos vários ativos de renda fixa entregando bons retornos ao ano com um risco baixo”, disse Alves.
Segundo os especialistas, no ambiente doméstico, os investidores ainda devem manter no radar a próxima reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] -que acontece nos dias 21 e 22 de setembro-, e o desenrolar das tensões políticas entre o Judiciário e o Executivo.
Por aqui, o Ibovespa, principal índice acionário do país, encerrou a sessão desta terça-feira (17) com queda de 1,07%, aos 117.903 pontos, no menor patamar desde abril. No ano, a Bolsa também volta a ficar no vermelho, acumulando uma perda de 0,94%.
A maioria das blue chips (ações de empresas já consolidadas e de grande volume negociado na Bolsa), terminaram o pregão em queda. As ações da Petrobras recuaram 0,64% (ordinárias, com direito a voto) e 0,96% (preferenciais, sem direito a voto), apesar das altas nos preços do petróleo no exterior.
Vale também esteve entre as maiores pressões de baixa do Ibovespa e registrou queda de 1,65%, acompanhando a queda nos preços futuros do minério de ferro na China. O sinal negativo também prevaleceu no setor financeiro, com agentes monitorando as possíveis mudanças tributárias com a reforma. O destaque negativo foi com o Santander, que caiu 1,05%.
Em Wall Street, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram 0,79%, 0,71% e 0,93%, respectivamente. O Euro Stoxx, um dos principais índices acionários europeus, fechou em queda de 0,14%.
No câmbio, o dólar à vista registrou queda de 0,26% ante o real, a R$ 5,2670, ignorando a força que a moeda ganhou no exterior diante da maior aversão ao risco dos agentes financeiros.
Segundo especialistas, o recuo da divisa foi influenciado por um ajuste de preços depois da alta da véspera, com os investidores também entrando em força de venda depois de a moeda atingir os R$ 5,3040 (máxima do dia).