RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O volume do setor de serviços no país avançou 1,7% em junho, na comparação com maio. Foi a terceira elevação consecutiva, apontam dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (12).
Com o resultado, o setor ampliou o distanciamento frente ao nível pré-pandemia: está 2,4% acima de fevereiro de 2020. Conforme o IBGE, o segmento também alcançou o patamar mais elevado desde maio de 2016.
Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do instituto, relatou que o desempenho tem sido puxado por serviços ligados à área de tecnologia e que dependem menos do contato direto com clientes. Durante a crise sanitária, atividades dessa natureza ganharam força com o isolamento social, provocando uma ?mudança estrutural? no setor, frisou Lobo.
No primeiro semestre de 2021, o volume de serviços acumulou alta de 9,5%. Em 12 meses, a elevação foi menor, de 0,4%.
Na passagem de maio para junho, a alta de 1,7% foi acompanhada pelas cinco atividades pesquisadas. Os destaques vieram das expansões de serviços de informação e comunicação (2,5%), transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (1,7%) e serviços prestados às famílias (8,1%).
O ramo de informação e comunicação, estimulado pelo isolamento social, alcançou o ponto mais alto de sua série, iniciada em janeiro de 2011. Já a atividade de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio registrou o nível mais elevado desde maio de 2015.
Os serviços prestados às famílias, mesmo com a melhora recente, ainda estão 22,8% abaixo do patamar pré-pandemia. O segmento inclui a atividade de alojamento e alimentação, bastante afetada pelas restrições em razão da Covid-19.
?Embora todas as atividades tenham avançado [em junho], esse resultado se deve, principalmente, a um conjunto de serviços que se beneficiou da própria pandemia ou não foi tão afetado por ela. São setores mais dinâmicos, mais focados em inovação, em capital, do que em mão de obra, que conseguiram se reposicionar aproveitando as oportunidades geradas pela pandemia, dado o efeito que ela teve na atividade econômica?, avaliou Lobo.
O analista indicou que o avanço da vacinação contra a Covid-19 traz uma dose de alívio para os serviços prestados às famílias, mas a recuperação consistente ainda é desafiada por uma combinação de fatores. Nesse sentido, desemprego em alta, perda de renda e riscos sanitários seguem como ameaças para negócios como restaurantes e hotéis, sinalizou Lobo. ?São variáveis determinantes?.
Lobo destacou ainda que empresas em alta na pandemia, incluindo parte do setor tecnologia da informação, têm caráter menos intensivo em mão de obra do que serviços prestados às famílias. Assim, os impactos da crise tendem a gerar uma concentração maior de renda, com ?efeito multiplicador? menor dos ganhos, concluiu o analista.
Na passagem de maio para junho, os serviços profissionais, administrativos e complementares subiram 1,4%, enquanto o ramo de outros serviços avançou 2,3%.
Com o início da pandemia, em 2020, a prestação de serviços foi afetada, já que reúne atividades que dependem da circulação de clientes, contato direto e aglomerações. Hotéis, bares, restaurantes e eventos fazem parte da lista.
Nesta quinta, o IBGE também informou que, em relação a junho de 2020, o volume do setor subiu 21,1%. No sexto mês do ano passado, serviços diversos sofriam os reflexos do baque inicial do coronavírus.
Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam crescimento de 18,2% nessa base de comparação.
A recuperação dos serviços é considerada peça necessária para a retomada do mercado de trabalho. O setor é o maior empregador no país. No trimestre até maio, dado mais recente disponível, a taxa de desocupação foi de 14,6% no Brasil. Havia 14,8 milhões de trabalhadores desempregados à época.
Outra ameaça ao consumo das famílias vem da escalada da inflação. Nos últimos meses, os preços têm sido pressionados pela energia elétrica mais cara. A conta de luz ficou mais alta devido à crise hídrica, que encarece os custos da geração de energia.
O IBGE também divulgou neste mês o balanço de outros dois indicadores setoriais: produção industrial e vendas do comércio.
A produção das fábricas ficou estagnada em junho, com variação nula (0%) frente a maio. A indústria, diz o IBGE, ainda sofre com a escassez de insumos e a demanda fragilizada.
Já o comércio amargou baixa de 1,7%. Na visão de analistas, o recuo refletiu, em parte, o avanço do desemprego e da inflação.