Quais foram os impactos da Olimpíada de 2016 no bem-estar da população do Rio de Janeiro? É a partir dessa pergunta que o economista Marcelo Neri e outros 13 especialistas escreveram o livro “Evaluating the Local Impacts of the Rio Olympics (Avaliando os Impactos Locais da Olimpíada do Rio, em tradução livre)”.
O lançamento ocorreu nesta semana, em meio à expectativa pela nova edição do evento esportivo, realizada em Tóquio, no Japão. Diretor do centro de estudos FGV Social, Neri foi o responsável pela organização do livro, além de ser coautor da obra, dividida em 16 capítulos.
À reportagem o economista afirma que, a partir de 2009, quando o Rio foi escolhido como a sede dos Jogos Olímpicos, o evento ajudou a reverter a “decadência” de uma série de indicadores de qualidade de vida da população carioca.
Nesse sentido, a competição contribuiu de alguma forma, até 2016, para a melhora em áreas como emprego e combate à pobreza, destaca o especialista em políticas sociais. A cidade, por outro lado, não conseguiu avançar em pontos como a despoluição da Baía de Guanabara, pondera Neri. O livro compara uma série de indicadores do período de 2009 a 2016 com anos anteriores.
“De modo geral, o livro mostra que o Rio vinha em decadência, mas, entre o anúncio da sede e a realização dos Jogos Olímpicos, houve uma inversão dessa tendência, em formato de V”, indica o economista.
Na última década, a capital fluminense também recebeu eventos como a Copa do Mundo, em 2014. O problema é que, segundo Neri, o Rio voltou a decair após a Olimpíada, sofrendo com uma combinação de fatores. Crise econômica, choque no setor de petróleo e casos de corrupção fazem parte dessa lista.
“Depois dos jogos, a percepção é de que o Rio se jogou para o outro lado do Olimpo”, define o economista, que foi ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Inicialmente, o livro organizado por Neri está disponível apenas em língua inglesa. A editora é a Routledge, de origem britânica. A versão em português deve sair até o final do ano.
Conforme o especialista, os preparativos da Olimpíada também tiveram papel importante para atenuar, no Rio, as dificuldades da crise que atingiu o país entre 2014 e 2016. À época, a economia brasileira perdeu fôlego e amargou período de recessão.
“Um ponto importante é que, na maioria das sedes dos Jogos Olímpicos, as economias vinham crescendo muito. O evento era como uma cereja do bolo. No caso do Rio, foi diferente, porque o Brasil entrou em recessão antes”, aponta. “A Olimpíada fez a diferença, teve uma contribuição para manter as rodas da economia girando. O problema é que, depois disso, o Rio voltou a decair. A informalidade aumentou no mercado de trabalho, houve uma série de inflexões”, completa.
Na visão de Neri, o legado da Olimpíada vai depender da gestão a ser feita nos próximos anos. “A gente aprendeu que o Rio também se escreve com W, porque tem muita flutuação de indicadores. A cidade vinha caindo, melhorou na maioria das dimensões com a Olimpíada, mas caiu depois. Se há legado ou não, depende da gestão que é feita. Essa é uma questão que tem de ser conquistada. Não é dada. Talvez a gente saiba o legado daqui a 10 ou 20 anos”, salienta.
Segundo o economista, a ideia do livro surgiu para mostrar se a competição gerou ou não uma virada nas condições sociais da cidade. “A Olimpíada é uma grande metáfora de superação humana. A de Tóquio será muito forte por conta da Covid-19. No Rio, pode haver dúvida sobre como os jogos serviram à cidade, mas a cidade serviu bem aos jogos, no sentido do palco e das histórias de vida reais. O Rio de Janeiro é muito mais próximo do que é o mundo na comparação com Tóquio ou Londres, que formam a elite mundial.”